Ricardo Salgado vai abandonar o cargo de presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES) e Joaquim Goes, atual membro da administração, é um dos candidatos mais fortes à sucessão, disse ao Observador uma fonte que acompanha o processo, embora acrescentando que o gestor não foi, ainda, alvo de qualquer convite.

A decisão surge na sequência da pressão do Banco de Portugal para, uma vez completado o mais recente aumento de capital do banco, haver uma recomposição do conselho de administração. O supervisor pretende que o órgão de gestão passe a ser integrado por mais gestores independentes e livres da suspeita de terem culpas nas irregularidades detetadas numa das “holdings” do grupo, a Espírito Santo Internacional (ESI).

A emissão de novas ações permitiu ao BES recolher mil milhões de euros, mas levou a Espirito Santo Financial Group a baixar a posição de 27% para 25,1%, enquanto o Crédit Agricole, tradicional aliado da família, reduziu a participação de 20,8% para 15%. A estes dois acionistas somam-se a Portugal Telecom e o Bradesco. Juntos, controlavam mais de 54% do capital social da instituição financeira mas, após o aumento de capital, baixaram o peso total para 46%.

O caso das irregularidades nas contas da ESI é, no entanto, o motivo de fundo para as mudanças na gestão do BES e a saída de Ricardo Salgado, que tomou conta da liderança executiva da instituição em 1991. Os problemas nas contas da “holding” familiar começaram em 2008, quando da eclosão da crise financeira. De acordo com a versão que o contabilista Francisco Machado da Cruz contou ao Expresso, foi decidido camuflar 180 milhões de euros do passivo daquela sociedade gestora de participações sociais e o buraco contabilístico agravou-se até atingir, em 2013, 1,3 mil milhões de euros.

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A pedido do Banco de Portugal, a ESI foi alvo de uma auditoria pela KPMG e esta empresa detetou as irregularidades praticadas, que comunicou, em janeiro passado, à autoridade de supervisão. O caso chegou a público quando o banco divulgou, no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o prospeto do aumento de capital e incluiu a informação sobre as auditorias entre os riscos de reputação em que a instituição incorria.

Em entrevista ao Jornal de Negócios, Ricardo Salgado disse desconhecer a situação mas, nas declarações que prestou ao semanário da Impresa, Machado da Cruz garantiu que o banqueiro sabia de tudo desde 2008, assim como o controller financeiro do grupo, José Castella. Os dois responsáveis, revelou o contabilista, aprovavam as contas da ESI antes de serem submetidas aos restantes administradores.

Ricardo Salgado também esteve envolvido em polémica, no início de 2013, devido ao facto de se ter tornado público que tinha efetuado três retificações à declaração de imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) relativa a 2011. As correções tiveram um valor total de 8,5 milhões de euros e deram lugar ao pagamento adicional ao fisco de 4,3 milhões de euros. Na altura, o Banco de Portugal declarou não existirem elementos para abrir um processo de reavaliação de idoneidade do banqueiro.

Também Amílcar Morais Pires, administrador executivo responsável pela área financeira do BES e considerado o candidato de Ricardo Salgado à sucessão na liderança da instituição, teve de regularizar 1,1 milhões de euros de IRS, situação noticiada pelo jornal i.