35 a 40 dólares por barril. É este o intervalo que pode fazer toda a diferença no mega investimento que tem vindo a ser realizado na exploração e produção de petróleo em águas profundas do Brasil. Em declarações produzidas em outubro de 2014, o presidente executivo da Galp relembrou, a propósito do campo Lula, que o preço de breakeven (que garante o retorno do investimento) está entre os 35 e os 40 dólares por barril.

Quando a pergunta foi feita a Manuel Ferreira de Oliveira, numa conferência com analistas, o petróleo estava entre os 84 e os 88 dólares por barril, cotação média do mês de outubro para o Brent de Londres e o West Texas Intermediate dos Estados Unidos, respetivamente. Desde então, as cotações do petróleo não têm parado de cair. Esta segunda-feira, o Brent para entrega em fevereiro esteve a negociar com perdas acima dos 6% na casa dos 52 dólares por barril. O petróleo dos Estados Unidos quebrou a barreira psicológica dos 50 dólares por barril, pela primeira vez desde abril de 2009.

Quando confrontado em outubro com a descida das cotações e com previsões que apontavam para o agravamento da tendência, Ferreira de Oliveira respondeu: “Nenhum dos grandes projetos em que estamos envolvidos tem os seus fundamentos económicos em risco no atual ambiente de preços. Quero que saibam que testamos estes projetos a preços mais baixos do que os atuais (de Outubro de 2014). Quero lembrar que o consórcio BM-S-11, para referir apenas o projeto Lula, afirmou em várias ocasiões de que o nosso preço de breakeven, em termos de remuneração do investimento ao custo do capital, é de cerca de 35 a 40 dólares por barril”.

O plano estratégico da Galp prevê investimentos de 1,5 a 1,7 mil milhões de euros por ano até 2018, com até 90% desta verba a ser canalizada para a exploração e produção. O Brasil é o principal destino. Há bancos de investimento internacionais a sustentar que a rentabilidade dos investimentos feitos no offshore brasileiro é superior à de outros projetos, pelo que resistirão à baixa das cotações do petróleo. Mas a validade dessas análises depende de até onde vão descer os preços e, sobretudo, quanto tempo vão ficar baixos.

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O desenvolvimento das gigantescas reservas do chamado pré-sal tem-se apoiado em cotações internacionais do petróleo entre os 80 e os 100 dólares por barril. A exploração em águas profundas exige um complexo sistema de extração e logística que torna a produção mais cara. A descida dos preços do petróleo já tem vindo a comprometer a viabilidade de projetos mais onerosos, sobretudo ao nível dos recursos não convencionais, como o shale oil ou as lamas do Canadá.

Para já, o pré-sal brasileiro, no que toca aos campos em desenvolvimento, não tem sido referido como estando em risco pelos analistas. Ainda na semana passada, a Petrobrás anunciou “a comercialidade” do campo Iara, com oito poços, o que significa que o consórcio onde a Galp tem uma participação de 10% vai investir o necessário para desenvolver a produção.

Segundo um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas em 2010, e citado pela revista Época, que o custo médio do barril produzido na bacia de Santos seria de 22 dólares por barril. Para o projeto do pré-sal ser rentável, os valores de venda precisariam rondar os 45 dólares por barril no mercado americano. Os valores de referência terão baixado com o investimento já realizado e a redução do risco associado ao projeto.

A queda do petróleo arrasta ações da Galp

A acentuada descida dos preços internacionais do crude tem constituído sinal de alerta para os mercados. Um sintoma dos nervos dos investidores é a descida das cotações das empresas petrolíferas. É que mesmo que os investimentos em produção se mantenham na faixa da rentabilidade, o lucro das produtoras baixa. Esta segunda-feira as ações da Galp caíram 5,14% para 8,063 euros, numa sessão que foi muito negativa para a bolsa portuguesa.

A descida do petróleo deverá contudo representar a breve prazo novas descidas no preço dos combustíveis, não obstante este efeito ser travado pela desvalorização do euro face ao dólar e pelo aumento de impostos e de incorporação de biocombustíveis no mercado nacional.