Considerados uma espécie em perigo de extinção, os pandas são uma das imagens de marca da China. São tesouros nacionais e uma das grandes armas diplomáticas da China: são oferecidos aos parceiros comerciais como símbolo de agradecimento e servem como moeda de troca quando as relações bilaterais ficam mais tensas.

A diplomacia dos pandas surgiu oficialmente durante a Guerra Fria, quando a China oferecia pandas aos países com quem tinha interesse em formar alianças estratégicas. Mas a importância dos pandas já vem do passado milenar da China. Na dinastia Tang (618-907) dois pandas foram oferecidos ao imperador do Japão pela imperatriz chinesa Wu Zetian, com o intuito de estimular as relações entre os dois impérios.

Foi Mao Tsé-Tung, o primeiro presidente chinês após a proclamação da República Popular da China, que inaugurou a primeira fase da era moderna da diplomacia dos pandas, no final dos anos 50. Reconhecendo o valor diplomático destes animais, a China decidiu oferecê-los, com o objetivo de aprofundar estrategicamente algumas amizades. Assim, os primeiros a receber um panda foram Nikita Khrushchev, presidente da URSS, e Kim Il-Sung, presidente da Coreia do Norte. Anos mais tarde, os EUA e o Reino Unido. No total, entre 1957 e 1983, a China ofereceu 24 pandas a nove países.

A segunda fase da diplomacia dos pandas teve como protagonista Deng Xiaoping, o pai do período de reformas e abertura económica que a China conheceu nos anos 80. Depois de 1984, o interesse geopolítico deu lugar ao interesse financeiro: os pandas continuavam a ser uma grande atração para os jardins zoológicos internacionais e, para a China, esta era uma oportunidade de ouro em termos financeiros. Os pandas deixaram de ser ofertas e passaram a ser empréstimos, cujo valor mensal a ser pago à China podia ascender a uma pequena fortuna.

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Este programa de empréstimos tornou-se um tema controverso, já que em 1984 a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou o panda como uma espécie em perigo. Por outro lado, no mesmo ano, a Convenção para o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Ameaçadas legislou que a troca de pandas devia ser permitida apenas para fins científicos e para garantir a sobrevivência da espécie. Assim, em 1991 a China abandona o sistema de empréstimos a curto-prazo e adota um sistema de empréstimos a longo prazo, cujas taxas são direcionadas para programas de reprodução.

A terceira fase da diplomacia dos pandas começou depois do violento sismo que, em 2008, abalou a província de Sichuan, situada na parte ocidental da China. O terramoto destruiu 67% do habitat dos pandas selvagens e os 60 pandas que se encontravam na reserva de Wodong, em Sichuan, tiveram de encontrar lares adotivos temporários. O empréstimo de pandas para os zoos internacionais tornou-se uma opção ainda mais atrativa para a China. Em 2007, a China tinha pandas em 11 zoos espalhados pelo mundo. Em 2014, são 18 os jardins zoológicos que acolhem estes embaixadores chineses.

De acordo com Kathleen Buckingham, estudante da Universidade de Oxford, há um padrão que explica o timing dos empréstimos dos pandas: os animais eram enviados após a assinatura de acordos comerciais, de forma a expressar o desejo chinês em construir uma relação comercial de longo prazo. A China enviou pandas para Singapura depois da assinatura do tratado de livre comércio com a ASEAN, uma organização regional de estados do sudeste asiático. O envio de pandas para a França e para a Austrália também não é por acaso: ambos são estados com domínio tecnológico nuclear e a China quer aumentar o seu domínio nessa área. Atualmente estão em construção 28 reatores nucleares no território.

Em 2012 a China prometeu à Malásia dois pandas, como reconhecimento pelo 40.º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países. A chegada dos animais a Kuala Lumpur, a capital malaia, estava prevista para abril mas a China adiou o seu envio depois do acidente com o avião MH370, que vitimou 239 passageiros, a maioria chineses. Feng Yi e Fuwa, os pandas em questão, chegaram finalmente à Malásia na passada sexta-feira.

A questão do soft power (a capacidade que um Estado tem para conseguir o que quer sem ter que recorrer à coação e ao poderio militar) tem sido amplamente discutida na China desde a sua ascensão a potência mundial. Os pandas representam uma importante fonte de soft power: aos olhos da comunidade internacional, e em comparação com outros símbolos nacionais, estes animais oferecem uma imagem mais apaziguadora da China.