Um com oito pontos e mãos na lanterna de luz vermelha, dividida com o Arouca. O outro com mais um, mas logo ali, um degrau acima, a lutar por, ponto a ponto, ir amealhando os suficientes para não chegar ao verão e não tremer de preocupação. Só há uma diferença: este parágrafo vem com um ano de atraso. E serve para mostrar como as coisas mudam. Muito e para o bem. Em 2013/14, com dez jornadas e dois meses e meio de campeonato, assim estavam o Belenenses e o Paços de Ferreira. Aflitos. Hoje estão seguros, confiantes e com as botas cheias de pontos.
Já não é surpresa quando, semana sim, semana sim, uma equipa e um treinador fazem bem as coisas e ganham. Agora, em 2014/15, os que vestem todos de azul e os outros, de amarelo, continuam juntos — mas lá em cima. Os de Belém estão no quarto posto (20 pontos), e quem vem de Paços de Ferreira está logo atrás, em sexto (18 pontos). A época passada, a última equipa a safar-se da despromoção, na tabela, fê-lo com 28 pontos. Quem foi? O Belenenses.
A equipa conseguiu-o à rasca. A mesma que, agora, venceu o Moreirense (1-0) e continua a cinco pontos da liderança, a recordar os tempos idos em que andava sempre lá em cima, na liga, a lutar pelo caneco. Tem Miguel Rosa, um extremo renegado da Luz, a fintar e desenterrar jogadas de perigo na esquerda. Tem Fredy, que faz o mesmo por todo o lado. E depois há Deyverson, o goleador, que já acertou sete remates, os mesmos de Jackson Martínez, por exemplo.
Mais atrás, Bruno China, o trintão, segura as rédeas de um meio campo certinho, preocupado, sobretudo, em fazer bem as coisas. A velocidade, as invenções e a criatividade vêm depois. “A nossa responsabilidade é trabalhar todos os dias para sermos melhores. Tenho dito aos meus jogadores que a trabalhar desta forma vão ganhar mais vezes”, revelou Lito Vidigal, o treinador, o homem que tudo comanda. E ordena, porque o discurso é o mesmo em todos os jogadores — trabalho, trabalho e mais trabalho.
Para já, o Belenenses só ainda não conseguiu vencer o Sporting (1-1), Vitória de Setúbal (1-1), Paços de Ferreira (0-2) e Vitória de Guimarães (0-3). A época passada, como lembrou Lito Vidigal, em Belém havia uma equipa “com muitas dificuldades em ganhar”. Pelos vistos, foram superadas — o clube já vai com seis vitórias, as mesmas que somava no final das 30 jornadas da temporada passada. Bravo. E sabem que mais? Isto tudo na equipa onde, para já, mora o sexto plantel com o menor valor de mercado do campeonato: 652 mil euros, diz-nos o site transfermarkt.com.
Adversários há muitos. Com armas distintas, poderes vários e fraquezas diversas. Das duas uma: com um treinador acredita no que anda a montar desde a pré-época e enfrenta toda a gente da mesma maneira, ou vai moldado o exército consoante quem lhe aparece à frente. Julen Lopetegui, já se viu, até costumava ser mais de mexer nas peças, e não no molde do tabuleiro. No Estoril, contudo, decidiu fazê-lo: largou o 4-3-3, foi buscar o 4-4-2 e a coisa não correu bem.
Os dragões não aproveitaram os laterais, os dois médios foram engolidos e Adrián, a novidade ao lado de Jackson, estava sempre escondido. Só um golo de Óliver, aos 94’, agarrou a equipa a um empate, colou um ponto à invenção de Lopetegui e impediu que Tozé chorasse ainda mais. Porque foi dele, do pequenote (1,70m) número ‘10’, portista do coração e canarinho por empréstimo, o golo de penálti que quase dava a vitória ao Estoril. “Foi difícil para mim, mas tentei ser profissional”, disse, no final. O pior é que já há quem diga que responsáveis do FC Porto o recriminaram por o ter feito. A ser verdade, isto de profissional tem muito pouco. Ou nada. Assim não.
Como também não pode ser com o Sporting, se a equipa quiser colar-se ao topo. Os leões, após um rugido de reviravolta na Champions (a perder 1-0, em casa, acabou a vencer por 4-2 o Schalke 04) e marcar sete golos em 180 minutos a uma equipa alemã, registou o quinto empate no campeonato. Sim, houve oportunidades falhadas e um fora de jogo do qual se podem queixar, mas quem deseja perseguir um caneco tem de vencer as equipas que, em teoria, deviam estar a perseguir o Sporting na tabela.
“Estou muito orgulhoso com o que fizeram os meus jogadores, embora já saiba que se vai dar muito demérito ao que fez o Sporting e pouco mérito ao que fez o Paços.” Paulo Fonseca até tem razão. Culpa das expetativas: antes de o campeonato arrancar, todos esperam que os leões sempre, pelo menos 15 das 18 equipas da liga. A culpa é da história e das taças que o clube tem guardadas nas prateleiras de Alvalade. E das que o Paços de Ferreira ainda não possui.
O Paços jogou bem. Muito bem, às vezes, sobretudo na primeira parte. Manteve a bola na relva, nunca optou pelo chutão para a frente, aproximou os seus jogadores, insistiu nos passes curtos e evadiu-se quase sempre da pressão leonina. E tem que haver mérito dado a um treinador que, enquanto esteve nesta equipa, só perdeu para o campeonato contra o FC Porto e Benfica. Mais ninguém. E Paulo Fonseca já vai em 40 jogos feitos na liga com o Paços de Ferreira. É obra. Mesmo.
Arouca 1-2 Vitória de Guimarães
Sporting de Braga 2-0 Gil Vicente
Boavista 1-0 Penafiel
Moreirense 0-1 Belenenses
Nacional da Madeira 1-2 Benfica
Vitória de Setúbal 1-0 Marítimo
Sporting 1-1 Paços de Ferreira
Estoril 2-2 FC Porto
* o Rio Ave-Académica joga-se esta segunda-feira, a partir das 20h.
Pode não surpreender a Jorge Jesus, como o disse o treinador do Benfica, mas o Vitória do Guimarães, surpresa, já conseguiu dormir uma noite (de sábado para domingo) deste último fim de semana na liderança do campeonato. Os encarnados, só com os faróis mínimos ligados na Madeira, reclamaram mais uma vitória — a 200.ª de Jesus no Benfica — e ganharam dois pontos aos rivais, FC Porto e Sporting. Os históricos, pois os rivais dos pontos (V. de Guimarães, Belenenses e Paços de Ferreira), os verdadeiros, estão à mesma distância. Destaque também para o Boavista de Petit, que mais de um mês depois (não o fazia desde 28 de setembro) voltou a ganhar.