Os Estados Unidos da América anunciaram, nesta sexta-feira, que estão formar uma “aliança central” entre os países da NATO para combater os militantes do Estado Islâmico no Iraque e Síria, pedindo apoio de outros aliados, mas descartando a hipótese de destacar forças no terreno.

“Nós temos de atacá-los de forma a prevenir que eles tomem o controlo de mais território, para reforçar as forças de segurança iraquianas e outros na região que estão preparadas para os atacar, sem comprometer as nossas próprias tropas”, disse John Kerry, secretário de estado norte-americano, ao anunciar a aliança de 10 países querem apoiar uma intervenção desta forma. “Obviamente, eu penso que essa é linha que todos aqui não queremos passar: nada de tropas no terreno.”

Segundo fontes diplomáticas, representantes dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Turquia, Polónia, Canadá, Dinamarca e Austrália já se reuniram hoje de manhã para debater a legalidade e a possibilidade de uma eventual intervenção internacional contra os ‘jihadistas’ na Síria, tendo em conta que o regime sírio é condenado pela maioria dos parceiros ocidentais.

Os Estados Unidos, que atacam o Estado Islâmico no Iraque, pretendem organizar uma coligação internacional contra o movimento que instituiu um califado islâmico em territórios conquistados no Iraque e na Síria. Os combatentes curdos que defrontam o Estado Islâmico no norte do Iraque já estão a receber armas dos Estados Unidos e da França, enquanto a Alemanha também já decidiu enviar armamento.

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David Cameron afirmou que o Reino Unido poderá comprometer-se com 3.500 soldados numa nova força de resposta rápida da NATO reunida para enfrentar as novas ameaças aos interesses da Aliança Atlântica, nomeadamente a crise na Ucrânia e as conquistas dos militantes islâmicos no Iraque e Síria.

Obama e Cameron juntaram-se no primeiro dia

O reino de terror perpetuado pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) está a preocupar a NATO, que se encontra reunida em Cardiff, no Reino Unido, ainda mais que a crise geopolítica que existe entre a Rússia e Ucrânia. Cresce a hipótese de uma intervenção militar: o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, pediram, na quinta-feira, que a organização abandone impulsos “isolacionistas.”

Para já, a NATO mantém uma postura ambígua perante o avanço da frente jihadista no Médio Oriente.

Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da NATO, disse aplaudir iniciativas individuais para contra-atacar os jihadistas, mas evitou falar em ações conjuntas durante o primeiro dia da cimeira. “Apoio os Estados que deram passos individuais para ajudar o Iraque. Apoio a ação militar norte-americana para estancar os avanços do Estado Islâmico. E apoio outros países que intervieram de outras formas. Creio que a comunidade internacional, no seu conjunto, tem a obrigação de impedir que o Estado Islâmico avance mais, mas no que toca à NATO, não recebemos nenhuma petição para um compromisso”, disse Rasmussen, no discurso inaugural da cimeira em Cardiff.

Essa “petição” chegou através dos meios de comunicação. Tanto Obama como Cameron, publicaram, na quinta-feira, um artigo conjunto de opinião no jornal britânico The Times onde pedem “colaboração aliada” numa intervenção no Iraque e Síria.

“Se os terroristas pensam que ficamos debilitados perante as suas ameaças, estão enganados. Países como o Reino Unido e Estados Unidos não são intimidados por assassinos”, lê-se no Times.

A única hipótese oferecida pela NATO até agora foi de colaborar com o Governo iraquiano sem intervir no conflito. Até 2011, a NATO mantinha uma missão no país de treinamento das forças militares – a má preparação das forças militares iraquianas foi um dos elementos mais vezes apontado como explicação da velocidade do avanço dos jihadistas. Rasmussen admitiu que essa força podia voltar a ser destacada para o país. “Se o Governo iraquiano pedir [ajuda], os aliados vão considerar essa hipótese seriamente”, afirmou à imprensa.

Porém, uma intervenção não militar pode não surtir qualquer efeito no país, dado que a órgãos políticos estão profundamente abalados e mal preparados para lidar com esta situação.

“Sabemos que se a comunidade internacional se unir podemos reduzir a esfera de influência do Estado Islâmico, tornando-o num problema mais fácil de lidar. Trata-se de estarmos seguros que temos a estratégia correta, mas também que temos a vontade internacional do nosso lado para faze-lo”, afirmou Obama, ainda antes da cimeira.

Na chegada à cimeira, Cameron anunciou ir unir-se a Obama no que toca aos ataques aéreos dos EUA no Iraque. “Devíamos fazer tudo o que podemos para ajudar aqueles que querem construir um Iraque para todos os iraquianos.” O líder britânico é o único, até ao momento, que disse publicamente que a hipótese de uma intervenção está em cima da mesa – nas últimas semanas, Cameron deu uma série de entrevistas onde tentou captar a opinião pública neste sentido, por causa do número dos jihadistas britânicos envolvidos no conflito.

O Reino Unido e os Estados Unidos da América são os países mais diretamente envolvidos com o horror extremista que se vive no Iraque e Síria, devido à decapitação dos jornalistas raptados na Síria.

De forma mais envergonhada, a François Hollande, Presidente de França, também já admitiu que os jihadistas são “uma ameaça para toda a região e mais além dela.”