Os líderes da União Europeia poderão estar a considerar novas e pesadas sanções para a Rússia, numa altura em que aumentam as acusações de que as tropas russas estão a combater em solo ucraniano. A decisão deverá ser tomada este sábado, durante a cimeira de líderes dos 28 Estados-membros, escreve a BBC. O Kremlin, no entanto, nega que o seu Exército esteja a apoiar as milícias separatistas.

Durão Barroso manifestou este sábado em Bruxelas que a situação na Ucrânia é “muito séria” e pode chegar brevemente a um “ponto de não retorno”. O ainda presidente da Comissão Europeia, que falava à margem de uma conferência com o presidente ucraniano Petro Poroshenko, avisou a Rússia para não “subestimar a determinação” da Europa na tentativa de resolução deste conflito, deixando o palco aberto para a imposição de novas sanções contra aquele país, mas deixando claro que é preferível chegar a uma solução “pacífica” e diplomática.

Ainda nada está decidido sobre que postura vai adotar a UE na reunião desta tarde, mas tudo aponta no sentido de novas sanções à Rússia. A última pista foi dada pelo presidente francês, François Hollande, que admitiu este sábado não duvidar que o Conselho Europeu de Bruxelas se vai decidir pelo aumento das sanções à Rússia face à situação da Ucrânia – mas não especificou o tipo de sanções que deverão ser aplicadas. “As sanções serão sem dúvida aumentadas e a Comissão Europeia tem de considerar o nível das mesmas”, disse.

O presidente francês assinalou que a situação “se agravou” na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, acusou Moscovo de armar os separatistas daquele país e considerou “provável” a presença de soldados russos em território ucraniano. “Há uma escalada de violência que faz com que o número de mortos seja impressionante: 2.500 nas últimas semanas. A população civil está a ser particularmente afetada, com deslocados e refugiados”, afirmou o chefe do Estado francês, classificando a situação da Ucrânia como “a crise mais grave desde o final da guerra fria”.

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Hollande assinalou ainda que a “Europa está particularmente preocupada porque se trata de uma das suas fronteiras e porque a Ucrânia é um país associado à UE”.

Também a alta representante para os Negócios Estrangeiros da UE, Catherine Ashton, manifestou na sexta-feira, depois do primeiro dia de trabalhos entre os ministros dos Negócios Estrangeiros em Milão, uma “preocupação profunda” sobre aquilo que considerou ser uma “agressão russa contra a Ucrânia” e instou o Kremlin a “retirar imediatamente as suas forças” – e a travar o envio de “armas, equipamento e pessoal” para o leste do país.

Outra confirmação veio do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, que assegurou à agência Lusa que a escalada do conflito no leste da Ucrânia, entre o governo de Kiev e os separatistas pró-Rússia apoiados pelo regime de Moscovo, foi um dos principais temas em debate no encontro de Milão. Reconhecendo que “unanimidade é difícil”, o governante sublinhou que “isso não significa” que haja quem discorde de aplicar penalizações contra a Rússia, ainda que alguns defendam “sanções mais gravosas” e outros considerem que “não são tão importantes assim”.

Já na sexta-feira, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, tinha deixado um alerta para o facto de a “já perigosa situação” na Ucrânia ter atingido uma “nova dimensão”. “As infrações na fronteira intensificaram-se, o que aumenta a preocupação sobre o facto de a situação estar a fugir totalmente ao controlo dos Estados”, disse o ministro alemão, acrescentando que é “preciso parar, especialmente se quisermos evitar um confronto militar direto entre as forças militares ucranianas e russas”.

A deliberação da União Europeia sobre a situação ucraniana acontece num momento em que as tropas do Governo ucraniano continuam cercadas pelos rebeldes na região de Donetsk, fazendo escalar a tensão naquela região do leste do país. Segundo as agências de notícias, os separatistas pró-russos lançaram um ultimato aos militares do Exército ucraniano que estão alinhados junto à cidade de Ilovaisk para se renderem ainda durante a manhã deste sábado.

Petro Poroshenko vai participar na cimeira extraordinária deste sábado, onde será a voz da pressão sobre os líderes dos 28 para aumentaram as sanções contra o Kremlin. Segundo o chefe de Estado da Ucrânia, os ucranianos estão a ser vítimas de “uma agressão militar e de um cenário de terror” que envolve “centenas de tanques e milhares de tropas estrangeiras”.

Enquanto isso, as tropas separatistas avançam no terreno, estando a intensificar os combates junto ao porto de Mariupol e tendo atacado este sábado a vila de Novosvitlivka, perto da cidade de Lugansk, e “destruído todas as casas”, segundo disse o porta-voz militar da Ucrânia à Reuters. Segundo as Nações Unidas, quase 2600 pessoas já morreram desde o início do conflito, que é já o maior entre o Ocidente e Rússia desde a Guerra Fria.

Kremlin nega acusações

Apesar de a União Europeia estar a intensificar o discurso, a Rússia continua a afirmar que não está envolvida nas ações militares que estão a decorrer na Ucrânia. Segundo o vice-ministro da Defesa russo, Anatoli Antónov, não há tropas regulares russas em território ucraniano. “É claro que a Rússia não entra em qualquer guerra. A Federação Russa não participa, nem participará em ações militares na Ucrânia”, disse Antónov à agência oficial RIA-Nóvosti, citada pela agência Efe.

O governante sublinhou ainda que a política russa relativamente à Ucrânia consiste em cessar as hostilidades. “Lamentavelmente, há hoje certas forças que tentam enfrentar ambos os povos para que estale uma guerra”, acrescentou.

Permanece, no entanto, incerto se vai mesmo sair da cimeira uma nova ronda de sanções efetivas contra a Rússia, depois de a UE e os EUA já terem imposto sanções contra oficiais russos próximos de Vladimir Putin, comandos das milícias separatistas e empresas russas de vários ramos. Em julho, a União Europeia chegou mesmo a pôr na lista negra setores chave da economia russa, o que levou o Kremlin a responder com uma proibição à importação no setor alimentar.

A cimeira extraordinária de líderes que decorre este sábado em Bruxelas, deverá ainda decidir sobre os nomes dos próximos presidente do Conselho Europeu, do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança e do presidente do Eurogrupo.