O conselho de administração (CA) do Centro Hospitalar de São João confirma a demissão de oito unidades intermédias de gestão e de 58 directores de serviços clínicos e não clínicos do centro hospitalar, mas não se demite. O Ministério da Saúde “não recebeu nenhum pedido de demissão do Conselho de Administração do Hospital de São João”, afirmou uma fonte oficial do Ministério ao Observador.

Num comunicado enviado às redacções, o conselho de administração afirma que “concorda com as razões apresentadas” e que “está solidário com as lideranças intermédias, tendo reportado esta situação á tutela”. De acordo com as especificações do comunicado, nenhum elemento da administração está incluído no grupo de 66 pessoas demissionárias.

António Ferreira, presidente do conselho de administração do hospital, é um dos principais críticos aos cortes que têm sido feitos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e exige alterações no que diz respeito às proibições de renovações de contratos de pessoal médico e técnico e às limitações que existem na renovação do material.

O administrador reuniu-se com o ministro da Saúde em maio e manifestou-lhe a sua vontade em deixar a presidência do conselho de administração do hospital. Na altura, Paulo Macedo terá admitido fazer algumas cedências que iriam ao encontro das revindicações do gestor.

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O comunicado afirma que “os responsáveis pelas oito unidades intermédias de gestão do Centro Hospitalar de São João (Unidades Autónomas de Gestão de Medicina, de Cirurgia e de Urgência e Medicina Intensiva, Centros Autónomos de Medicina Laboratorial e de Imagiologia, Clínica da Mulher, Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental e Hospital Pediátrico Integrado) e os 58 directores de Serviços clínicos e não clínicos decidiram, em reunião efectuada na manhã do dia 19 de Junho, apresentar o seu pedido de demissão”.

As razões desta demissão em bloco relacionam-se com o facto de “a qualidade na prestação de cuidados de saúde à população estar em risco”, com “a desvalorização do Centro Hospitalar de São João e da sua missão no contexto da região e do país” e com “a impossibilidade da implementação do desenvolvimento estratégico do Centro Hospitalar de São João”.

O “impedimento da acção gestionária do Conselho de Administração e das estruturas intermédias de gestão do Centro Hospitalar, por via da centralização administrativa, no que concerne a políticas de recursos humanos, investimentos, manutenção estrutural, infra-estrutural e de equipamentos e compras, que afectará gravemente a prossecução da sua missão e a actividade assistencial, apesar de, reiteradamente, o Centro Hospitalar de São João apresentar resultados económico-financeiros positivos e resultados clínicos e assistenciais ao nível dos melhores da Península Ibérica”, é apontado como motivo para a saída em bloco dos dirigentes.

Em declarações no Parlamento, o deputado socialista José Junqueiro exigiu explicações ao ministro da Saúde e considerou que “é uma má notícia para o SNS, mais uma, e um grande constrangimento para o país em geral e para o norte em particular”. Para José Junqueiro, a “degradação a que o Governo e o ministro têm conduzido os cuidados de saúde é absolutamente inaceitável”.

O deputado socialista referiu ainda que o Presidente da República “não pode fechar os olhos não só ao anormal funcionamento das instituições e dos órgãos de soberania mas agora também ao anormal funcionamento de instituições tão relevantes” como este hospital.

Ao Público, Manuel Pizarro, ex-secretário de Estado-Adjunto da Saúde, não tinha poupado críticas a Paulo Macedo. “A demissão de todos os dirigentes do Centro Hospitalar S. João e, sobretudo pelos motivos invocados, reveste-se da maior gravidade e coloca em causa diretamente a ação ou talvez melhor dito a inação do senhor ministro da Saúde”, disse Pizarro, acrescentando que “constitui um crime contra o país e contra os cidadãos do norte deixar deteriorar uma unidade tão qualificada”.