As ações europeias caminham para registar o primeiro mês de dezembro negativo desde 2008, com a queda do governo na Grécia a inibir a maioria dos investidores e a aumentar a aversão ao risco nos mercados. O índice PSI-20 da bolsa de Lisboa está a perder 1,7% e a bolsa de Atenas está a cair pela terceira sessão consecutiva, apesar de os analistas estarem a desdramatizar as sondagens favoráveis ao Syriza, um partido de esquerda radical que defende uma nova reestruturação da dívida pública grega. A novidade dos centristas do Potami e a possibilidade de o antigo ministro Georges Papandreou fundar um novo partido estão a baralhar as contas pré-eleitorais.
O índice FTASE da bolsa de Atenas está a cair 1,13%, segundo a Bloomberg, depois de na segunda-feira as ações gregas terem descido para mínimos de quase um ano e meio. A bolsa de Atenas terminou a sessão de segunda-feira a perder 3,91%, depois de ter sido anunciada a realização de eleições legislativas antecipadas após o fracasso do Parlamento na eleição do Presidente da República. Esta terça-feira, o primeiro-ministro demissionário, Antonis Samaras, disse que “esta batalha [as eleições de 25 de janeiro] vai determinar se a Grécia fica na Europa”.
Três dias a cair nas ações de Atenas
A bolsa de Atenas esteve segunda-feira a cair mais de 12%, mas as perdas atenuaram-se depois de a maioria dos analistas ter assumido uma visão relativamente tranquila sobre o que aí vem. Em todas as sondagens feitas na Grécia desde maio, o partido de esquerda radical Syriza ficou à frente. A mais recente, feita pela Palmos Analysis para a TVXS, dá 29,9% ao Syriza, liderado por Alexis Tsipras, e 23,4% ao partido Nova Democracia, de Antonis Samaras.
Os economistas do Commerzbank reconhecem que “a maré política na Grécia pode estar prestes a virar, mas não acreditamos que tudo irá ser virado de pernas para o ar”. Porquê? Porque mesmo que seja o partido mais votado nas eleições, “o Syriza necessitará sempre de contar com o apoio de outros partidos no parlamento”. A julgar pelas sondagens atuais, para governar o Syriza precisaria de pelo menos um parceiro de coligação. Mas, aí, os socialistas do Pasok, que eram governo quando começou a crise da dívida e que integram a coligação atual, teriam apenas 3,3% dos votos, segundo a sondagem. Os comunistas do KKE têm 3,8% das intenções de voto e são muitas as antipatias públicas entre o Syriza e os comunistas do KKE.
Mais do que um “joker”
O “joker” aqui poderá ser o Potami, fundado pelo jornalista Stavros Theodorakis, com 7,1% dos votos nas sondagens. É um partido recente, centrista, que aparece como o terceiro mais votado e que poderá acabar por ter um papel determinante no processo de formação de governo que se seguirá às eleições. O partido mais votado terá três dias para formar governo. Caso não consiga, é dada a oportunidade ao segundo partido mais votado para tentar formar governo. Se não resultar, é o terceiro partido mais votado a convidar os outros deputados a quebrar o impasse. Se também nesta situação não for possível formar governo, o presidente convoca novas eleições.
Mas o Potami não é o único “joker” que pode surgir. Surgiram notícias nos últimos dias que apontam para que o antigo primeiro-ministro Georges Papandreou poderá estar de regresso e formar um novo partido, a apresentar aos cidadãos nos primeiros dias de janeiro. Papandreou era o líder do governo quando a Grécia pediu ajuda internacional, em 2010, e foi substituído por Evangelos Venizelos na liderança dos socialistas do Pasok, um partido histórico mas que está nas “ruas da amargura”, a julgar pelas sondagens. Acredita-se que parte da subida do Syriza se deveu à transferência de votos que eram do Pasok. Conseguirá Papandreou recuperar alguns desses votos e perturbar a liderança do Syriza nas sondagens?
As eleições na Grécia em 2012, que só à segunda tentativa conseguiram eleger uma coligação governativa (liderada por Antonis Samaras), conseguiram desestabilizar a confiança dos investidores na integridade da zona euro. Um problema que só se resolveu, por sinal, com o discurso de Mario Draghi em que prometeu “fazer tudo, dentro do mandato, para preservar o euro”. Nesta altura, com a expectativa de que o BCE irá avançar para um programa generalizada de dívida pública no mercado, os analistas estão convencidos de que não haverá um contágio desmedido da crise grega para os outros países da zona euro. Esta terça-feira, o Tesouro italiano financiou-se à taxa mais baixa de sempre no mercado de dívida, apesar da incerteza gerada pela Grécia.