Bem, é facto consumado. Agora, resta-nos continuar com as nossas vidas. Falo de Web Summit: acabou, e a cidade está finalmente livre dos logótipos gigantes. Lisboa safou-se sem muitos danos, e não terá mudado quase nada.

Vi vários minutos de Web Summit online, e o que vi foi mais uma de tantas conferências de TI. Sim, é maior do que as outras conferências, e os geeks (gUeeks) são elevados temporariamente ao nível de estrelas de rock (o que não é uma coisa má. Acredito que são os geeks que nos vão salvar… espero). Aprecio e entendo tecnologia, mas não aprecio nem entendo conferências. Fazem-me lembrar a história da roupa nova do Imperador, onde a “roupa nova” é substituída por “Incríveis Novos Percepções e Conhecimentos”, mas vá lá. As conferências são uma boa maneira de sair do escritório durante uns dias, esticar as pernas, ver umas quantas caras diferentes, e, ao fim do dia, ter uma desculpa para beber bastante, depois do sofrimento de ouvir tanta gente a falar de tanta coisa entediante.

Depois do “hype” e da antecipação, quase toda a gente em Lisboa parece ter confrontado Web Summit com uma boa dose de cinismo. Quase toda a gente, menos o primeiro-ministro, com a sua tentativa de fazer um discurso motivacional, em que pôs aqueles olhos expectantes de “espero que agora o Google se mude para cá”. Outra excepção, foi o Presidente da Câmara Municipal, muito agitado a oferecer a chave da cidade ao Paddy Cosgrave. Que grande benefício terá feito Cosgrave a Lisboa? Pagou alguma fee por usar a cidade como paisagem de fundo das suas conferências? Eu gostava de perceber quanto custou a Lisboa (e não a Cosgrave) receber Web Summit. Gostaria também de saber as razões porque Dublin está tão feliz por se ter livrado da Web Summit. Não se esqueçam que ainda temos pelo menos duas conferências Web Summit para receber em Lisboa.

Ao dar a chave a Cosgrave, Fernando Medina deu-lhe a entender de que o seu projecto de anexar e colonizar a cidade com os seus logotipos é bem vindo. O presidente da câmara deu ainda um passeio com o grande irlandês, enquanto o grande irlandês se filmava para o Facebook a explicar que estavam a caminho do “Barrio Alto” (já que, como todos sabemos, Portugal é indistinguível da Espanha e/ou do México). Medina andava ao lado do irlandês, a saltitar para entrar de vez em quando no plano da câmara, como o antigo boneco de Marques Mendes no Contra-Informação.

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Tenho vários amigos, jornalistas de tecnologia, que vieram assistir a conferência esta semana, e perguntei-lhes se a Web Summit ou qualquer outra das conferências a que assistem ao longo do ano fazem diferença a qualquer coisa. “Sim”, disseram me, “fazem. Pessoas conhecem outras pessoas, ao vivo, o que é bom. Fazem negócios. Gente de start-ups que não consegue passar a recepcionista de uma grande empresa em San Francisco pode, na conferência, chegar à fala, por acidente, com o CEO dessa mesma empresa, e vender-lhe a start-up. Bem, provavelmente também existem muitos bebés Web Summit a nascerem no mês de julho seguinte — e um bebé é sempre uma coisa boa.

Óptimo, mas perguntei ainda se estas conferências de tecnologia (há muitas, pelo mundo todo) beneficiam de algum modo as cidades que as recebem? Depois de uma semana divertida, com cerveja barata e boa comida, há empresas grandes e poderosas a instalar-se na cidade? Ou a comprar outras empresas ou a desenvolver parcerias locais? A resposta foi: “Hum…. não, nem por isso”.

Eu gostaria muito se Lisboa se tornasse uma espécie de Meca da tecnologia (embora isso significasse também que a cidade se iria tornar cara demais para os Lisboetas viverem: veja-se o caso de San Francisco). Temos por cá talento e habilitações, “coders” e “designers” brilhantes, e a vontade de procurar soluções. Mas — e espero que seja eu a estar enganada — não fiquem à espera de ver desembarcar grandes investimentos. É pouquíssimo provável que as grandes empresas, de tecnologia ou de outra área, optem por vir cá. Porque viriam, quando Portugal é um país onde é tão caro e tão complicado empregar pessoas, e é tão caro fazer dinheiro? Que teriam a ganhar? E, em Lisboa, para onde é que iriam? O centro da cidade obviamente não os poderia conter, e os arredores, que não têm lá muito bom aspecto, já são um labirinto de congestões de tráfego todos os dias.

No máximo, o que pode sair da Web Summit é uma mão cheia de “nómadas digitais”, que decidam instalar-se por cá durante uns tempos, a gerar rendimentos para outrem, e a pagar impostos nas suas terras de origem. Além disso, haverá talvez mais uns quantos artigos de jornal, daqueles que os portugueses gostam muito de partilhar, a elogiar a “incrível Lisboa”, escritos por jornalistas que, antes da semana que agora passou, nunca tinham ouvido falar de Portugal. Os sonhos do governo e do município sobre os enormes benefícios e vantagens que vamos tirar da Web Summit, nunca passarão de sonhos. Não vão acontecer. Para Lisboa, a Web Summit nunca significará mais do que um pouco mais de turismo em Novembro. Mas, enfim, pelo menos desta vez não tivemos de aturar o Bono.

Traduzido do original inglês pela autora. Lucy Pepper é autora do livro “Como não morrer de fome em Portugal” (Objectiva).

Web Summit is not going to make anything happen in Lisbon

It’s time to accept it. It has happened. It is done. We just need to get on with our lives. Web Summit is over, the giant logos are gone. Lisbon is left unscathed and it will have changed almost nothing.

I watched snippets of Web Summit online, and from my end, it was just like all other tech conferences, just bigger and where geeks are elevated to temporary rock star status (not a bad thing. It is the geeks who will save us… I hope). I *get* tech, I just don’t *get* conferences. To me they’re mostly a kind of Emperor’s New Clothes, where the “New Clothes” are “Amazing New Insights and Information”, but hey, they’re a good way to get away from your desk for a few days, stretch your legs, see some different faces, and drink quite heavily in the evenings after really long boring days of listening to other people talking.

After all the hype and excitement, most of Lisbon seemed to take Web Summit in its stride with a healthy dose of cynicism, except for the prime minister with his attempt at motivational speaking and expectant “I hope Google moves here” look in his eye, and the mayor who excitedly handed the key to the city to Paddy Cosgrave in return, apparently, for Cosgrave paying the city some massive favour… or fee. I would love to know how much it cost Portugal, not Cosgrave, to host Web Summit. I would love to know the real reason why Dublin got tired of hosting it, too. Don’t forget we have at least two more Web Summits to pay for.

Medina, having given a concrete signal (the key) to Cosgrave that he was welcome to appropriate the city with his giant logos everywhere, went for a stroll with the big man, while Cosgrave filmed himself explaining that they were on their way to “Barrio” Alto (because, as we all know, Portugal is indistinguishable from Spain and/or Mexico). Medina walked by his side, popping into the frame, looking for all the world like Marques Mendes’ puppet in Contra-Informação.

I have several tech journalist friends who came to Lisbon this week and I asked them if Web Summit, or any of the other tech conferences they go to through the year make a difference to anything. Yes, they said, they do. People get to meet each other, face to face, which is a good thing. They do deals. Start ups who can’t get past a CEO’s receptionist in San Francisco can accidentally get spotted by the CEO at the conference and get bought out after a five minute chat. Hell, there’s probably a Web Summit baby or two born each year in the following July, and babies are always a good thing.

Good, then, but does any good come of these tech conferences (there are many, world wide) for the hosting city? Having had a fun week, cheap beer and some good food, do large powerful companies tend to decide that here is a great place to set up a new branch? Do they come and buy out companies or make partnerships in the host city?…. the answer: “Er… no, not really”

I’d love it if Lisbon were to become some kind of tech Mecca (as long as it didn’t help make Lisbon too expensive for Lisboetas to live in: see San Francisco). We have the talent, we have incredible coders and designers, and the drive to find solutions but, and I hope I am wrong, don’t hold your breath for any big investment coming this way. Big companies, tech or otherwise, are extremely unlikely to set up shop in Lisbon. Why would they, when it is so expensive and complicated to employ people and so expensive to make money? What would be the point for them? And where in Lisbon would they go? The city centre is out of the question… and everywhere else in the outskirts already fills the motorways to capacity every day.

At most, what might come out of Web Summit is a handful of “digital nomads” relocating here for a while, making revenue for someone else, and sending their taxes to wherever home is, and maybe a few more columns extolling the extreme greatness of Lisbon written by journalists who had never heard of Portugal before last weekend. But the rest of the government’s hopes and dreams about the benefits of Web Summit? They ain’t going to happen. For Lisbon, Web Summit won’t mean much more than extra tourists in November. But, hey, at least Bono didn’t come.