Os Estados Unidos pediram ao Governo moçambicano uma investigação “exaustiva e transparente” ao assassínio do constitucionalista Gilles Cistac e que os responsáveis por “este crime hediondo” sejam levados à justiça.

“Os Estados Unidos condenam veementemente o violento assassinato do professor catedrático moçambicano Gilles Cistac, perpetrado hoje”, declara um comunicado enviado à Lusa pela embaixada norte-americana em Maputo, recordando o académico como um homem que “ensinou gerações de estudantes de Direito, contribuindo desta forma para o desenvolvimento democrático de Moçambique”.

O texto do comunicado recorda pronunciamentos dos líderes moçambicanos no sentido de que “todos os cidadãos, organizações, partidos e vozes possam exercer plenamente o seu direito constitucional a se expressarem e fazerem-se ouvir”, considerando que essa é uma questão “crucial”, à medida que “moçambicanos de diversas proveniências se juntam na construção de um futuro são, inclusivo e próspero para todos”.

O constitucionalista moçambicano Gilles Cistac foi assassinado a tiro hoje de manhã por desconhecidos, à saída de um café no centro de Maputo.

O académico foi transportado ainda com vida para o Hospital Central de Maputo, onde acabou por morrer cerca das 13:00 locais (11:00 em Lisboa).

A polícia disse que segue a pista de quatro suspeitos, três negros e um branco, e que foi este último quem abriu fogo contra Cistac.

Na semana passada, o académico anunciou que ia processar um homem que, através da rede social Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Cistac de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.

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Gilles Cistac, de origem francesa, era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo, partido no poder.

Em entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, principal partido de oposição) de criar regiões autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.

O Governo moçambicano considerou o atentado “um ato macabro” e espera que os autores sejam “exemplarmente punidos”, enquanto a Renamo afirmou que o académico foi vítima de “perseguição política” motivada pelas suas posições recentes, e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) declarou que se tratou de um assassínio por encomenda.