José Sócrates considera que as críticas ao chumbo do Tribunal Constitucional “ultrapassam os limites da cultura democrática” e não acredita que tenham sido proferidas numa tentativa de criar uma crise política no Governo. “Isso seria um tiro na cabeça”, disse este domingo no seu comentário semanal na RTP, que será suspenso enquanto decorrer o Campeonato do Mundo de Futebol.
O ex-primeiro ministro considerou que o seu sucessor, Passos Coelho, se excedeu ao criticar os juízes do Constitucional. “Esta crítica não é dirigida ao que decidiram, mas às pessoas. Imagine que faziam comentários sobre os critérios que o ministro escolheu os seus ministros?”, prosseguiu.
José Sócrates lembrou que, na base do chumbo, estão princípios constitucionais como “a igualdade e a proporcionalidade” que têm sido “esquecidos” pelo atual Governo. José Rodrigues dos Santos aproveitou para lembrar o ex-governante dos “quatro pacotes de austeridade por ele assinados”. “Nessa altura tínhamos um Governo minoritário e para aprovar o orçamento, a direita defendia a redução da despesa e de aumento de impostos. Eu fiz isso para que não chumbassem, mas também fiz pela igualdade e proporcionalidade”, justificou. E sublinhou, sempre, que nenhum dos cortes que levou a cabo “foi inconstitucional”.
José Rodrigues dos Santos colocou perante Sócrates um cenário hipotético: “imaginemos que o pedido de aclaração do Tribunal Constitucional é considerado insatisfatório, que o Governo se demite e são convocadas eleições antecipadas. Como se apresenta o PS?”.
“Um cenário com uma visão infantil do que possa vir a acontecer”, respondeu-lhe Sócrates. Para, de seguida, considerar que “seria um erro para o Governo”. “Tenho a certeza que o PS apressaria a escolha interna”, justificou. Mesmo sem “cenário hipotético”, o socialista criticou o facto de o PS marcar para setembro as eleições primárias para a liderança do partido. E o facto de não ter sido perguntado aos militantes qual devia ser o método de escolha.
Depois da polémica de sábado com uma mensagem de António José Seguro no Facebook, a culpar António Costa pelas últimas sondagens, que indicavam uma queda para o PS, Sócrates deixou o aviso. “O que o PS precisa é de manter a cabeça fria e perceber que esta disputa no PS pode reforçar o PS, se for um debate feito com dignidade”.