A Comissão Europeia aprovou esta segunda-feira, de emergência, uma linha de crédito de apoio à Bulgária no valor de 1,6 mil milhões de euros para garantir a liquidez do sistema bancário, noticia esta manhã a Bloomberg. O resgate acontece depois de terem começado a circular rumores sobre a saúde bancária de duas instituições nacionais, o que levou a uma corrida de pânico ao bancos.
Segundo a UE, a linha de crédito concedida ao Estado é “proporcional e adequada à necessidade de assegurar liquidez suficiente ao setor bancário nas atuais circunstâncias”, querendo com isso dizer que não se trata de um plano de resgate da banca. O Executivo do país garante assim que, com esse crédito, vai poder responder aos “ataques de carácter especulativo da semana passada”, que estariam concertados em provocar uma crise financeira no país.
Em causa estão o Primeiro Banco de Investimento e o Banco Comercial Corporativo (CorpBank), os terceiro e quarto maiores credores dos empréstimos bancários na Bulgária.
“Na semana passada, percebemos que o terceiro maior banco búlgaro estava a ser alvo de um esquema engendrado por certos indivíduos, que incitavam os depositantes a levantar o seu dinheiro”, disse a Comissão Europeia num comunicado emitido por e-mail, e citado pela Bloomberg. “Isto levantou preocupações sobre a liquidez do banco em questão e o risco de se alastrar a outras instituições”, continua a ler-se no comunicado que pretende justificar a emissão da linha de crédito. Mas, garante a UE, não está em causa a saúde do sistema bancário búlgaro – que “está bem capitalizado e tem elevados níveis de liquidez”, lê-se. Trata-se de uma questão pontual.
Até à data acredita-se que não vá haver contágio para outros bancos. Mas na sexta-feira o Primeiro Banco de Investimento teve de fechar as suas agências por “problemas logísticos” depois de ter assistidos a filas intermináveis de depositantes que quiseram levantar as suas poupanças. Segundo a Bloomberg, a decisão da UE prende-se com a elevada quantia que a instituição desembolsou nessa altura – cerca de 800 milhões de lev (mais de 400 milhões de euros) -, apesar de o Banco continuar a garantir ter fundos suficientes para fazer face à procura dos clientes. Depois da corrida de sexta-feira, a instituição reiterou que iria reabrir os seus balcões dentro da normalidade esta segunda-feira.
Cenário semelhante aconteceu na semana passada com o CorpBank, cujos clientes incluem muitas empresas estatais. O Banco Central búlgaro foi forçado a assumir o controlo da instituição depois de grandes depositantes terem corrido ao banco para levantar as suas poupanças na sequência das notícias inflamatórias sobre alegados negócios ilícitos. O banco, no entanto, nega qualquer má conduta.
Suspeitos detidos
A Agência Nacional de Segurança, de acordo com a Bloomberg, já deteve sete suspeitos de terem espalhado falsas informações e desestabilizado o funcionamento da banca. Os homens terão usado as redes sociais, mensagens de telemóvel e e-mails, que enviavam de forma aleatória para clientes, incitando-os a levantar o dinheiro que tinham no banco.
Na altura, o Banco Central classificou os acontecimentos recentes como uma tentativa sistemática e deliberada de desencadear um terramoto na banca e prometeu tomar todas as medidas necessárias para proteger os depósitos dos cidadãos. Também o chefe de Estado búlgaro apelou à calma.
“Não há razão para entrar em pânico porque não há nenhuma crise da banca, está a haver sim uma crise de confiança e um ataque criminoso”, disse o presidente búlgaro Rosen Plevneliev no domingo, depois de mais de quatro horas de conversações de emergência com os líderes dos maiores partidos políticos e do Banco Central. “Os responsáveis têm de ser condenados aos olhos da justiça”, disse.
O caos bancário surge numa altura de alta instabilidade política na Bulgária. O Governo socialista búlgaro, que chegou ao poder há um ano, tem estado sob intensa pressão desde o fraco resultado eleitoral das europeias de maio, e tem lutado para manter o sistema bancário estável à medida que a oposição acusa cada vez mais os líderes do Executivo de terem conduzido o país à ruína. Ontem, o presidente Plevneliev convocou eleições antecipadas para outubro.
A corrida aos depósitos levantou preocupações sobre a estabilidade financeira daquele país, que é o mais pobre da União Europeia, com o New York Times a descrever o processo como o maior desafio que a banca búlgara enfrenta em décadas.