Ainda não foi desta que Marine Le Pen conseguiu formar um grupo político exclusivamente composto por partidos de extrema-direita no Parlamento Europeu. Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade holandês, admitiu primeiro o falhanço das negociações entre as várias forças políticas, mas também a Frente Nacional já esta terça-feira veio dizer que preferiu “não sacrificar a qualidade e consistência pela precipitação” na formação de um grupo político. A data limite para formar grupos políticos termina hoje e há mudanças nas famílias políticas europeias.

Le Pen precisava de pelo menos 25 eurodeputados de sete nacionalidades diferentes para conseguir formar um grupo político, mas apesar do aumento da entrada de representantes de partidos conotados com a extrema-direita por toda a Europa nestas eleições, o plano voltou a falhar. Não só não conseguiram o número de partidos suficientes, como as tensões dentro deste grupo restrito impossibilitaram qualquer aliança. Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade holandês, que na Holanda se opõe à prática do Islão, considerou que estabelecer uma aliança com o Congresso da Nova Direita da Polónia seria “ir demasiado longe”. Janusz Korwin-Mikke, líder do partido polaco é conhecido por ter feito comentários anti-semitas e ter dito que as mulheres não deveriam votar.

Foi mesmo Wilders que admitiu primeiro esta derrota da extrema-direita. “Infelizmente não conseguimos formar até à data limite de 24 de junho um grupo político com outros seis partidos no Parlamento Europeu. O Partido da Liberdade quer formar um grupo mas não a qualquer preço” sublinhou o holandês, Já esta terça-feira, foi a vez de Marine Le Pen admitir a derrota. “Fizemos a nossa escolha tendo em conta a qualidade e a consistência em vez das facilidades e precipitação. A nossa recusa de nos aliarmos com movimentos onde certos membros demonstraram posições diferentes das nossas e são incompatíveis com os nossos valores tornou impossível formar um grupo político”.

Mesmo assim, Wilders e Le Pen afirmam que vão continuar a trabalhar de perto com a restante extrema-direita. O possível grupo constituído por eurodeputados da Frente Nacional, do partido nacionalista belga Vlaams Belang, o Partido da Liberdade austríaco, a Liga Norte italiana e o Partido da Liberdade Holandês está a ser preparado desde novembro do ano passado. Os cinco partidos reuniram-se mesmo em Bruxelas logo após as eleições para mostrarem que estavam mais perto de um entendimento e assim seduzir outros partidos europeus. Foi nesta altura que o Congresso da Nova Direita terá entrado nas negociações assim como partido Ordem e Justiça da Lituânia – que viria mais tarde a desmentir qualquer acordo formal -, mas sem sucesso.

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Com a constituição de um grupo político, a extrema-direita teria acesso a mais financiamento para promoção e organização de iniciativas políticas, mais poder na organização do Parlamento Europeu já que o seu líder participaria na conferência de presidentes que gere o dia-a-dia da instituição, mais tempo de uso da palavra no plenário em Estrasburgo e mais peso político, pois apenas podem presidir a comissões e elaborar relatórios importantes os eurodeputados integrados num grupo político. Assim sendo, grande parte a extrema-direita ficará como Não-inscrita (estatuto atribuído aos eurodeputados que não têm grupo), podendo mais tarde retomar as negociações.

Grillo e eurodeputada da Frente Nacional aliam-se a Farage

Mas não é só a extrema-direita que tem animado as negociações politicas dos eurodeputados no Parlamento Europeu (PE), que têm hoje o seu prazo limite para fechar os grupos políticos. Após as eleições houve mexidas no número dos eurodeputados nos grupos, nomeadamente a diminuição dos não-inscritos já que as novas forças políticas que entraram pela primeira vez no PE, fizeram novas alianças e integram agora grupos políticos. No entanto, o PPE (a que pertencem o PSD e o CDS) continua a ser o grupo com mais eurodeputados e o grupo dos Sociais e Democratas (a que pertence o PS) a ser a segunda força. Mas são as alianças noutros grupos que têm vindo a chamar a atenção.

O romance entre Nigel Farage, do partido eurocetico britânico UKIP, com Beppe Grillo, líder do Movimento 5 Estrelas italiano, deu em casamento. Grillo tentou primeiro os verdes europeus, onde foi recusado e acabou por aceitar a proposta de se juntar a Nigel Farage depois de um referendo (muito contestado entre os eurodeputados do Movimento 5 Estrelas) interno, passando agora a pertencer ao renovado grupo Liberdade e Democracia da Europa.

Esta vitória de Farage fez-se às custas de Le Pen, já que para formar o grupo que conta com 48 eurodeputados da Lituânia, da França, da República Checa, da Letónia e da Suécia, para além dos britânicos e dos italianos foi preciso um dissidente da Frente Nacional. Mais precisamente de uma. Joelle Bergeron abandonou a Frente Nacional dois dias depois de ser eleita pelo partido de Le Pen após ter sofrido pressões internas para abdicar do seu mandato por ter sugerido que os imigrantes que trabalhassem e pagassem impostos em França deveriam ter o direito de votar nas eleições locais.

Também os conservadores têm novidades. Mesmo contra a vontade dos eurodeputados britânicos que integram o grupo e foram eleitos pelo Partido Conservador de David Cameron, a Alternativa para a Alemanha (AfD) foi aceite neste família política. O partido eurocético vai assim trabalhar lado a lado no Parlamento Europeu com os eurodeputados de Cameron, que teriam sido instruídos pelo próprio a bloquear esta entrada devido aos problemas que isso poderia trazer no relacionamento com Merkel – a AfD resulta de uma cisão com a CDU da chanceler alemã e tem vindo a ganhar adeptos na cena política germânica.Os britânicos já asseguraram que vão trabalhar com a AfD em Bruxelas, mas o “partido irmão” na Alemanha continua a ser a CDU.

Para além disto, os conservadores conseguiram ainda agregar o partido Justiça e Liberdade da Polónia, assim como um eurodeputado da Bulgária, o partidos nacionalista finlandês e os representantes do partido separatista belga Nova Aliança Flamenga, totalizando 68 eurodeputados e fazendo dos conservadores a terceira força política no Parlamento Europeu. Mas pode haver problemas no futuro deste grupo político, já que o seu novo líder, o britânico Syed Kamall, é muçulmano e alguns dos eurodeputados no seu grupo ganharam notoriedade nos seus países por criticar a prática do Islão na Europa.

Na luta pelo terceiro lugar como força política no PE, estão também os liberais, atualmente com 67 eurodeputados. Após a rejeição dos eurodeputados da Nova Aliança Flamenga que preferiram os conservadores, a Aliança dos Liberais e Democratas Europeus (ALDE) está a agora a disputar o eurodeputado Brian Crowley, eleito pelo partido irlandês Fianna Fáil. Quem veio engrossar as fileiras do ALDE nos próximos cinco anos foi Marinho e Pinto e José Inácio da Silva Antunes de Faria, eleitos pelo MPT. Depois de serem rejeitados pelos Verdes, motivada pelos comentários negativos do ex-bastónário à co-adoção por casais do mesmo sexo, os eurodeputados portugueses encontraram guarida política no ALDE.

Os grupos políticos constituídos até esta terça-feira são os que serão tidos em conta na sessão constituinte do Parlamento Europeu que vai acontecer no próximo dia 1 de Julho em Estrasburgo e elegerá o presidente da Comissão.