O Commerzbank assinala que “os investidores e o público em geral estão cada vez mais conscientes de que a economia espanhola bateu no fundo e está, agora, no caminho da recuperação“. “No entanto, é frequentemente esquecido que o mesmo se aplica a Portugal“, afirmam economistas do banco de investimento alemão. Ainda para mais, sublinha o Commerzbank, com o Podemos em alta nas sondagens em Espanha, Portugal tem um menor risco político de haver um desvio das “reformas aplicadas nos últimos anos, que estão a dar frutos“.
Em nota enviada aos clientes, a que o Observador teve acesso, o banco alemão assinala que “desde a última primavera, a economia portuguesa tem crescido a um ritmo mais veloz do que a média da zona euro e o desemprego está em forte queda”. “Também à semelhança de Espanha, a recuperação tem sido proporcionada não só pelas exportações mas também pela melhoria da procura interna”, nota o banco.
“Estas tendências positivas devem sobreviver à provável mudança de governo no outono, já que isso teria em Portugal um impacto menor sobre a política económica do que seria o caso em Espanha caso o Podemos subisse ao poder”. Esta é a opinião do Commerzbank, que está confiante de que “as taxas de juro de Portugal devem continuar a cair” no mercado.
O banco alemão considera que “é improvável que a economia mais robusta e a queda do desemprego sejam suficientes para manter o atual governo no poder”, diz o Commerbank, olhando para as eleições legislativas do próximo outono. O Commerzbank, que admite uma coligação entre o Partido Socialista e o CDS-PP tendo em conta “as posições extremistas dos partidos à esquerda [do PS]”, diz que “um novo governo liderado pelo Partido Socialista poderia, sem dúvida, colocar maior ênfase em políticas diferentes, potencialmente tentando suavizar o impacto de alguns cortes na segurança social”.
“No entanto, é improvável que haja uma alteração completa das políticas de reforma do mercado de trabalho ou uma expansão brusca do défice público – algo que parece possível em Espanha caso o Podemos viesse a vencer as eleições”. Aliás, lembra o Commerzbank, “foram os socialistas que pediram a assistência externa e promoveram os primeiros cortes [orçamentais]”.
Um país mais atrativo para investir
Portugal tem beneficiado do “facto de a procura interna ter ressuscitado, como em Espanha” mas, também, está numa situação melhor graças à “maior competitividade nos mercados globais”, o que, por sua vez, se deve ao facto de se ter tornado um país mais atrativo para investir, como o Commerzbank já havia elogiado em outubro.
O país ganha também com fatores como a desvalorização do euro face ao dólar, o petróleo mais barato e os custos de financiamento mais baixos para as empresas. Algo que outro banco de investimento, o holandês, ING, também apontou recentemente. A menor pressão imposta pelos constrangimentos orçamentais do Estado será, também, um fator cada vez mais importante para estimular a atividade no setor privado, diz o Commerzbank.
A travar a recuperação continuará a estar o endividamento elevado de empresas e famílias. Aí, o Commerzbank aponta que, ao contrário do que acontece em Espanha, não está a notar-se uma aceleração do ritmo a que as empresas estão a reduzir o endividamento.