São 52,6 quilos. Um peso de pessoa. Podia ser. Mas é antes o equivalente, na balança, ao mistério que está a remoer a cabeça às autoridades em França. Vamos por partes. Os tais 52,6 correspondem aos quilos de cocaína que, no final de julho, desapareceram da caixa-forte do 36 Quai des Orfèvres, morada e sede da polícia judiciária parisiense. E o principal suspeito até é um elemento da brigada anti-droga da polícia.

Eis a história. A 4 de julho, uma operação policial apreendeu os 52,6 kg de cocaína, em Paris. A droga foi transportada para a sede dos serviços secretos, onde foi separada em 48 pedaços e embrulhada, em forma de tijolo, em papel de alumínio. No total, este amontoado valia cerca de 3,6 milhões de euros, segundo o Le Monde.

A cocaína ficou guardada na caixa-forte do 36 Quai des Orfèvres. Percebe-se a decisão — em teoria, não haveria local mais seguro. Apesar de não revelar muito, o The Guardian descreveu-a como uma sala de alta segurança, para a qual apenas existem três chaves: que estão na posse do chefe da polícia parisiense, do homem que o sucede na hierarquia de comando e do comandante da brigada anti-droga.

A 31 de julho, a polícia reparou numa coisa: a cocaína desaparecera. Na caixa-forte, porém, não havia vestígios de roubo ou entrada forçada. Nada. Portanto, olhou-se para as gravações das câmaras de vigilância. Aí, as autoridades viram que, a 24 de julho, um homem entrara na sede da polícia com dois sacos, aparentemente vazios. Pouco depois, sairia das instalações com eles cheios.

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No sábado, 2 de agosto, as autoridades detiveram Jonathan Guyot, enquanto andava às compras num centro comercial em Perpignan, cidade do sul de França. E quem é ele? Um polícia, de 33 anos, elemento da brigada anti-droga parisiense. Surpresa. Na altura, Guyot estava com uma mochila, onde a polícia encontrou cerca de 16 mil euros em dinheiro — que estavam a fazer companhia a um agente da polícia com um salário mensal a rondar os 2 mil euros.

Jonathan Guyot, escreveu o Le Monde, já passou cerca de 96 horas a ser interrogado pela Inspeção-Geral da Polícia Nacional, entidade responsável por conduzir um inquérito pedido, na segunda-feira, por Bernard Cazeneuve, ministro do Interior francês. “Caso o inquérito confirme a sua implicação no caso, e assim que tiver conhecimento das conclusões deste inquérito, aplicarei todas as sanções necessárias”, garantiu o ministro gaulês, citado pelo Le Figaro.

Na segunda-feira, um segundo agente da brigada anti-droga parisiense foi detido, mas foi libertado no mesmo dia após o pagamento de uma caução. Na terça-feira, um terceiro agente, este pertencente à polícia fronteiriça, apresentou-se às autoridades para ser questionado — pois, de acordo com o Le Figaro, efetuou várias chamadas telefónicas com Jonathan Guyot antes da cocaína desaparecer da sede da polícia judiciária.

O certo é que, por enquanto, as autoridades mantêm Guyot detido por existir “uma forte semelhança física entre [ele] e o indivíduo” filmado pelas câmaras de vigilância. Ou seja, de provas, nada. E ninguém sabe como isto vai acabar.