A revisão constitucional “não é esse o centro do problema para a próxima legislatura”, mas sim “encontrar o modelo de crescimento do produto e do emprego ao mesmo tempo que não se compromete a presença de Portugal no euro”. Numa entrevista ao Público, Ferro Rodrigues deixa garantias: “Não me parece que nos próximos quatro anos essa questão deva ser colocada.”

Para o líder parlamentar do PS na era António Costa, “as funções do Estado estão bem estabelecidas na Constituição, a questão é saber como é que se tornam cada vez mais sustentáveis as funções do Estado. Isso não é um problema Constitucional, é um problema político”, que divide a esquerda e a direita. O que a atual Constituição permitiu nestes anos, diz, foi “evitar que excessos ainda maiores tivessem sido evitados” pelo atual Executivo.

Na mesma entrevista, Ferro Rodrigues explica porque a sua assinatura no Manifesto dos 40, que pedia uma reestruturação da dívida, perdeu atualidade. “Quando o Manifesto foi elaborado havia uma esperança infundada de que a Comissão Europeia, naquele momento, estivesse a levar para a frente um conjunto de trabalhos que pudesse permitir colocar na agenda política europeia a questão da dívida. O que aconteceu foi exatamente o contrário”, alega o socialista. “Não só a Comissão Barroso deixou de certa maneira cair a questão, como em relação a esta Comissão, nas audições que foram feitas a todos os comissários, a questão da dívida dos Estados-membros do euro esteve totalmente ausente. E essa é uma mudança que nós não podemos ignorar.”

Ferro diz-se convencido de que “a questão da dívida vai aparecer com mais força do que nessa altura daqui a uns tempos”, mas reconhece que “neste momento está com bastante menos força e não consta da agenda europeia.”

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Sócrates é passado. Belém uma incógnita

A conversa com os jornalistas passa ainda por José Sócrates, que Ferro diz ter sido dos primeiros a criticar no seu partido. Desde logo “a forma de exercício do poder por José Sócrates, uma certa arrogância que não era compatível com a situação que se vivia então no país” e a “tendência para não sublinhar aspetos também de dificuldade que o povo português vivia e apenas sublinhar a parte positiva do que se estava a realizar”. Agora, o tempo é diferente e as políticas de Sócrates – que Ferro diz terem sido positivas – não poderão ser as mesmas. “As prioridades têm de ser completamente diferentes. Os financiamentos são diferentes.”

Quanto ao seu futuro, Ferro Rodrigues não responde à pergunta sobre se pode ser o candidato do PS a Belém caso António Guterres não esteja disponível. “Qualquer dia estou como o dr. António Vitorino, transformado numa espécie de D. Constança, ele disse que não há festa nem festança sem D. Constança. Como lhe digo, neste momento estou preocupado com o contributo que possa dar para uma solução política alternativa a esta política deste Governo. E é nisso que vou estar focado nos próximos meses.”