O antigo ministro socialista dos Negócios Estrangeiros Luís Amado considerou hoje que a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) marcou “uma rutura no paradigma” da organização e trouxe “muitas incertezas” sobre o futuro.

A adesão, em julho passado, durante a X cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP, da Guiné Equatorial, país cuja língua predominante é o espanhol, representou “um momento de rutura num paradigma em que a comunidade viveu até hoje e que a partir de agora deixa de viver, com muitas incertezas relativamente à dinâmica que passará a ter no futuro”, afirmou o ex-ministro dos governos liderados por José Sócrates, que intervinha na apresentação do livro “Os Desafios do Futuro – 18 anos da CPLP”.

Esse funcionamento futuro, acrescentou, “vai resultar do equilíbrio de poder dentro da organização e da forma como o equilíbrio dos interesses e dos valores impõe a agenda da organização e impõe as decisões no fim de cada ciclo”.

A adesão do país liderado desde 1979 por Teodoro Obiang foi, na ótica do antigo governante socialista, um dos dois “momentos de descontinuidade” que se observaram na cimeira de Díli, cujo “significado histórico” enalteceu. “Lamento muito que em muitos círculos da sociedade portuguesa a cimeira tenha tido um alheamento tão intenso relativamente ao momento que representou para a organização”, declarou Luís Amado, que foi vice-presidente da comissão preparatória da reunião da organização lusófona na capital timorense.

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O antigo ministro destacou que Timor-Leste “assumiu a orientação estratégica de se inserir no espaço da CPLP”, o que garante aos restantes Estados-Membros, concentrados em torno do Atlântico, terem “uma representação dos seus interesses” na Ásia, que hoje vive “uma reorganização estratégica”.

O bloco de nove países, continuou, assume agora um “novo pilar”: o da cooperação económica e empresarial, “uma realidade nova na arquitetura institucional da CPLP, com grande importância para o futuro, sobretudo numa dimensão de internacionalização económica que todos os países vivem”.

Na cerimónia de apresentação do livro, que contou com a presença do primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anterior secretário-executivo da CPLP, Luís Amado desvalorizou quaisquer tensões que existam no seio da organização, que considerou normais, e deixou algumas orientações para o futuro. Uma delas é a abertura ao exterior, quando cresce o interesse de outros países na CPLP, como demonstram as adesões como observadores associados do Japão, Turquia, Geórgia e Namíbia, sendo a convergência na ação multilateral outro passo que “vai ter de ser prosseguido”.

Luís Amado defendeu ainda que a convergência de direitos de cidadania no espaço da CPLP “é o grande desafio da comunidade”, que deve também ter em consideração as questões relacionadas com a cooperação empresarial e as mudanças de paradigma, na última década, da ajuda ao desenvolvimento.

Por fim, o antigo responsável pela diplomacia portuguesa considerou que a organização tem de se reforçar de forma a ter uma presença “mais compatível com a dimensão e ambição” desta comunidade.