Há três anos, altura em que a banca portuguesa comprava dívida pública em pacote para segurar as emissões do Estado, o Presidente chegou a chamar todos os principais banqueiros nacionais, assim como o governador do Banco de Portugal, ao Palácio de Belém. Hoje, em plena crise no Grupo Espírito Santo, Cavaco Silva mantém uma distância de segurança. Segundo apurou o Observador, o Presidente tem-se mantido informado, mas à distância, sobre os últimos desenvolvimentos no grupo. Nem Carlos Costa esteve em Belém nas últimas semanas, quando o problema ganhou contornos mais visíveis e a ESFG indicou um sucessor para o lugar de Ricardo Salgado.

Na Presidência, o tema é gerido com pinças. Sabe-se que é de grande relevância, pelas potenciais implicações que pode ter para o sistema financeiro, eventualmente também para as contas do Estado – o Governo continua com uma bolsa de mais de seis mil milhões para eventuais apoios necessários ao banco. Mas a ordem é para manter a discrição – e para uma atuação presidencial indireta.

Oficialmente, a regra é para um silêncio de ouro – nenhum comentário sai para comentar o caso, para não dramatizar ainda mais.

Os contactos têm sido frequentes e assumidos, porém, entre Governo e Carlos Costa. Na sexta-feira, quando foi inquirida numa comissão do Parlamento, Maria Luís Albuquerque frisou várias vezes que tem mantido contacto com o governador do Banco de Portugal – “no respeito pelas competências do regulador”, disse a ministra das Finanças. “O Governo tudo tem feito para assegurar, através do supervisor, que não há impactos de natureza financeira que possam ter consequências para as contas públicas”, acrescentou ainda.

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Nessa audição, Maria Luís Albuquerque disse ainda que tem “acompanhado tudo, obtendo a informação necessária”, explicando aos deputados que os problemas financeiros do GES não devem contagiar o banco: “Não temos razões” para pensar que isso possa acontecer.

A verdade é que essa é a grande preocupação do Executivo – que aumentou depois de Ricardo Salgado ter pedido a Passos Coelho, numa reunião em São Bento, que a Caixa financiasse o GES numa operação sindicada da banca portuguesa. O Governo disse não, mas manteve vigilância máxima face aos acontecimentos das últimas semanas – acreditando que é mesmo possível que a situação na área não financeira do grupo possa piorar nos próximos meses.