Os líderes dos 28 vão juntar-se esta quinta e sexta-feira para discutir a estabilidade energética da União Europeia e novas rotas, que permitam aos Estados-membros dependerem menos de fontes externas de energia e de países como a Rússia, que rapidamente podem mudar o seu posicionamento geo-político. Portugal e Espanha estão no mesmo barco neste ponto defendendo interconexões através e França à rede energética da península que tem excedentes não só nas energias renováveis, mas também no gás proveniente maioritariamente da Argélia e Nigéria. Portugal está mesmo pronto a chumbar quaisquer conclusões que não incluam o país neste entendimento europeu.

“O nível de interligação entre Portugal, Espanha e a França, e, portanto, o resto da Europa, é inferior a 2% da capacidade instalada. Portugal e Espanha são uma ilha energética. Ora, nós fizemos esforços muito grandes do ponto de vista estrutural para poder ter uma economia mais competitiva e estamos alinhados com a ideia de ter um mercado interno de energia que possa funcionar plenamente”, disse o primeiro-ministro no Luxemburgo, avisando que o país está preparado para chumbar um novo pacote energético que não inclua a península.

Também esta semana, Bruno Maçães, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, já tinha dito à Reuters que Portugal se iria opor a uma solução que não incluísse interconectores aos sistemas energéticos de Portugal e Espanha. Esta reunião vai servir para alinhar estratégias de modo a tornar a distribuição de energia mais segura, mas ainda a necessidade de atingir os objetivos acordados para 2030 que apontam para a redução de 40% nas emissões de gases que provocam efeito de estufa.

“Não vamos apoiar um acordo que não inclua um compromisso vinculativo porque precisamos criar uma estrutura estável, previsível e regulada de maneira a atrairmos investimento”, justificou o secretário de Estado.

Nesta luta está também Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol. o El Mundo diz que o líder espanhol considera que este é um tema “estratégico” para o seu país e que fazer deste tema moeda de troca com os restantes parceiros europeus para assim aprovar as conclusões que sairão da reunião. Rajoy vai pedir “garantias” em Bruxelas para assegurar que Espanha não fica de fora da nova estratégia energética europeia – o novo comissário espanhol, Miguel Cañete, é o novo responsável pela Energia europeia.

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Os interesses dos países na nova mistura energética da Europa

Depois de se verificar a necessidade de constituir o início de uma possível união energética, derivada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a instabilidade energética a Leste – muitos países do leste e centro da Europa dependem inteiramente da Rússia para abastecimento de gás -, aos líderes europeus procuram agora acertar agulhas quanto ao novo mix ou mistura energética da União. A ideia é tentar ao máximos que os 28 sejam interdependentes e ao mesmo tempo independentes de fontes externas (especialmente fontes instáveis), podendo até virem a estabelecer-se contratos entre vários países e alguns produtores como a Rússia.

E aqui os interesses divergem. Segundo a Reuters, o Reino Unido vai opor-se a qualquer acordo que ultrapasse os 40% em 2020, enquanto a o Polónia quer financiamento para deixar de lado o carvão, uma energia altamente poluente. Já Madrid, segundo o Financial Times está em ponto de ebulição devido às medidas protecionistas de França que prefere continuar a depender da energia nuclear que produz, em vez de abrir interconectores que aproveitem os excedentes das energias renováveis da península.

Segundo este jornal, fontes diplomáticas esperam um “espetáculo” público entre Rajoy e Hollande sobre este tema, ao qual se junta Portugal que tem ainda esperança de estender o seu gasoduto do porto de Sines e ligá-lo diretamente a França.