Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia, reunidos em Conselho Europeu entre quinta e sexta-feira, deverão nomear Jean-Claude Juncker para suceder a Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, apesar da forte oposição de Londres.

A cimeira, que será dominada pelo processo de designação do futuro presidente do executivo comunitário — cujo nome terá de ser ainda confirmado pelo Parlamento Europeu -, terá também contornos diferentes dos habituais devido à efeméride do centenário do início da I Guerra Mundial, com os líderes europeus a participarem, na quinta-feira, em cerimónias em Ypres, onde foram travadas algumas das batalhas mais sangrentas do conflito.

No contexto da evocação dos soldados que tombaram nos campos da Flandres, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, deslocar-se-á, na quinta-feira, a França, junto à fronteira com a Bélgica, para cerimónias no cemitério militar de Richebourg, onde estão enterrados quase dois mil soldados portugueses mortos na I Guerra, e junto ao monumento de homenagem aos combatentes portugueses, em La Couture.

De seguida, o chefe de Governo participará, em Kortijk, Flandres, na tradicional mini-cimeira do Partido Popular Europeu (PPE) que antecede os Conselhos Europeus, antes de rumar a Ypres, onde os líderes europeus irão então assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial e ter um jantar informal que assinalará o início dos trabalhos, que prosseguirão (e terminarão) na sexta-feira, já em Bruxelas.

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Apesar de a agenda prever diversos temas — como a situação na Ucrânia e a questão da segurança energética -, todas as atenções estarão centradas na escolha do nome a sujeitar ao voto do Parlamento Europeu para liderar a Comissão Europeia nos próximos cinco anos, com base nos resultados das eleições europeias realizadas em maio passado, e que apresentaram como grande novidade — à luz do Tratado de Lisboa — o facto de os principais grupos políticos terem os seus candidatos à presidência do executivo comunitário.

Em função da vitória do PPE, o candidato escolhido por esta família política (que integra PSD e CDS-PP), Jean-Claude Juncker, era então o nome óbvio para suceder a Durão Barroso, algo que deixou de ser tão linear a partir do momento em que, continuando o Conselho (Estados-membros) a ser livre de designar um nome, o Reino Unido iniciou uma verdadeira campanha contra a escolha do luxemburguês, que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, considera “demasiado federalista” e um “político dos anos 80” e, como tal, pouco indicado para levar a cabo as reformas na UE que Londres considera indispensáveis.

No entanto, Cameron foi-se vendo cada vez mais isolado na sua “cruzada” contra Juncker, mesmo apesar da ameaça de o Reino Unido abandonar a UE num futuro referendo, e apesar de Londres já ter anunciado que solicitará uma votação no Conselho Europeu (o que, apesar de previsto legalmente, não costuma suceder, pois os líderes europeus sempre têm buscado o consenso na designação do presidente da Comissão), muito dificilmente conseguirá uma minoria de bloqueio.

Juncker conta não só com o apoio do PPE, com a “toda-poderosa” Alemanha da chanceler Angela Merkel à cabeça, como dos (nove) líderes europeus socialistas, que, reunidos no passado sábado em Paris, declararam o seu apoio ao antigo primeiro-ministro luxemburguês, isto já depois de as principais famílias políticas do Parlamento Europeu terem garantido que não cederiam à “chantagem” do Reino Unido e que chumbariam qualquer nome estranho aos candidatos apresentados durante a campanha para as Europeias.

Confirmando-se a nomeação de Juncker pelo Conselho Europeu na sexta-feira, restará depois ao luxemburguês receber uma maioria dos votos na segunda sessão do Parlamento Europeu agendada para julho (de 14 a 17), o que parece garantido, tanto mais que PPE e Socialistas Europeus, as duas maiores famílias políticas da assembleia, iniciaram com sucesso negociações com vista a entendimentos-chave, incluindo as designações para os altos cargos da UE.

Além do cargo de presidente da Comissão Europeia, que José Manuel Durão Barroso deixa ao cabo de 10 anos, ficarão também vagos os de presidente do Conselho (ainda na posse do belga Herman van Rompuy), de Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros (atualmente desempenhado pela britânica Catherine Ashton) e de presidente do Parlamento Europeu (que PPE e Socialistas deverão voltar a partilhar, escolhendo cada qual um presidente para meio mandato de dois anos e meio), mas na sexta-feira só o primeiro posto deverá ficar destinado.