Anna Wintour, editora da Vogue americana, é das mais recentes celebridades a juntar-se à polémica do momento. A ideia é boicotar o hotel parisiense Le Meurice, frequentado pela elite mundial da moda e membro da Dorchester Collection. Em causa está a violação dos direitos humanos em Brunei, cujo sultão é o dono da cadeia hoteleira.

Brunei, o pequeno sultanato do sudeste asiático, quer implementar um novo código penal. Condenar gravemente o sexo gay e o adultério são apenas algumas das medidas. As punições da Sharia, a lei islâmica, serão introduzidas em três anos, sendo que a primeira fase inclui multas e penas de prisão, explica a BBC. Amputações representam a segunda fase e uma terceira envolverá apedrejamentos por adultério e atos homossexuais, considerados crimes.

O sultão Hassanal Bolkiah, um dos homens mais ricos do mundo, detém a Dorchester Collection através de um fundo de investimento. Entre os vários hotéis, conta-se o Le Meurice, em França, um dos preferidos das celebridades mais fashion, Anna Wintour incluída. Ao New York Times, através de um porta-voz, a também diretora artística da Condé Nast disse: “Enquanto eu sou sensível ao impacto que este assunto poderá ter na maravilhosa equipa do Le Meurice, não posso, em boa consciência, ficar aqui, nem podem os editores da Vogue”. Também a editora de Glamour, Cindi Leive, mostrou desagrado. “Não penso que seja uma questão política. Trata-se de direitos humanos básicos. Nenhum hotel é bom o suficiente para isso”, comentou.

Mas porque é o hotel tão requisitado? Para muitos editores e retalhistas do universo da moda, a unidade tem sido o destino de eleição nos últimos dez anos ou mais. É, inclusive, considerado um  hotel da semana da moda em Paris. Para a Elle britânica, são poucos os hotéis na cidade que conseguem destronar o Le Meurice. Celebridades como Mary-Kate Olsen e a irmã Ashley, mas também Gisele Bündchen, já o frequentaram, bem como jornalistas da Glamour americana e da Vogue russa. A história do hotel remonta ao século XVIII e tem em Salvador Dalí uma das figuras mais associadas, que chegou a inspirar a renovação do hotel. O New York Times explica que, durante os desfiles de alta-costura em julho, chega-se a pagar mais de 1.000 euros por noite.

A polémica em causa não é nova, mas tem vindo a ganhar relevo. A 9 de maio, François-Henri Pinault, chefe executivo da Kering, que detém marcas como Gucci, Stella McCartney e Alexander McQueen, juntou-se ao boicote do grupo hoteleiro de luxo em questão. Desde abril, vozes de figuras de relevo internacional têm-se feito ouvir a propósito da luta pelos direitos humanos. A lista de nomes é vasta e incluem personalidades como Richard Branson, Sharon Osbourne e Lisa Vanderpump.

Segundo a Vogue britânica, a empresa do sultão terá perdido, num espaço de uma semana, cerca de um milhão e meio de euros, dado que 20 eventos foram cancelados. O New York Times adianta ainda que o Le Meurice tem sido a preferência de editores de renome, até porque os outros dois hotéis de eleição, o Ritz e o Crillon, estão fechados para renovações. Caso para dizer que a Dorchester Collection está a ficar outdated.

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