Donald Tusk, 57 anos, primeiro-ministro da Polónia, vai ser o próximo presidente do Conselho Europeu, sucedendo a Herman Van Rompuy. Tusk é um dos opositores das transgressões da Rússia nos últimos anos contra os países que a rodeiam e fez saber, nesta semana, através do seu gabinete, que vários governantes da União Europeia (UE) tinham tentado persuadi-lo a assumir novas funções. A eleição do político polaco foi feita por unanimidade durante a cimeira extraordinária dos líderes da UE que decorreu no sábado, 30 de agosto, em Bruxelas.

David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, foi um dos grandes apoios do político polaco, depois de uma fase inicial em que manifestou preferência pela primeira-ministra da Dinamarca, tal como a chanceler alemã, Angela Merkel. Os países de leste, que procuram assumir posições de maior relevo nas estruturas de poder da União Europeia, associaram-se à candidatura de Donald Tusk, que acabou por superar, na corrida, Helle Thorning-Schmidt, líder do Governo em Copenhaga.

A escolha de Tusk foi feita hoje pelos líderes europeus, que se reuniram em Bruxelas, e que nomearam, também, a atual chefe da diplomacia italiana, Federica Mogherini, para Alta Representante para os Negócios Estrangeiros. O anúncio foi feito por Herman Van Rompuy, na sua conta da rede social “twitter”, enquanto decorrem os trabalhos da cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia convocada para a atribuição dos altos cargos da UE ainda em aberto e na qual participa o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho. O mandato de Rompuy começou a 1 de junho de 2012 e termina a 30 de novembro de 2014, o que significa que Donald Tusk apenas iniciará funções em dezembro próximo.

Os trabalhos do Conselho Europeu foram interrompidos para uma conferência de imprensa conjunta de Van Rompuy, do seu sucessor, Tusk, e da sucessora da britânica Catherine Ashton como Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros.

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No currículo, Donald Tusk inscreve o facto de ser o líder de Governo que mais tempo passou no cargo desde a queda do regime comunista há 25 anos.

Donald Tusk, de centro-direita, é primeiro-ministro da Polónia desde 2007. No currículo inscreve o facto de ser o líder de Governo que mais tempo passou no cargo desde a queda do regime comunista há 25 anos, estabilidade que é vista como um pilar do sucesso da economia polaca durante os anos mais recentes. O político chegou a planear a candidatura a um novo mandato nas eleições legislativas que se realizam no país em outubro de 2015.

Na quarta-feira passada, fez um conjunto de promessas destinadas a captar o voto dos eleitores polacos para o seu partido, a Plataforma Cívica. O político garantiu aumentar os benefícios fiscais em 20% para as famílias com três ou mais filhos e subir as pensões mínimas em mais de três vezes em relação ao valor anunciado anteriormente. De acordo com Tusk, as medidas iriam atingir 1,2 milhões de famílias e custariam 1,1 mil milhões de euros por ano às finanças públicas da Polónia. Também anunciou o aumento do orçamento das despesas de defesa para 2% do produto interno bruto até 2016, referindo que o atual conflito nas fronteiras entre a Ucrânia e a Rússia constitui um “problema de segurança” para a Polónia.

Até ser nomeado para a liderança do Conselho Europeu, Donald Tusk enfrentou a oposição do centro-esquerda europeu. Entre outros motivos, devido ao fraco domínio das línguas inglesa e francesa, de acordo com o Financial Times. Esta circunstância poderia funcionar como um obstáculo para as negociações, por vezes complexas, destinadas a obter consensos entre os 28 membros da União.

A escolha de Federica Mogherini esteve mais tremida, por ser vista como pouco dura em relação à Rússia, sobretudo após o abate do voo MH17, da Malaysia Airlines.

“Venho de um país que acredita profundamente numa Europa unida”, afirmou Tusk após a votação que o elegeu, “e também estou convencido de que não há qualquer alternativa inteligente à União Europeia”. Helle Thorning-Schmidt afirmou que o futuro presidente do Conselho Europeu “é um político muito competente e com muita experiência, que tem sido muito importante para a Polónia”. E acrescentou que Donald Tusk será “um bom presidente, orientado para a obtenção de resultados no Conselho Europeu, que saberá escutar os Estados-membros”.

A escolha de Federica Mogherini esteve mais tremida, por ser vista como pouco dura em relação à Rússia, sobretudo após o abate do voo MH17, da Malaysia Airlines, por separaristas pró-russos que atuam na Ucrânia. A eleição da ministra dos Negócios Estrangeiros de Itália terá ficado a dever-se à intensa pressão feita pelo primeiro-ministro do país, Matteo Renzi, junto dos parceiros europeus. A opção por Tusk, cuja firmeza perante Moscovo é tida como insuspeita, terá ajudado a convencer os líderes da União. Angela Merkel também terá tentado persuadir os seus parceiros de que não desejava abrir novas frentes de divergência com Roma, numa altura em que há desencontros entre Alemanha e Itália em matérias económicas.

O Conselho Europeu tem como função “definir a direção e as prioridades políticas gerais” da União Europeia e “resolver determinadas questões que, pela sua complexidade ou sensibilidade, não podem ser resolvidas a um nível inferior da cooperação intergovernamental”, embora não disponha de competências legislativas. É composto pelos Chefes de Estado ou de Governo de cada país da UE, o Presidente da Comissão Europeia e o Presidente do Conselho Europeu, que lidera as reuniões. A Alta-Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança também participa nos Conselhos Europeus.

Este órgão reúne-se duas vezes por semestre, mas o presidente pode convocar um conselho extraordinário, se necessário. Geralmente, os encontros decorrem em Bruxelas.

Texto corrigido às 03h16 de 31 de agosto de 2014. Onde se lia 900 mil euros, devia ler-se 1,1 mil milhões de euros.