“Talvez seja altura de nos tornarmos um pouco mais céticos em relação ao jornalismo em que confiamos enquanto cidadãos“, recomenda Yanis Varoufakis, o ministro das Finanças da Grécia, numa entrada no seu blogue pessoal. Um texto intitulado “A Verdade Sobre Riga” surge precisamente um mês após a famosa reunião do Eurogrupo na capital da Letónia, após a qual toda a imprensa escreveu que Varoufakis foi “martelado” com críticas por parte dos outros ministros das Finanças. Varoufakis reconhece que gravou a reunião com o seu smartphone mas insurge-se contra a “torrente de mentiras” escritas a seu respeito.

A reunião de Riga foi a última reunião do Eurogrupo antes do final do prazo intercalar (de final de abril) dado em fevereiro com a extensão do programa grego em quatro meses. Como foi amplamente discutido na altura, não houve acordo e surgiram vários relatos na imprensa, nos dias posteriores, sobre as fortíssimas críticas que, “segundo fontes conhecedoras”, foram feitas a Varoufakis pelos outros ministros.

Segundo escreve este domingo Yanis Varoufakis, a imprensa baseou-se em “fugas de informação por parte de quem esteve presente para apresentar ao mundo uma versão terrivelmente falsa do que foi dito lá dentro”. “Jornalistas respeitados e meios de comunicação prestigiados escreveram mentiras e insinuações a respeito não só do que me foi dito mas também do que foi a minha reação e a minha defesa da posição grega“.

Varoufakis acrescenta que “nas semanas que se seguiram, toda a gente assumiu que esses relatos eram verdadeiros, apesar dos meus desmentidos discretos mas firmes”. O grego recorda que foi escrito que lhe chamaram, durante essa reunião, “desperdiçador de tempo”, “jogador” e “amador”. Escreveu-se, também, que Varoufakis perdeu a compostura e retaliou de forma descontrolada, o que levou a que se tivesse momentaneamente afastado do convénio. Nos dias seguintes, surgiu uma remodelação da equipa que negoceia com os credores, aparentemente tirando protagonismo a Varoufakis.

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Em “A Verdade sobre Riga”, o ministro grego garante que “os meus colegas ministros nunca falaram comigo de uma forma que não fosse educada e respeitosa“. Garante, também, que não perdeu o controlo das emoções durante a reunião e que continua a ser o líder da equipa de negociação com o Eurogrupo.

Varoufakis gravou encontro. Mas nunca quis revelar conteúdo

O ministro grego aproveitou, também, neste texto no seu “fiel blogue”, para abordar a polémica recente sobre a alegada gravação, por parte de Varoufakis, da reunião de Riga. O grego confirma que “gravo muitas vezes as minhas intervenções e respostas no meu telemóvel pessoal, especialmente quando se trata de improvisos“.

O objetivo dessas gravações é, contudo, “naturalmente, para poder recordar as minhas declarações exatas e poder reportar ao primeiro-ministro, ao conselho de ministros, ao Parlamento”. “Fiz isso mesmo em Riga e, depois, já em Atenas, usei a gravação para trabalhar no meu relatório sobre o que aconteceu”.

Quando Varoufakis indicou que tinha gravado a conversa, numa conversa com um jornal, surgiram várias críticas de que o grego estaria a violar a confidencialidade do Eurogrupo. Mas o grego garante que nunca lhe passou pela cabeça divulgar o que foi dito e, muito menos, divulgar a própria gravação. Isto apesar de ter sofrido, nessa altura, “uma torrente de mentiras escritas acerca de mim, como um esgoto descontrolado“.

Varoufakis garante a quem o critica que não foi responsável por quaisquer fugas de informação e que respeita a confidencialidade do Eurogrupo. O grego critica, no entanto, que num fórum onde são tomadas decisões de “importância monumental”, não exista qualquer gravação ou tomada de atas da reunião.

O secretismo e a imprensa ingénua não são um bom augúrio para a Democracia europeia“, remata Yanis Varoufakis.