O Presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou na segunda-feira, em declarações a jornalistas, um conjunto de medidas para garantir que não há uma “cultura militarizada” nos corpos de polícia do país.
No final da terceira reunião que promoveu na sequência da morte de um adolescente negro por um polícia branco, em Ferguson, no Estado do Missouri, que desencadeou uma série de manifestações, algumas das quais degeneraram em violência, Obama reconheceu que a desconfiança face aos polícias é “um problema nacional”.
“Vou assinar uma ordem executiva a especificar como vamos impedir (…) a construção de uma cultura militarizada nos nossos serviços de segurança locais”, afirmou o Presidente norte-americano.
Durante os protestos que se verificaram em Ferguson depois da morte do jovem negro Michael Brown, em agosto passado, a polícia local foi acusada de agir de forma desproporcionada e recorrer a equipamentos militares, adquiridos através de um programa do pentágono, que os transfere para serviços estatais e locais em todo o país.
A Casa Branca terminou na segunda-feira a revisão dos serviços abrangidos pelo programa, denominado 1033, e concluiu que há “uma falta de consistência” na sua aplicação, pelo que Obama apontou a necessidade de alimentar a “transparência” e “prestação de contas” na sua aplicação.
A ordem executiva que Obama está a preparar procura aumentar a supervisão do programa, mas não bloquear a muito questionada transferência de material militar. Um dirigente da Casa Branca disse aos jornalistas que Obama não tem autoridade para interromper a transferência do equipamento militar, uma vez que esta foi ordenada pelo Congresso.
Obama anunciou também que vai pedir ao Congresso que aprove o investimento de 263 milhões de dólares (235 milhões de euros) em três anos, em várias medidas relacionadas com as polícias locais, incluindo 75 milhões de dólares para incorporar câmaras de filmar nos uniformes de 50 mil agentes, de forma a gravar as suas interações com civis.
O uso de câmaras pelos polícias é uma das principais exigências dos ativistas, depois do caso de Ferguson, em que testemunhos contraditórios sobre as circunstâncias da morte de Brown conduziram na semana passada um júri a não acusar o agente que disparou, Darren Wilson.
Obama disse que o secretário da Justiça, Eric Holder, vai viajar pelos EUA e que a Casa Branca vai criar um grupo de trabalho sobre a polícia local, que lhe deverá entregar um relatório com conclusões dentro de 90 dias.
“Este não é simplesmente um problema de Ferguson, Missouri. Este é um problema que é nacional. É um problema que se pode resolver, mas infelizmente aparece (depois de cada crise) e desaparece, até voltar a acontecer” outra crise, disse Obama.
O Presidente norte-americano garantiu que “está profundamente envolvido em garantir” a melhoria da confiança dos cidadãos na polícia, porque “ouvir que há jovens que fizeram tudo bem e se sentem marginalizados” é algo que, especificou, “viola” a sua fé nos EUA.
“Nos dois anos que me restam como Presidente vou certificar-me de que cumprimos. Não que resolvemos cada problema, não que rompemos todas as barreiras de desconfiança que possam existir, mas sim de que melhoramos as coisas”, prometeu.