Se um diz que o desemprego está a baixar, os outros recordam que continua alto. Se um lembra que a dívida está nos 133%, o outro diz que renegociar seria ir contra “os interesses dos portugueses”. A nação é só uma, mas, para oposição e Governo, estados há vários.

No debate do Estado da Nação, que decorreu esta tarde no Parlamento, Passos Coelho e António José Seguro até falaram na mesma língua, mas não se entenderam no diagnóstico. Isto, um dia antes da reunião do Conselho de Estado em que o Presidente da República deverá insistir na necessidade de um consenso no pós-troika.

Passos Coelho foi o primeiro a falar e a lembrar as reformas que já fez. Falou no trabalho feito em áreas-bandeira para o PS (qualificação dos portugueses e ensino superior) e no desemprego. E, ao contrário de outros debates, passou boa parte do tempo a falar dos desempregados. Disse até que quer uma sociedade de “pleno emprego”.

Mas qual é o Estado da Nação (em indicadores) para Passos?

1 – O desequilíbrio externo “passou a sólido excedente”.

2 – A acumulação de dívida deu lugar a “uma economia com capacidade de se financiar e de melhorar a sua posição externa”.

3 – O défice “é menos de metade do que era e a reduzir-se”.

4 – O desemprego “vai diminuindo”

Já António José Seguro tem uma visão diferente. Os “sinais importantes de recuperação económica”, como lhes chama Passos Coelho, não entram no discurso do líder do PS. Entram outros.

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1- A dívida de 133% mostra o “empobrecimento” do país levado a cabo pelo Governo.

2 – O PS acusou o Governo de “nestes três anos ter destruído três gerações de portugueses: a dos avós, a dos pais e a dos filhos”. E porquê? “A dos avós por causa do corte nas pensões e nas reformas e com crescentes dificuldades de acesso aos cuidados de saúde.

3 – A geração dos pais foi afetada pelo aumento de impostos e pelo desemprego.

4 – A geração dos filhos foi forçada a uma emigração, “porque neste país não há oportunidade para os mais jovens”.

O PCP conseguiu traçar um cenário mais negro: “O Estado da Nação é hoje a situação de um país que está mais pobre e em retrocesso, mais distante dos níveis médios de desenvolvimento dos outros países da União Europeia”, diz Jerónimo.

E quais são os indicadores que revelam o estado do país para os comunistas?

1 – Um milhão e quatrocentos mil desempregados

2 – Um milhão e seiscentos mil trabalhadores precários

3 – Três milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza

4 – 150 mil casas devolvidas aos bancos

5 – 250 mil emigrantes

Já o líder parlamentar do BE preferiu dizer que neste debate não se falou do país nem das pessoas porque o Governo preferiu “em vez do debate do Estado da Nação, falar do estado de negação”.

Do lado da maioria, a visão é diferente. Luís Montenegro diz que o “país está melhor”. E porquê? Para o PSD, o país está a entrar num “ciclo de crescimento”, com um número de desempregados ainda muito elevado, mas, diz “a taxa de desemprego mantém a tendência de descida há 16 meses consecutivos”. E também porque Portugal tem agora uma “situação financeira controlada”, uma “recuperação do investimento privado depois de 12 anos” e um “excedente comercial que não conhecia há 79 anos”. São sinais que permitem ver um “horizonte de esperança”.

Num debate de quase quatro horas, os argumentos foram esgrimidos em torno dos mesmos indicadores, mas as visões são muito diferentes.