A tarefa de organizar o Parlamento Europeu após as eleições não é fácil. O primeiro a tentar fazê-lo vai ser Jean-Claude Juncker, que com a vitória do PPE está na pole position para se tornar presidente da Comissão, ao tentar criar uma coligação com outros grupos políticos para conseguir uma maioria estável em Estrasburgo que permita ultrapassar possíveis forças de bloqueio. Até agora, uma grande coligação com os socialistas de Schulz parece a única solução possível para encontrar consensos nos próximos cinco anos.
Com 213 eurodeputados em 751 (número total de eleitos), o Partido Popular Europeu (PPE) é a maior força no Parlamento Europeu, mas este número não chega para tomar a primeira decisão deste novo mandato: aprovar ou rejeitar por maioria o nome do presidente da Comissão indicado pelo Conselho Europeu.
O primeiro a tentar esta maioria será Jean-Claude Juncker para fortalecer a sua posição como principal candidato à sucessão de Durão Barroso. Embora enfrente alguma oposição dentro do Conselho Europeu, nomeadamente de David Cameron que o considerada demasiado federalista, conseguir o primeiro entendimento dentro de um Parlamento Europeu tão polarizado seria um ponto a seu favor e daria mais força às suas aspirações.
A opção para já parece ser uma negociação com os socialistas já que estes são o único grupo com força suficiente para fazer aprovar com larga margem o nome de Juncker (213+191), mas esta cedência, que Schulz pareceu relutante em aceitar no domingo, implica outro tipo de compromissos para o PPE. Ficar com a presidência da Comissão pode levar à cedência no segundo cargo de destaque em Bruxelas: a presidência do Conselho Europeu atualmente ocupada por Herman Van Rompuy podia ir para um socialista.
O impasse na escolha do presidente não se pode arrastar por muito mais do que alguns meses, sendo que o nome deveria ficar definido já em julho. O mandato de Durão Barroso termina a 31 de outubro e, caso não haja decisão até lá, o português terá de se manter em funções.
Desequilibrar a balança nos próximos cinco anos
O enfraquecimento dos maiores grupos políticos e a entrada de novas forças extremistas no hemiciclo fez com que se torne mais difícil procurar entendimentos entre as família políticas europeias. O dilema sobre a criação de um novo grupo político da extrema-direita e a entrada de 64 novos eurodeputados no Parlamento Europeu que para já não têm grupo político – terão de escolhê-lo até ao início de Julho (data da primeira sessão constitutiva) ou ficar como não inscritos – vem alterar o balança de poder em Bruxelas e Estrasburgo.
Até agora, mesmo sem maioria absoluta e consoante os temas trazidos a discussão, o PPE e o PSE conseguiam captar junto dos grupos dos liberais, dos conservadores, dos Verdes ou da extrema-esquerda votos suficientes que permitiam passar ou travar legislação. Mas com mais de 100 eurodeputados sem família política, PPE e PSE estão em perigo de não conseguir fazer aprovar a legislação que considere importante, a não ser que se juntem.
Em grande parte dos assuntos em discussão no PE entre 2009 e 2014, o centrão já votava junto, especialmente no que dizia respeito à introdução de políticas económicas e financeiras. Os temas que mais os afastaram foram os assuntos constitucionais e as liberdades cívicas em que os socialistas conseguiram muitas vezes apoio dos Verdes ou dos liberais e onde o PPE buscava apoio nos conservadores e dissidentes dos outros grupos políticos.
Neste parlamento, a disciplina de voto, muitas vezes aplicada na Assembleia da Republica, é proibida, o que significa que consoante as matérias e a influência dos eurodeputados que encabecem as iniciativas (e muitas vezes as posições do país de origem de cada eurodeputado), as votações são renhidas e o resultado imprevisível até ao momento do voto. Uma imprevisibilidade que tende a aumentar caso os dois principais grupos políticos não se entendam.