O ator Robin Williams, 63 anos, a estrela de filmes como Bom Dia Vietname, Clube dos Poetas Mortos e O Rei Pescador, foi encontrado morto na sua casa em Tiburon, Califórnia. O Xerife de Marin County disse em comunicado que a morte “aparenta ser suicídio por asfixia”. O ator sofria de uma depressão grave e estava atualmente em reabilitação por abuso de drogas. Robin Williams deixa mulher e três filhos.
Robin McLaurin Williams nasceu a 21 de julho de 1951 em Chicago, estudou ciência política antes de enveredar pela arte teatral ao ingressar na Juilliard School em Nova Iorque. Foi artista em clubes noturnos mas foi a televisão que o projetou, na série cómica “Happy Days” (1974). Foi um dos atores mais respeitados da sua geração, muito conhecido pela sua vertente de comediante, mas sempre lhe foi destacado o talento dramático, mérito premiado com o Óscar de melhor ator secundário no filme “Good Will Hunting (O Bom Rebelde)” de Gus Van Sant (1997). Além dos Óscar, foi nomeado para dezenas de outros prémios, dos quais venceu seis Globos de Ouro e dois Emmy.
A sua face mais conhecida era a de comediante, apesar de ter interpretado papéis dramáticos no cinema. Na vida real, a alegria que transparecia nos ecrãs era frequentemente quebrada por períodos difíceis. Nos anos 1970 e 1980, por exemplo, Robin Williams tinha uma dependência de cocaína a par com um problema de alcoolismo, que acabou por abandonar. Depois, até falava com humor sobre isso. “Que droga maravilhosa. Qualquer coisa que te torna paranóico e impotente, dêem-me mais disso”, ironizou certa vez, num espetáculo de stand-up comedy em Nova Iorque.
Em 2003, depois de um período de abstinência de 20 anos, voltou a beber. O vício “fica à espera até ao momento em que pensas ‘está tudo bem, estou bem agora’. De repente, já não está tudo bem”, disse numa entrevista em 2006, ano em que regressou a uma clínica de reabilitação. “Se eu fico triste? Oh sim. Se me afeta muito? Oh sim”, diria também. Essa convivência entre os dois papéis da sua vida – o de ator bem-sucedido que punha todo um elenco a rir só por causa de uma frase dita com sotaque do sul dos Estados Unidos e o de homem perturbado que cresceu numa mansão, sozinho, sem amigos, apenas com os seus 2 mil soldadinhos de chumbo para se entreter – tinha correspondência na versatilidade dos seus papéis para o ecrã. “Havia flashes de alegria anárquica nos seus papéis mais sérios e momentos, mesmo nas suas prestações mais leves, quando parecia que uma sombra havia perpassado na sua cara [a cloud had passed across his face, no original]”, comenta Matt Zoller Seitz, no site do crítico de cinema Roger Ebert, que morreu no ano passado mas, ao longo da sua vida, fez várias críticas a filmes de Williams.
No texto que escreveu sobre Bom dia, Vietname, o filme de Robin Williams que mereceu a Ebert uma maior classificação – 4 estrelas em 4 -, o crítico pergunta-se: “Ele é um camaleão talentoso que se transforma no que quer que seja que faça o público rir. Mas quem está lá dentro?” E continua, dizendo que no caso de outros comediantes famosos, como Steve Martin, Billy Crystal ou Eddie Murphy, “temos uma ideia – ou pensamos que temos.” “Com Williams, a barreira permanece impenetrável. Tal como Groucho Marx, ele usa a comédia como estratégia de ocultação pessoal [personal concealment, no original]”. Para Ebert, foi o facto de a personagem que interpretava – Adrian Cronauer, um DJ da Força Aérea dos Estados Unidos destacado para a Guerra do Vietname – ser ela própria comediante que fez com que Bom dia, Vietname se tornasse no “melhor trabalho que Williams já fez”.
Grande apreciador do improviso, utilizava a técnica frequentemente quer nos seus espetáculos de stand-up quer no cinema, não só nos filmes de animação – participou em 29 no total, desde o estrondoso sucesso Aladdin a Happy Feet – mas também nos outros. Ao que consta, em O Bom Rebelde, Williams improvisou toda uma cena e até pôs o operador de câmara a rir.
Um dos seus papéis mais famosos foi o de Mrs. Doubtfire, em Papá para sempre. A propósito desse filme, contou em 2013 na rede social Reddit que tentara comprar um vibrador numa sex shop vestido da personagem. Foi “só porque sim. Porque não? E o tipo estava já quase a vender-mo quando percebeu que era eu – Robin Williams – e não uma velha escocesa à procura de um vibrador muito grande e um frasco de lubrificante”, disse. Esse seu bom humor era o que levava Steven Spielberg a telefonar-lhe durante a rodagem de A Lista de Schindler só para contar anedotas que animassem o elenco do sombrio filme.
Numa vida de altos e baixos, luzes e sombras, há uma última e triste ironia: o último filme que protagonizou chama-se “The Angriest Man in Brooklyn” e conta a história de um homem que descobre que tem 90 minutos de vida e é esse todo o tempo que tem para se reconciliar com a sua mulher, o seu filho e com os seus amigos.
Este filme ainda não estreou em Portugal.