António Costa vai, para já, manter o silêncio sobre o não definitivo de Guterres às presidenciais, segundo apurou o Observador. Mas no partido, a decisão de Guterres não está a ser recebida com espanto ou surpresa, já que era conhecida a “dúvida existencial” do antigo primeiro-ministro em entrar na corria a Belém. Agora é altura de o partido se concentrar nas legislativas – um apelo estendido aos possíveis candidatos que queiram apoio do PS e que têm vindo a avançar com a sua disponibilidade nas últimas semanas.
“É preciso é que o PS agora pense em apresentar uma alternativa de Governo e não numa alternativa para o Presidente da República”, defende o deputado Vitalino Canas em declarações ao Observador. Segundo o socialista, a recusa de Guterres não é um choque para o partido, já que eram conhecidas “as dúvidas existenciais” do ex-governante. Canas desdramatiza a situação e diz mesmo que tudo o que desvie a atenção das eleições legislativas “é mau para o PS”.
Também para José Lello, deputado e antigo ministro da Juventude e Desporto de António Guterres, a decisão “não é novidade”. “É evidente que António Guterres era muito bem querido pelo PS, mas tem outros objetivos de vida”, afirma o deputado ao Observador. Agora a prioridade do PS, segundo o socialista, “são as legislativas”. O segundo objetivo? “No momento certo, eleger Jaime Gama como Presidente da República”. Confrontado com a recusa pública de Jaime Gama em entrar na corrida a Belém, Lello diz que a eleição de Gama é a sua “perspetiva pessoal”.
Já Vitalino Canas não menciona nomes, mas assegura que “o PS tem muitos candidatos que pode apoiar”, mas só depois das legislativas. “Não seria bom ter duas campanhas e dois candidatos, possivelmente com discursos diferentes, ao mesmo tempo”, afirmou Vitalino Canas.
Graça Fonseca, do secretariado de Costa, considerou a declaração e Guterres “um contributo para recentrar no que é importante (as legislativas) e não nos que pretendem ser presidentes da República”. Na RTP Informação, esta dirigente afirmou ainda ver “com estupefação” a “animação” em torno das presidenciais.
O eurodeputado Carlos Zorrinho confessa que preferia que Guterres fosse candidato mas que é “muito importante” o ex-primeiro-ministro ter feito a declaração desta sexta-feira pois agora o PS deve concentrar-se nas legislativas. “A esquerda não deve cair na armadilha de discutir candidaturas presidenciais. Só depois das legislativas”, disse na SIC Notícias.
Também o líder parlamentar Ferro Rodrigues tinha deixado o mesmo mote na quinta-feira, ainda antes do anúncio de Guterres. Falando aos jornalistas depois de uma reunião do grupo parlamentar onde, apesar de tudo, o “tema das presidenciais não foi tratado”, Ferro deixou claro que a discussão sobre nomes para a eleição de janeiro é “um erro político crasso” e apelou à concentração das atenções nas legislativas.
Na edição deste sábado, o semanário Expresso avança que reina um certo “mal-estar” nas fileiras socialistas na sequência do suposto apoio que António Costa deu a Sampaio da Nóvoa sem avisar o partido. Apesar de o secretário-geral socialista ainda não ter manifestado publicamente qualquer apoio ao ex-reitor da Universidade de Lisboa, adiando a decisão para “momento oportuno”, o mesmo jornal avança que as hostes da candidatura de Nóvoa garantem ter recebido “apoio evidente e seguro” do líder socialista. Mas se o fez, a máquina do partido queixa-se por não ter sido informada.