Não foram só António-Pedro Vasconcelos ou João Botelho que se inspiraram no mundo autárquico e do sexo para fazerem filmes sobre tráfico de influências no poder local. Os autores de Call Girl e Corrupção (apesar de João Botelho ter recusado assinar a versão que estreou no cinema) têm agora a concorrência de um filme que alcançou algo que nenhum dos dois portugueses conseguiu. Korruption é um filme francês e teve cenas rodadas nas instalações da Câmara Municipal de Asnières-sur-Seine (a norte de Paris, em França), o que tirou do sério o novo presidente do município.
Em Korruption, há nudez explícita, há um cowboy que invade um tribunal rodeado de strippers e há uma candidata à presidência da Câmara que usa um lança-chamas.
Este é o teaser oficial, porque Julien Richard-Thomson alega que já houve alguém a fazer um vídeo diferente
Quando o novo presidente da câmara, Manuel Aeschlimann, chegou ao poder, deparou-se com este teaser do filme realizado por Julien Richard-Thomson, antigo adjunto do ex-presidente da autarquia, Sébastien Pietrasanta, que, antes de deixar a câmara, em abril, autorizou a utilização do edifício municipal para a rodagem de algumas cenas de Korruption. De acordo com o atual presidente, Pietrasanta terá cedido os espaços “gratuitamente”, apenas a troco de uma “doação para o fundo escolar” do município.
Aeschlimann decidiu agora levar todos os responsáveis a tribunal: o antigo edil, por uso indevido de bens públicos, e também o realizador, que acusa de ter feito um filme pornográfico nos paços do concelho. Mas Julien Richard-Thomson recusa que se trate de um filme porno. Korruption é sim “uma comédia negra cáustica, uma denúncia da corrupção em todas as suas formas: moral, financeira, política, tráfico de seres humanos, exploração das mulheres pelas máfias…”, defende num comunicado, precisando: “Nenhuma cena de nus foi filmada na câmara de Asnières”. E diz não compreender o “ódio” contra a sua película.
“Estas cenas são prejudiciais para a imagem da nossa cidade e um atentado contra a moralidade”, acusou Manuel Aeschlimann, que já fora presidente do município entre 1999 e 2008 e que reconquistou a Câmara por uma diferença de 30 votos face a Pietrasanta. O novo autarca decidiu levar as imagens do filme a uma reunião da assembleia municipal e diz que os deputados ficaram “em completo estado de choque”. E por mais do que um motivo. “As salas utilizadas são as mais solenes!”, indigna-se o presidente, para quem a gratuitidade das filmagens é outro problema. “Quando o Canal+ veio cá no mês passado rodar um episódio, pagou a tarifa completa”, refere.
Quanto a Sébastien Pietrasanta fala numa “campanha de denegrimento” do seu mandato e pondera mesmo avançar para tribunal contra o novo Executivo municipal. A confirmar-se, já não seria, aliás, a primeira vez que Manuel Aeschlimann se sentaria no banco dos réus, depois de em 2011 ter sido condenado a 18 meses de pena suspensa por… favorecimento ilícito na concessão de contratos públicos.