“Combati muitas vezes na linha da frente aquilo a que se qualificou como socratismo, toda aquela promiscuidade entre Estado e o setor privado”, afirmou o ministro da Economia, António Pires de Lima em entrevista a Maria João Avillez, no Observador.

Apesar de garantir que “por uma questão de princípio e educação jamais [o] verão utilizar este caso da justiça como pretexto para o combate político”, o ministro da Economia e ex-dirigente do CDS não tem dúvidas de que a detenção do anterior primeiro-ministro vai ter influência nas próximas eleições legislativas.

Depois de deixar vários elogios ao secretário-geral do Partido Socialista, António Costa, pela forma como “está a liderar o partido neste momento tão delicado”, o ministro acredita que a sorte acabou por sorrir aos socialistas: o que aconteceria, hoje, se as eleições legislativas tivessem sido antecipadas como defendia o PS?

“Acho que aquilo que está a acontecer no país é de tal forma surpreendente que (…) eu não consigo fazer uma antecipação daquilo que se vai passar daqui a 10/11 meses. (…) Há três ou quatro semanas, o PS protestava veementemente com o Presidente da República por cumprir a Constituição. (…) Agora eu acho que o PS respira de alívio pelas eleições só acontecerem no período constitucional previsto. Portanto, veja lá como as coisas mudam de uma forma tão rápida em Portugal”, sublinhou Pires de Lima.

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Sobre a aparente viragem à esquerda de António Costa, que no último congresso socialista afastou entendimentos futuros com PSD e CDS, o ministro da Economia desvalorizou esse discurso, descrevendo-o como uma operação de charme à esquerda. Com o aproximar das eleições, o ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa protagonizará uma aproximação ao eleitorado do centro, acredita Pires de Lima.

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“António Costa é muito hábil: primeiro mete a esquerda no bolso e depois vai falar para o eleitorado do centro, quando a esquerda estiver mais comprometida. Por isso, acho que este movimento é um movimento político hábil”.

Num momento em que nem PSD, nem CDS, esclareceram ainda se vão, ou não, concorrer em coligação às próximas eleições legislativas, o ministro da Economia mostra-se otimista: a união dos partidos seria “um desenvolvimento natural depois de quatro anos de governação”.

Para o ministro da Economia, se o CDS se “quisesse destacar autonomamente do PSD para concorrer às eleições legislativas (…) provavelmente já teria de o ter feito antes”. O braço-direito de Paulo Portas no Executivo destacou, ainda, a importância da coligação e assumiu o desejo de que “ela se venha a concretizar, porque é a forma de maximizarmos a possibilidade de o próximo primeiro-ministro voltar a ser Pedro Passos Coelho”.

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“Ainda não tive oportunidade de ler o livro de Álvaro Santos Pereira”

Foi desta forma que António Pires de Lima rematou a questão colocada por Maria João Avillez sobre as mais recentes revelações de Álvaro Santos Pereira no seu livro “Reformar sem medo”.

Na obra, o anterior ministro da Economia – foi substituído precisamente pelo ex-presidente executivo da Unicer, na remodelação do Executivo, a 24 de julho de 2013 – teceu duras críticas ao CDS e, especialmente, a Paulo Portas, que acusou de ter feito “intriga e chantagem com um país numa situação dramática e que estava sob assistência financeira”, quando apresentou o seu pedido de demissão “irrevogável” a Pedro Passos Coelho. Para Álvaro Santos Pereira, a sua saída do Governo era há muito pretendida pelo CDS, que ambicionava controlar a pasta da Economia “desde o primeiro dia”.

Pires de Lima, no entanto, recusou-se a alimentar polémicas com o seu antecessor, descrevendo apenas como “sábia” a remodelação encetada por Pedro Passos Coelho. Além disso, destacou o ministro da Economia, desde aí, nunca mais se falou em instabilidade da coligação.

“Desde que houve essa remodelação, de que fez parte a substituição do ministro da Economia, nunca mais se falou, pelo menos de forma séria, em instabilidade da coligação. Este Governo, que diziam era um Governo tão sujeito a instabilidades antes dessa remodelação, parece ter ficado mais arrumado, organizado e até a comprometer mais o CDS”, sublinhou o atual ministro da Economia.

Ainda assim, Pires de Lima reconheceu que a decisão do então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no verão de 2013, teve efeitos no modo como PSD e CDS se passaram a relacionar e a encontrar um equilíbrio de poderes. Se, por um lado, a decisão de Portas potenciou as mudanças no Governo que “tinham de ser feitas”, por outro, foi a “determinação e a firmeza de estadista de Pedro Passos Coelho” que asseguraram a estabilidade governativa.

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Segundo o ministro da Economia, a prova dessa estabilidade política e do “verdadeiro serviço público que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas prestaram ao país” está na recuperação e no crescimento económico do país, depois da herança deixada pelo anterior Governo socialista, liderado por José Sócrates.

“Os socialistas deixaram-nos o país sob resgate, nós vamos deixar no final da legislatura um país que vai aos mercados; os socialistas deixaram-nos um país onde o desemprego crescia drasticamente, nós vamos deixar um país com menos desemprego do que aquele que herdámos; os socialistas deixaram-nos um país em recessão, nós vamos deixar um país em crescimento, moderado mas em crescimento”.

O que pode dividir a coligação? O candidato a Belém

António Pires de Lima voltou a mostrar-se favorável sobre uma eventual candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa às eleições presidenciais de 2016.

O ministro da Economia já antes tinha descrito o antigo presidente do PSD como “aquele que tem melhores condições para disputar umas eleições representando o espaço do Centro e da Direita democrática”, um comentário que, na altura, causou desconforto na coligação – é que Pedro Passos Coelho já garantiu que não apoiaria um “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas”, referindo-se, presumivelmente, ao comentador da TVI.

No entanto, o ministro da Economia não acredita “que nada se tenha mudado radicalmente”, o que significa que continua a ver com bons olhos uma eventual corrida de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém, se o professor demonstrar vontade nesse sentido.

Mas existem outros nomes que, na opinião de Pires de Lima, seriam bons candidatos a Presidente da República, enquanto forças “agregadoras da direita e do centro” do espetro político português. Apesar de recusar colar a sua opinião à vontade do partido, o ministro da Economia sugeriu também o nome de Rui Rio, alguém que considera ser um “bom candidato” e que tem “condições para se apresentar às eleições presidenciais e ganhar”.

Todavia, o antigo dirigente do CDS sublinhou a importância de que qualquer candidatura – destes ou de outros protagonistas – ser motivada “pela vontade pessoal do candidato” e não “como uma espécie de indigitação do líder do PSD ou do CDS”, até para “garantir a independência e a credibilidade” que o exercício do cargo de Presidente da República assim exige.

Por isso, e até haver uma demonstração cabal de interesse de algum destes candidatos para concorrer às presidenciais, o ministro da Economia e o CDS não se comprometem com qualquer um dos nomes até agora apontados como eventuais sucessores de Aníbal Cavaco Silva.

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