Brasileiros contra a Copa. Este deve ser dos atos mais antinatura que se podem observar nos dias que correm. O povo saiu à rua. Berrou, partiu, caiu, levantou, voltou a berrar. Afinal, só querem um país mais digno, com outras condições de vida, nomeadamente na saúde e na educação, por exemplo. Mais: querem o fim da corrupção.
O futebol tem, normalmente, o condão de unir as mãos entre as pessoas e os seus heróis, que mais parecem deuses que desceram do Olimpo. Mas se falarmos, por exemplo, nos salários dos treinadores do Campeonato do Mundo em comparação com os do povo, então aí a distância é gritante. Aviso à tripulação: os valores são, em muitos casos, pornográficos.
Luiz Felipe Scolari, o selecionador brasileiro, ganha por ano qualquer coisa como três milhões de euros, o que significa que aufere um salário 334 vezes superior ao cidadão comum no Brasil. A lista pertence à Forbes e vale a pena perder uns segundos a olhar para ela. O rei é Fabio Capello, o treinador da Rússia, que recebe cerca de 8,2 milhões de euros por ano. O italiano consegue ser, também, o campeão no que toca a golear o salário médio do país: recebe 763 vezes mais do que o cidadão russo comum.
Paulo Bento recebe cerca de 1.5 milhões de euros, 102 vezes mais do que o salário médio em Portugal.
Paulo Bento chega na 12.ª posição da lista. O português recebe cerca de 1,5 milhões de euros, 102 vezes mais do que o salário médio em Portugal. Carlos Queiroz surge logo a seguir: a quantia é semelhante à de Paulo Bento, mas dispara no que toca à diferença para os iranianos, pois o treinador recebe 293 mais do que o comum dos mortais no Irão. Fernando Santos, selecionador grego, é o último português da lista e ocupa a 21.ª posição: quase 640 mil euros por ano, ou seja, 37 vezes mais do que o salário médio grego.
Os campeões da decência também existem, são como as bruxas. Marc Wilmots, o belga que foi jogador e agora comanda os destinos da seleção, ganha “apenas” 19 vezes mais do que o belga comum: 637 mil euros por ano. Também Niko Kovac, o selecionador croata, recebe 19 vezes mais do que o cidadão comum da Croácia, embora a sua remuneração seja praticamente três vezes menos do que a de Wilmots — 200 mil euros por ano.
Sabri Lamouchi é o selecionador da Costa do Marfim e recebe quase 795 vezes mais do que o cidadão costa-marfinense médio.
Quando se chega aos países africanos, os murros no estômago multiplicam-se. Argélia, Costa do Marfim, Camarões, Gana e Nigéria são os representantes do continente. Vamos por partes.
Sabri Lamouchi é o selecionador da Costa do Marfim e recebe quase 765 mil euros por ano: 795 vezes mais do que o cidadão costa-marfinense médio. De acordo com uma lista da Index Mundi, 42% da população do país vivia abaixo do limiar da pobreza em 2012.
De seguida surge Vahid Halilhodžić, o selecionador da Argélia, um país que, em 2012, registava 23% da população a viver abaixo do limiar da pobreza. O bósnio ganha cerca de 740 mil euros por ano, 179 vezes mais do que o salário médio argelino.
Segue-se Volke Finke, um alemão que lidera Samuel Eto’o e companhia. O treinador recebe cerca de 290 mil euros por ano, 322 vezes mais do que um camaronês comum. Em 2012, 48% da população dos Camarões vivia abaixo do limiar de pobreza.
Stephen Keshi é o selecionador da Nigéria. O treinador recebe quase 290 mil euros por ano, 240 vezes mais do que o salário médio na Nigéria. O país apresentava, em 2012, uma taxa de 70% da população a viver abaixo do limiar da pobreza.
Para fechar este capítulo, falta o selecionador do Gana. James Kwesi Appiah recebe cerca de 185 mil euros por ano, 150 vezes mais do que um ganês comum. Neste caso, “apenas” 28.5% da população do Gana vivia abaixo do limiar da pobreza em 2012.