As erupções vulcânicas que assolam há uma semana a ilha cabo-verdiana do Fogo intensificaram-se na madrugada deste domingo e as lavas taparam totalmente a sede do Parque Natural local.
Segundo Nuno Oliveira, coordenador das operações do Serviço Nacional de Proteção Civil indicou à Lusa a lava chegou a avançar um metro por minuto, informação que foi corroborada pela ministra do Desenvolvimento Rural cabo-verdiana, Eva Ortet, que adiantou existirem seis frentes de lava.
As lavas, segundo Nuno Oliveira, já destruíram a 16.ª casa em Portela, localidade evacuada ao longo da semana, localizada no planalto de Chã das Caldeiras, que serve de base aos vários cones vulcânicos em erupção. “A situação está muito complicada”, frisou Nuno Oliveira, que nada mais adiantou por ter de se de ausentar para mais operações de vigilância.
A boca da cratera principal ultrapassou já centenas de metros, com os técnicos no terreno a não conseguirem determinar qual o diâmetro total, o que tem provocado um aumento significativo da torrente de lava.
Além da sede do Parque Natural do Fogo, cuja lava tinha destruído somente a parte traseira do edifício, equivalente a 15% do edifício, já foram destruídas 16 casas de habitação, 15 currais, 14 cisternas de água, várias barracas de apoio à agricultura e uma extensa área de produção agrícola, mas sem quaisquer vítimas.
Em Portela, permanece o presidente da Cooperativa de Viticultores de Chã das Caldeiras, David Monteiro, que continua a optar por permanecer na localidade, onde armazena parte da produção vinícola de 2013 e a totalidade de 2014, num total de mais de 200 mil litros de vinho.
Fonte da Direção-Geral de Estradas cabo-verdiana indicou ter ordenado avançar uma grua para tentar retirar alguma parte da produção, uma vez que está armazenada em grandes vasilhas, tentando depois transportá-la para um local mais alto fora do alcance das lavas.
A estrada alternativa que liga a entrada do Parque Natural do Fogo a Portel, num total de 11 quilómetros, junto às paredes da grande cratera de Chã das Caldeiras ainda está transitável, correndo-se o risco, porém, de ficar encerrada com o aumento do volume da lava.
Além de Portela, localidade com pouco mais de mil habitantes, e que se situa a meio caminho do norte da cratera, outra povoação, Bengaeira poderá vir a ser afetada, pois encontra-se já na descida do lado norte a caminhos de Mosteiros, que não é servida por qualquer via rodoviária.
“Explosões intensas” no sábado à tarde
No final da tarde de sábado, a erupção vulcânica tinha voltado a ganhar intensidade, com “explosões intensas” e maior fluxo de lava e de diâmetro da cratera, segundo o Observatório Vulcanológico.
“Está mais explosivo e com maior fluxo de lava, que alargou a base onde tem assentado. Está estável, porém, em direção a Portela [localidade no centro da zona de Chã das Caleiras], porque a lava está a infiltrar-se nos túneis lávicos”, explicou à Lusa a presidente da comissão técnica e científica do Observatório Vulcanológico de Cabo Verde.
Sónia Silva Vitória tinha acrescentado que a única frente ativa era a que seguia em direção a Portela, que “estacionou” há dois dias a cerca de 50 metros de uma escola, o que não significava que não podia avançar alguns centímetros por hora.
A geóloga também reconheceu que, comparando com a atividade de sexta-feira, há mais alguns fluxos, algumas novas frentes, embora estejam a evoluir em largura e sobrepondo-se às anteriores, “aproveitando os túneis para se infiltrarem”. Quanto às próximas horas, Sónia Silva Vitória disse que se mantinha uma “grande imprevisibilidade” do vulcão.
A zona de Chã das Caldeiras, planalto que serve de base aos cones vulcânicos, está agora com a segurança “mais apertada”, indicou à Lusa o comandante da Polícia Nacional, que coordena as operações na ilha do Fogo. Tito Barros salientou que foram instalados postos de controlo à entrada do Parque Natural do Fogo e outro no lado norte, na descida para Mosteiros, onde a Polícia Nacional controla a entrada e saída de pessoas.
“Já decretámos o interior como uma zona de segurança máxima e não seria aconselhável permitir a entrada de pessoas, pelo menos por enquanto. As pessoas estão a respeitar isso”, explicou à Lusa.
Este sábado, adiantou Tito Barros, as forças de segurança reuniram-se com os cerca de 10 residentes que ainda se mantêm em Portela, para explicar os riscos de permanecerem na agora deserta localidade, pois os pouco mais de 1.000 habitantes já a abandonaram. “A mensagem passou. Se calhar, o encontro já devia ter acontecido antes. Foi bom, porque não houve necessidade de uma intervenção de força. As pessoas estão a colaborar”, afirmou.
Ao final da tarde de sábado, a Lusa assistiu à passagem dos últimos camiões com pertences dos residentes em Portela, onde se mantém um contingente de segurança composto por elementos da Polícia Nacional, militares e Proteção Civil.
Portela é a localidade que alberga a maior população de Chã das Caldeiras e onde a lava do vulcão que entrou em erupção a 23 deste mês já “devorou 15 habitações, 14 cisternas, 15 currais, duas casas de apoio à agricultura e uma vasta área de terreno agrícola, não havendo vítimas a registar.