Cerca de três centenas de pessoas reuniram-se hoje na Praia da Vitória num protesto silencioso contra redução militar norte-americana na Base das Lajes e a falta de medidas de mitigação do Governo da República. A vigília, organizada pela União de Sindicatos de Angra do Heroísmo (USAH) e pela Comissão Representativa dos Trabalhadores portugueses da Base das Lajes (CRT), juntou a população no Largo da Luz, na cidade da Praia da Vitória, entre as 16:00 e as 17:00 horas (hora local).

O protesto decorreu de forma pacífica, sem cartazes ou gritos de luta, ouvindo-se apenas os discursos do coordenador do sindicato, do representante dos trabalhadores, do presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória e uma mensagem escrita enviada pelo secretário-geral da CGTP nacional, Arménio Carlos.

Para Roberto Monteiro, autarca da Praia da Vitória e presidente do Conselho de Ilha da Terceira, os norte-americanos mostraram um “sentimento de ingratidão e até de alguma discriminação” pela forma como pretendem implementar a redução militar na Base das Lajes, tendo em conta que noutras bases europeias foi dado um prazo mais alargado e outras contrapartidas. “Não podemos deixar que nos imponham reduções num prazo de nove meses quando é quase impossível termos soluções de mitigação sem vermos os nossos jovens fazerem as malas e abandonarem a nossa terra, enquanto para outros países riquíssimos na União Europeia, que têm outras condições e alternativas, são dadas décadas para resolverem um problema de redução gradual”, frisou.

O autarca lembrou que o impacto da redução militar norte-americana na Base das Lajes já se faz sentir na ilha desde que os militares deixaram de ter direito ao acompanhamento dos familiares, acusando os Estados Unidos de quererem manter todas as condições dentro da base, a utilização de metade do porto e as contingências que têm na área circundante à base sem “implementar medidas de mitigação”.

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“Nós não estamos apenas a lutar por aqueles que neste momento são alvo direto destas medidas, estamos a lutar pelo futuro dos nossos filhos e dos nossos netos, estamos a lutar por uma estratégia que nos conduza a uma nova economia sem dependências da base e estamos a lutar pela responsabilização de alguém que acolhemos em nossa casa durante muitas décadas”, sublinhou.

Roberto Monteiro acusou os norte-americanos de terem desviado propositadamente centenas de aviões para outras rotas “com o dobro da distância” ao longos dos últimos dois anos, para terem uma justificação para reduzir a sua presença militar na Base das Lajes. Por outro lado, o autarca salientou que as declarações do embaixador dos Estados Unidos da América e de alguns governantes portugueses dão a sensação de que “há outras jogadas feitas nas costas deste processo”.

“Somos apenas 60 mil pessoas a gritar no meio de uma ilha. Somos demasiado pequenos para reivindicar coisas que não vão de encontro aos grandes interesses nacionais e aos interesses dos aliados. À nossa custa não podemos permitir isso”, frisou. Também Bruno Nogueira, presidente da CRT, deixou um alerta ao Governo da República para a necessidade de impor aos norte-americanos que sejam dadas oportunidades de rescisão por mútuo acordo, em vez de despedirem os trabalhadores mais novos.

“Já chega de sermos trocados por equipamento militar, por treinos conjuntos, por fundações que pouco fazem pela nossa ilha”, frisou. Vítor Silva, coordenador da USAH, considerou que a vigília foi uma oportunidade para os terceirenses manifestarem a sua “indignação para com a posição norte-americana”, mas também um “um protesto contra o Governo da República pela forma como tem conduzido este processo”.