Moscovo, 5 de março. Está dado o onde e o quando da última vez que Vladimir Putin, presidente russo, foi visto em público. Nem duas semanas passaram, mas foi o suficiente para os rumores se espreguiçarem e começarem a sair da toca: estará Putin doente? Tanto cresceram — surgiu até um tópico no Twitter, com a hashtag #putinisdead — que o porta-voz do governante teve de falar para desmentir as suspeitas. “Está bem. Tem reuniões a toda a hora. Tem hoje [quinta-feira] e amanhã. Mas não sei quais quererá tornar públicas”, disse Dmitri Peskov.

Os rumores ganharam força no início desta semana, quando Putin cancelou a presença num encontro no Cazaquistão, onde iria reunir-se com o presidente local, Nursultan Nazarbayev, e homólogo bielorrusso, Alexander Lukashenko. Mas a polémica foi criada pelo RBC Daily, um jornal económico, sediado em Moscovo, que citou uma fonte do governo cazaque para avançar um suposto débil estado de saúde do líder russo. Rumores que já tiveram eco na imprensa polaca — na qual o jornal Wyborcza escreve que Vladimir Putin estará prestes a abandonar o poder na Rússia. Ou, pelo menos, não o continuar a agarrar com tanta força.

O artigo baseia-se num texto escrito por Andrei Illarionov. Trata-se de um economista russo, de 53 anos, que já serviu como conselheiro de Putin e, em 2014, previu publicamente a investida russa sobre a Ucrânia cerca de três semanas antes de o país entrar na Península da Crimeia. O hoje membro do Cato Institute, um think tank norte-americano, defende que, nos corredores do Kremlin, fala-se num golpe para derrubar Putin e que, nos próximos, se as suas previsões se confirmarem, haverá alterações nos cargos de poder na Rússia. Mas não necessariamente, ou pelo menos para já, envolvendo o presidente.

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Sustentado pelas opiniões de Illarionov, o diário polaco escreve que, “nos próximos dias”, Dmitri Medvedev, primeiro-ministro russo desde 2012, após cumprir um mandato como presidente do país — a constituição não permitia a Vladimitir Putin, que fora presidente entre 2000 e 2008, ocupar o cargo durante três termos consecutivos — poderá demitir-se. Porquê ele? Pois, para o seu lugar, Putin poderá, e quererá, nomear Serguei Ivanov, atual chefe do gabinete da presidência e antigo ministro da Defesa russo. Ivanov é há muito encarado pelos analistas como um dos preferidos de Putin e seu provável sucessor num cargo de poder na Rússia. E em caso de demissão do presidente, a constituição russa prevê que seja o primeiro-ministro a substituí-lo interinamente no cargo, até serem convocadas, e realizadas, eleições no país.

Rumores causados pelo “sol da primavera”

O representante de Vladimir Putin sugeriu que tanto rumor se deve aos ares primaveris. “Quando o sol de primavera aparece, e assim que a estação esteja no ar, as pessoas ficam com febre”, defendeu Peskov, ao acrescentar que a presidência russa “está calma” e encara “estes ataques febris com comoção”, tentando “responder com paciência às questões que surgem”. O porta-voz, contudo, não indicou qualquer data para a próxima aparição pública de Vladimir Putin.

“Há pessoas que sonham com a demissão de Sechi [presidente da Rosneft, firma de petróleo detida pelo governo da Rússia], outras que sonham com a demissão do governo e ainda as que começam a pensar que não veem o Putin na televisão há vários dias”, disse também Dmitri Peskov.

O RBC Daily chegou a escrever que o Kremlin estaria a utilizar imagens antigas de Putin nos comunicados que tem emitido desde 4 de março, quando o governante se reuniu com Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano — esta foi, aliás, a primeira visita de um líder de uma das principais economias europeias a Moscovo, desde que a Rússia anexou a Península da Crimeia, a 18 de março de 2014.

Na quarta-feira, o presidente russo não compareceu numa reunião agendada com responsáveis da Ossétia do Sul, região separatista da Geórgia e, no dia seguinte, foi noticiado que Putin também falhou um encontro anual com oficiais do Serviço Federal de Segurança do país, escreveu o The Guardian.

Entretanto, o Kremlin já anunciou que Vladimir Putin reunir-se-á com Almazbek Atambaiev, presidente do Quirguistão, na terça-feira, 16 de março.

Também esta sexta-feira, a CNN noticiou que Vladimir Putin prescindiu dos serviços da Ketchum, uma consultora de comunicação norte-americana que, 2006, contratara antes de uma cimeira do G8, em São Petersburgo, cidade na Rússia, para melhorar a imagem do país no Ocidente. A estação de televisão noticiou que o governo russo terá gasto à volta de 28,3 milhões de euros neste serviço de assessoria.