“Contrariamente ao que foi apregoado durante muitos anos, as evidências científicas têm vindo a confirmar que, realmente, também existem malefícios associados à ingestão de leite”, explicou à agência Lusa o nutricionista Nuno Velho Cabral. Este especialista defende por isso que os adultos devem moderar a ingestão de leite, uma vez que essas evidências científicas associam o seu consumo a problemas de saúde, como doenças coronárias.
O nutricionista salvaguarda, contudo, que os malefícios apontados são proporcionais à quantidade de leite ingerida e que não é certamente por um adulto saudável ingerir um copo de leite por dia que irá prejudicar, à partida, a sua saúde. “O leite era visto como um alimento algo completo, fonte de proteína, de algumas vitaminas e de cálcio, mas hoje existem muitos outros alimentos com teor de cálcio igualmente elevado como os brócolos, as ameixas, espinafres cozidos ou a sardinha”, explicou.
O nutricionista açoriano contextualiza que o leite surgiu sempre como um bom instrumento para tentar suprir algumas das necessidades em meios subdesenvolvidos e aponta que há também muitos interesses económicos na área da alimentação, como é o caso da indústria dos lacticínios, que incentivam o seu consumo.
“Ao contrário do que durante anos e anos se tem vindo a dizer, que o leite é muito rico em cálcio e previne a osteoporose, o que se sabe hoje em dia é que o nosso corpo tem uma necessidade extrema de deslocar parte do cálcio que já existe nos nossos ossos para ir neutralizar a acidez do estômago provocada por este alimento”, declara.
Sublinhando que esta questão vai muito além da intolerância à lactose, Nuno Velho Cabral refere que as novas gerações fazem hoje outras opções quando procuram os profissionais para se aconselharem, com base na internet ou revistas da especialidade.
O especialista em nutrição exemplifica que hoje está na moda as sementes de chia, que são o elemento que se conhece atualmente com o teor mais elevado de cálcio que existe no planeta e que facilmente se pode inserir na alimentação com um iogurte, uma sopa ou uma salada. “Neste momento, as pessoas cada vez mais procuraram outras opções, incluindo substituir leite por outras bebidas de arroz ou amêndoa, ou ainda à base de soja. Sem sombra de dúvida que pode-se fazer uma alimentação equilibrada sem prejudicar a nossa saúde, não bebendo leite”, afirma o nutricionista.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o consumo de leite e produtos lácteos per capita no país teve uma quebra, embora pouco acentuada, entre 2009 e 2013. Enquanto em 2009 cada português consumia 85,2 quilos de leite, em 2013, últimos dados conhecidos, este valor era de 79,8 quilos.