As autoridades francesas não estão completamente convencidas quanto aos motivos que terão levado Andreas Lubtiz a provocar de forma deliberada a queda do Airbus 320. A “personalidade” do copiloto e o histórico clínico associado a episódios de depressão profunda do alemão são “pistas sérias”, mas “não as únicas em análise”, revelou o subdiretor da Polícia Judiciária francesa, o general Jean-Pierre Michel.

“Nós fornecemos uma série de elementos que nos permitem avançar nesta pista, que é uma pista séria, mas que pode não ser a única”, começou por dizer o subdiretor da Polícia Judiciária francesa, que está a colaborar com as autoridades alemãs nas investigações. No entanto, o general Jean-Pierre Michel deixou o aviso: neste momento da investigação não há ainda “nenhum elemento específico” na vida do copiloto, seja um desgosto amoroso ou um problema profissional, que possa explicar um gesto voluntário para destruir o avião.

O responsável da investigação francesa ao acidente do avião da Germanwings não descarta, aliás, a possibilidade de uma falha do aparelho ou outras hipóteses. “Embora seja necessário estabelecer prioridades numa investigação, de forma a incluir o máximo de possibilidades para a resolver, não temos o direito de excluir outros cenários, incluindo a mecânica, até porque não ficou demonstrado que o aparelho não apresentava alguma dificuldade”, disse o general Jean-Pierre Michel.

Em declarações à cadeia de televisão BMF TV, o francês lembrou que as autoridades ainda não dispõem de todos os elementos técnicos sobre o acidente, destacando que a análise da segunda caixa-negra, se esta chegar a ser encontrada, será particularmente “esclarecedora”.

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Ainda assim, as revelações da ex-namorada de Lubitz, uma assistente de bordo de 26 anos, identificada apenas como Maria W., vêm trazer uma nova luz sobre o perfil do copiloto. Durante o último ano, o alemão, lembrado pelos antigos colegas como alguém “obsessivo” cujo único sonho era “voar”,  terá confessado à antiga companheira o desejo de fazer algo drástico: “Um dia vou fazer algo que vai mudar todo o sistema, e, depois, todos vão saber o meu nome e lembrá-lo para sempre”, terá dito Andreas Lubtiz.

Os detalhes sobre a vida de Andreas Lubtiz começam, de resto, a ser lentamente desvendados. O alemão de 27 anos, que, ao que tudo indica, estaria a passar por um momento menos feliz na vida sentimental, tinha enfrentado uma depressão profunda em 2009. Na terça-feira, horas antes do acidente que provocou a morte a 150 pessoas, terá escondido da companhia aérea um atestado médico que o dava como incapaz para pilotar. O mesmo atestado que as autoridades alemãs encontraram rasgado em casa do copiloto.

“Nunca percebi o que ele queria dizer, mas agora tudo faz sentido”, lamentou Maria W., em entrevista ao jornal alemão Bild. “Ele sabia esconder das outras pessoas o que realmente se passava”. De acordo com a assistente de bordo, Andreas Lubitz sofria de Síndrome de Burnout, um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional. Um distúrbio psicológico que o fazia ter pesadelos frequentemente. “À noite, ele [Lubitz] acordava e gritava: ‘Estamos a cair!'”, revelou a ex-namorada.

Mas há mais revelações este sábado: Andreas Lubitz terá procurado tratamento para os problemas de visão que alegadamente o afetavam e que reduziam consideravelmente a sua capacidade para pilotar, conta o The New York Times, citando duas fontes próximas da investigação.

Esta informação ainda não foi confirmada de forma oficial e é impossível descortinar o quão graves seriam os problemas de visão do copiloto alemão – ou sequer se os tinha verdadeiramente. Mas este dado, a confirmar-se, poderá influenciar de forma significativa o rumo das investigações. O mesmo jornal cita uma outra fonte próxima das investigações que garante mesmo que as autoridades ainda não descartaram essa possibilidade. Mais: os investigadores estarão agora a tentar perceber se os problemas de visão de Lubitz – a existirem de facto – teriam origem psicossomática. Isto é, eram consequência de um distúrbio psicológico e não de uma debilidade física.

Sabe-se que o alemão tinha um histórico depressivo, que o terá levado, inclusivamente, a interromper a sua formação de piloto. As revelações da ex-namorada parecem dar força a essa versão dos acontecimentos. Os alegados problemas de visão trazem agora mais dados sobre o perfil de Andreas Lubitz. No entanto, continua a faltar uma peça no puzzle: algum indício de que o copiloto estivesse prestes a cometer suicídio – uma carta de despedida, por exemplo. Os próximos dias poderão ser, por isso, decisivos.

Cerimónia religiosa junta centenas de pessoas em homenagem às vítimas do Airbus A320

Esta terça-feira foi realizada uma cerimónia religiosa para homenagear as vítimas do acidente aéreo às 09:30 (08:30 em Lisboa) na Catedral de Nossa Senhora da cidade de Digne-les-Bains, sudeste da França, perto da área do acidente. A cerimónia foi celebrada pelo Bispo de Digne, Dom Jean-Philippe Nault, o mais jovem de França, de 49 anos.

“Eu vim para rezar pelas famílias e pelas vítimas. Estou realmente afetada por este drama. É importante ter hoje este gesto religioso”, disse Marie-Pierre, aos jornalistas da France-Presse.

Por sua vez, Jacqueline, de 81 anos, afirmou estar “transtornada com o drama” e sublinhou a importância de apoiar os familiares das vítimas através da oração e confiar as próprias vítimas à misericórdia de Deus”.

Entretanto, foi anunciada uma cerimónia de luto nacional em memória das 150 vítimas do acidente do Airbus A320 da Germanwings a 17 de abril, na Catedral de Colónia, na Alemanha.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente alemão, Joachim Gauck, estarão presentes, disse à AFP um porta-voz do Estado da Renânia do Norte-Vestfália.

“As famílias e os amigos das vítimas”, dos quais muitos são provenientes desta região, estão convidados, assim como representantes dos outros países atingidos pela catástrofe, acrescentou a mesma fonte, sublinhando que “é igualmente importante que a população possa estar presente na cerimónia”.

* Artigo atualizado às 15h57 com a notícia avançada pelo NYT sobre os alegados problemas de visão do copiloto