“Valeu a pena” o esforço de ajustamento da economia feito nos últimos anos em Portugal, garante Maria Luís Albuquerque numa longa entrevista à britânica BBC. A ministra das Finanças diz que, além de o país ter concluído o programa da troika e ter regressado aos mercados, foi possível inverter a tendência desfavorável que existia em indicadores como a taxa de desemprego e o crescimento da economia. Ainda assim, porque “os empregos não se criam por decreto”, os problemas acumulados fazem com que “ainda haja um longo caminho a percorrer”, diz Maria Luís Albuquerque, alertando para os perigos que teria um “descarrilamento” das reformas da economia.

“Concluímos o programa de ajustamento, voltámos aos mercados de forma plena, estamos a crescer – ou seja, ultrapassámos a recessão –, a taxa de desemprego tem vindo a descer – ainda que continue muito elevada”, afirma Maria Luís Albuquerque. Em entrevista ao programa “HardTalk”, da BBC, esta quarta-feira, a ministra das Finanças sublinha que os gastos com prestações sociais aumentou em todos os anos do governo e que alguns dos cortes em rubricas como o abono de família “já vinham do governo anterior“, numa crítica a um relatório recente da Comissão Europeia em que se alertava contra a degradação das condições de vida dos mais pobres e das crianças. A ministra adianta que uma parte da análise da Comissão Europeia “está errada” e diz que já alertou Bruxelas para esse facto.

Claro que houve uma recessão, mas se olharmos para as despesas sociais elas aumentaram todos os anos“, salienta a ministra, recordando medidas como a majoração do subsídio de desemprego em casais com filhos e os acordos com IPSS ligadas ao trabalho social.

Questionada sobre o desemprego jovem, que em Portugal ronda os 35% (bem mais do que o dobro da taxa global, que está na casa dos 13%), Maria Luís Albuquerque salienta que “o desemprego já estava a subir para níveis de dois dígitos” antes da crise e do resgate internacional. “A crise em Portugal expôs os desequilíbrios que vínhamos acumulando desde que passámos a pertencer ao euro”, diz a ministra das Finanças, lembrando que o país acumulou níveis elevados de dívida privada e pública, défices recorrentes na conta corrente e perda de competitividade.

“Leva tempo resolver o problema de stock, mas já conseguimos conter o problema de fluxo”, defende Maria Luís Albuquerque, garantindo que a economia está novamente em “trajetória positiva“. O desemprego é, nas palavras de Maria Luís Albuquerque, “a maior preocupação dos cidadãos portugueses e, também, do Governo”, mas “não se criam empregos por decreto”, atirou a ministra, defendendo que “estamos a ser muito cautelosos nas promessas que estamos a fazer aos cidadãos” em antecipação às eleições do próximo outono.

“É preciso recuperar a competitividade para que criem empregos”, diz Maria Luís Albuquerque. Entre as medidas que, perante a audiência internacional da BBC, a ministra lembrou estão a reforma do IRC, “que torna o investimento mais atrativo, para que as empresas possam investir e possam criar empregos”. Mas temos de “ser extremamente cuidadosos porque sabemos o custo que tem perder o acesso ao mercado [de dívida] e promover este tipo de esforços de ajustamento”.

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