O partido Livre vai alugar a casa mas a “candidatura cidadã” é de todos. Foi esta a ideia que Rui Tavares transmitiu esta tarde, durante a apresentação da candidatura do novo movimento de esquerda às eleições legislativas de 2015. Além do Livre, fazem parte do movimento a associação política Fórum Manifesto, da ex-bloquista Ana Drago, assim como a Renovação Comunista, liderada por Cipriano Justo. Mas não só. O movimento é “feito por cidadãos e para cidadãos” e o objetivo é maior do que a candidatura às eleições: “é construir uma casa comum”.

Formalmente, quem dá a casa é o Livre, explicou o dirigente daquele partido durante a apresentação da candidatura que decorreu esta tarde na Casa da Imprensa, em Lisboa. Isto porque o Livre já é reconhecido enquanto partido no Tribunal Constitucional e a lei portuguesa não permite que movimentos não partidários concorram a eleições. A candidatura terá, por isso, a sua forma jurídica assente naquele partido, explicou Rui Tavares. Mas o movimento estará aberto a todos, literalmente, já que a constituição das listas dentro do partido será feita através de eleições primárias abertas.

“Trata-se de construir uma casa comum: uma casa comum às políticas e ideias progressistas, aos valores da liberdade e direitos fundamentais, à defesa da Constituição e à luta contra a austeridade. Nessa casa comum todos trazemos as ferramentas que temos, e que são o nosso saber, o nosso esforço, o nosso entusiasmo, mas sempre em igualdade”, disse Rui Tavares.

Fazendo questão de realçar que não era enquanto representantes de organizações que falavam, Rui Tavares, que estava sentado ao lado de Ana Drago, defendeu uma linha de atuação muito democrática e participativa como objetivos do novo movimento que se vai candidatar às eleições do próximo ano. “Falamos de cidadãos para cidadãos e iniciamos hoje um caminho como iguais”, disse.

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Como vai funcionar a candidatura?

  • O primeiro momento vai ser a convenção do movimento, marcada para 31 de janeiro, onde serão aprovadas as linhas programáticas do movimento que Rui Tavares descreveu como “alternativa governativa”, e onde se dará início ao processo de constituição de listas candidatas. Ou seja, começa ao contrário, contrariando o esquema habitual de apresentar um programa e uma lista de candidatos aos eleitores;
  • Depois, seguem-se duas outras etapas que vão ocorrer em simultâneo: a construção conjunta do programa de governo, como um todo, “utilizando as ferramentas da deliberação democrática”; e ao mesmo tempo a constituição de listas de candidatos através de eleições primárias abertas;
  • Por fim, Rui Tavares sublinhou a última etapa da candidatura como uma etapa que não termina. “Não queremos que o movimento se esgote a seguir às eleições”, disse, sublinhando que não é um movimento para uma candidatura, mas sim para uma legislatura.

Admitindo que as escolhas que os portugueses têm de fazer são “difíceis”, o dirigente do Livre apelou à participação de “todos” – “dos trabalhadores, aos desempregados, passando pelos que emigraram e por toda a gente que se revê na necessidade imperiosa de mudança” – e defendeu que chegou a hora de “avançar”. “Aqui está o nosso como, a nossa maneira de mudar as coisas”, disse.

Desde o verão que o Livre, a Associação Manifesto e a Renovação Comunista estavam em contacto para construir uma plataforma de candidatura às legislativas de 2015. Só não se sabia em que moldes seria o acordo, já que das várias organizações, só o Livre é formalmente um partido político reconhecido no TC. A aproximação ao PS como possível parceiro de coligação governativa permanece em cima da mesa, num cenário pós-eleitoral.