Uma semana após o sismo de magnitude entre 7,8 e 7,9 na escala de Richter, as autoridades nepalesas descartam a hipótese de ainda serem encontrados sobreviventes sob os escombros. A par das dificuldades em prestar assistência aos desalojados e aos mais de 14 mil feridos, o país, um dos mais pobres da Ásia, vê-se agora a braços com o balanço dos danos patrimoniais.
Três dos sete locais classificados como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO eram as praças centrais, com os seus palácios e templos das cidades de Katmandu, Patan e Bhaktapur. Os restantes locais eram santuários religiosos – Swayambhu, Bauddhanath, Pashupati e Changu Narayan. Segundo a UNESCO, estes edifícios eram “representativos da tradição cultural e multiétnica das pessoas que se instalaram naquela parte remota do vale dos Himalaias nos últimos 2.000 anos”.
Vários templos budistas e hindus, bem como outros edifícios emblemáticos, caíram por terra. “Perdemos quase todos os monumentos classificados como património mundial em Katmandu, Bhaktapur e Lalitpur. Nunca vão poder ser recuperados”, disse ao Kathmandu Post o historiador Prushottam Lochan Shrestha.
Para além da dificuldade técnica de reconstruir monumentos destruídos, os custos são também muito elevados. Em Katmandu, a capital, 80% dos edifícios reconhecidos como património cultural foram completamente destruídos. A juntar ao prejuízo da reconstrução, acrescenta-se outro grande prejuízo: a perda de receitas do turismo, essencial na deficitária economia nepalesa.
A Praça Patan Durbar, em Lalitpur, ficou assim, após o terramoto:
Antes do terramoto:
Praça Durbar, em Katmandu:
Antes do terramoto:
Séculos de história abalados em segundos
Com o desenvolvimento do budismo e do hinduísmo, a arquitetura e a arte nepalesa começaram a desenvolver-se essencialmente entre o século XVI e XIX. De acordo com a UNESCO, estes monumentos foram definidos pelas tradições culturais do povo neuari, originário do Vale de Katmandu. As ornamentações artesanais em tijolo, pedra, madeira e bronze “são alguns dos mais desenvolvidos do mundo”.
Maharjan, que se encarregava da manutenção dos monumentos, contou à Agência EFE que uma das construções derrubadas em Durbar é uma pequena réplica do templo de Pashupatinath, o lugar hindu mais sagrado do país, situado nos arredores de Katmandu, e que nos últimos dias tem sido o local escolhido para cremações maciças das vítimas da catástrofe. “Só a realeza podia entrar neste templo”, lembrou.
Jan Van Alphen, que dirige as exposições, coleções e investigações do Rubin Museum of Art, museu em Nova Iorque especializado em arte dps Himalaias, Índia e países vizinhos, acha que “a maioria dos locais mais importantes estão envolvidos nesta catástrofe. Vai ser necessário muito trabalho para recuperá-los, se é que isso é sequer possível”, disse, em entrevista ao Huffington Post.
O terramoto afetou outra área destacada como herança “natural” pela UNESCO, o Parque Nacional de Sagarmantha, que inclui o Monte Evereste.