O PS apresentou esta terça-feira o primeiro documento que servirá de base ao programa eleitoral socialista. Numa primeira análise feita “à boca das urnas”, o único candidato oficial à Presidência da República, Henrique Neto, tem reticências. Nomeadamente sobre a capacidade de o Estado contribuir para a “inovação” das empresas e sobre o facto de o aumento do consumo (com a reposição de salários) ter tendência para gerar um aumento das importações.
Ao Observador, o ex-deputado socialista e empresário destacou o pilar da “inovação”, que António Costa apontou como sendo um dos cinco onde assentam as propostas do PS, para dar uma no cravo e outra na ferradura. Se, por um lado, Henrique Neto elogia o facto de António Costa ter apontado a inovação do setor empresarial como prioridade, por outro, levantou dúvidas sobre se “isso pode ser conseguido pelo Estado”. E se for, “será sempre a médio prazo”.
Durante a apresentação do cenário macroeconómico elaborado pelos economistas ligados ao PS, o líder socialista apontou a inovação, confiança, alternativa, dignidade e rigor como sendo os cinco eixos principais sobre os quais assenta o programa, afirmando que o modelo de crescimento do PS gira em torno “das políticas públicas de educação de crianças e adultos, de formação, de inovação e modernização tecnológica das empresas”.
Na segunda-feira, num colóquio promovido pelo PS no ISEG, Costa vincava que o Estado devia ser o motor da inovação. “Ao contrário do que a direita diz, o Estado empreendedor não é o setor público em combate ou em disputa com o setor privado. O Estado pode e deve ter um efeito catalisador e motor” no desenvolvimento da inovação, dizia na altura.
O documento apresentado, de 95 páginas, dedica, de resto, um capítulo inteiro ao “Investimento, inovação e internacionalização das empresas portuguesas”, onde propõe acelerar o processo de inovação e desburocratização das empresas portuguesas, recuperando por exemplo o programa Simplex do tempo de José Sócrates. Mas Henrique Neto tem sérias dúvidas de que o Estado consiga ser esse motor de inovação.
“De facto o país precisa de se diferenciar dos outros países e mercados com serviços inovadores, a minha dúvida é de que isso possa ser conseguido pelo Estado”, afirmou o candidato a Belém, acrescentando que, “normalmente, em Portugal como no estrangeiro, o Estado não sabe inovar, nem tem capacidade de o fazer. Isso costuma caber às empresas”.
Sublinhando que ainda não analisou ao pormenor o documento dos economistas escolhidos por António Costa, o ex-empresário e ex-deputado socialista Henrique Neto notou ainda que a preferência do PS pelo aumento do consumo privado, através da reposição mais rápida dos cortes salariais, da diminuição da sobretaxa de IRS e da TSU para os trabalhadores, tem um revés: “conduz quase sempre a um aumento das importações”.
E por isso o candidato independente a Belém tem reticências. “Obviamente não tenho nada contra o aumento das medidas a favor do consumo, mas antes disso é preciso medidas de substituição em certos setores para não corrermos o risco de desequilibrar a balança comercial”, disse. Isto é, de descurar no poder exportador das empresas e de regressar a um modelo mais assente nas importações.