Numa das últimas entrevistas que deu, Boris Nemtsov não poupou críticas a Vladimir Putin e ao governo russo. À Newsweek polaca, o antigo vice-primeiro-ministro acusou o Presidente russo de usar propaganda “ao estilo de Goebbels” para fazer uma lavagem cerebral ao russos, convencendo-os de que o Ocidente é algo “mau” e “fraco”. Apesar de 80% dos russo ainda apoiar Putin, Nemstov defendeu uma nova Rússia, democrática e aberta. E sem receios, disse abertamente — “apesar disto, iremos tentar”.
À revista polaca, Nemtsov disse que, devido às políticas de Putin, a Rússia está a afundar. “Um país com um potencial sem paralelo está a afundar, uma economia que acumulou reservas incontáveis está a colapsar”, referiu. “Hoje estamos em crise. O que é que temos? Inflação de dois dígitos, desvalorização do rublo, fuga de capitais”, acrescentou.
Apesar disso, Nemtsov defendeu que o povo russo ainda acredita no seu líder porque, nos últimos anos, Vladimir Putin tem feito uma coisa bem — “uma lavagem cerebral aos russos”, fazendo-os acreditar que o Ocidente é algo “mau” e “fraco”.
“Implantou-lhes o vírus do complexo de inferioridade em relação ao Ocidente, a crença de que a única coisa que pode maravilhar o mundo é o uso da força, da violência e da agressão. [Putin] programou os meus conterrâneos para odiarem estrangeiros”.
Para o líder da oposição, tudo isto foi conseguido através do uso de propaganda “ao estilo de Goebbels”, o ministro da propaganda de Adolf Hitler. Com a ajuda de Konstantin Ernst, diretor do Canal Um russo, e de Dmitry Kiselyov, diretor da agência de notícias Rossiya Sednya, Putin tem “jogado com as emoções”, utilizando os princípios do ministro nazi. “Esta propaganda é direcionada aos homens simples. Não existe espaço para perguntas, nuances. Infelizmente, funciona”, referiu.
Através do uso de alguns elementos do passado, que incluem elementos da tradição soviética, Nemstov acreditava que Putin criou uma espécie diferente de fascismo — “o fascismo híbrido contemporâneo”. Para o líder da oposição, estas políticas levariam à desagregação e ao suicídio do Estado, que estaria rapidamente a tornar-se num “estado fascista”. “Já temos a propaganda modelada a partir da Alemanha nazi”, disse.
“Temos um partido construído a partir do culto do seu líder e alguns partidos-satélite irrelevantes. Todos os anos há uma patética paródia de uma eleição. Temos uma política internacional chauvinista e agressiva, um reacender dos complexos imperiais, a militarização da sociedade. Estas são as características de um regime fascista”.
Durante a entrevista, referiu ainda que existe uma guerra na Ucrânia, apesar de o “Kremlin o negar e fazer de conta que não tem nada a ver com os tanques e os regimentos em Donetsk”, na região leste ucraniana. É também assim com o fascismo na Rússia — as autoridades negam a sua existência, mas ele existe. “Se não pararmos esta loucura, as consequências serão devastadoras para nós”, defendeu.
Em relação à luta contra o regime de Putin, Nemstov disse que o Presidente está preparado para lutar contra a sua própria nação. “Ele tem um aparelho de segurança poderoso. Cada protesto pode ser facilmente afogado em sangue”, disse. Apesar disso, não hesitou — “iremos tentar”. Contudo, o facto de Putin ter poder, também significa que “pode perdê-lo”.
“Para que isto se torne realidade, é preciso uma visão alternativa, uma ideia diferente da Rússia. A nossa ideia é a de uma Rússia democrática e aberta. Um país que não utilize métodos criminosos contra os seus próprios cidadãos e vizinhos. Mas, como referi, o fascismo russo é híbrido. E os híbridos são extremamente resistentes”.