Mais de uma centena de trabalhadores da Soares da Costa estão concentrados junto à sede empresa, no Porto, a protestar contra o atraso no pagamento dos salários de maio.

“Estamos aqui a protestar contra os salários em atraso, já no passado mês de abril não recebemos atempadamente. A 18 de maio recebemos 250 euros, no dia 19 mais 250 e no dia 20, 500 euros, o que perfaz mil euros. O remanescente desse montante só foi pago agora, em 3 de junho, e o mês de maio ainda não recebemos”, afirmou à Lusa um dirigente sindical.

Segundo José Martins, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Porto, “esta situação já decorre há cerca de um ano e meio, só que, com esta gravidade, só agora está a acontecer”

“Até então, recebíamos pelo menos no primeiro dia útil do mês seguinte 400/500 euros, mas esta situação está-se agravar e os trabalhadores tomaram esta atitude num claro sinal de desespero contra o sistemático e abusivo atraso no pagamento de salários”, sustentou.

A decisão de avançar com uma manifestação foi aprovada num plenário, realizado na passada quarta-feira, altura em que “apresentámos uma proposta à administração para que liquidasse a totalidade dos salários até 05 de junho, sob pena de mantermos esta denúncia pública”, disse.

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“Entraram em contacto connosco e comprometiam-se a pagar até sexta-feira, dia 12, novamente um pagamento parcial. Decidimos, por isso, avançar com o protesto”, acrescentou José Martins.

De acordo com este dirigente sindical, a empresa justifica o atraso nos pagamentos com o facto de existirem “poucas obras e com as dificuldades do mercado”.

“Dizem também que a maior parte do dinheiro vem da alocação feita em Angola. Normalmente é essa a justificação que é dada, a dificuldade de adquirir divisas”, frisou.

De acordo com José Martins, os atrasos no pagamento dos salários afetam em Portugal “cerca de 400 trabalhadores”.

O dirigente sindical disse que os trabalhadores presentes na manifestação, que deverá terminar cerca das 10:00, vieram de várias obras e de várias zonas do país, estando também presentes alguns funcionários que se encontram em situação de inatividade.

A Soares da Costa anunciou há cerca de 15 dias que vai proceder “nas próximas semanas” ao despedimento coletivo de 272 funcionários que por falta de trabalho se encontravam “há largos meses” em casa, em situação de inatividade, recebendo os respetivos salários.

“É uma situação antiga de um conjunto de colaboradores da empresa que está em situação de inatividade já há longuíssimos meses, pelo que o que se vai fazer é formalizar uma situação que já tinha sido sinalizada no passado”, disse à agência Lusa fonte oficial da Soares da Costa.

Segundo salientou, “é público que a empresa tem passado por uma situação com alguma complexidade, porque em Portugal não há negócio” no setor da construção, mas a nova administração — liderada por Joaquim Fitas, após renúncia de António Castro Henriques — está determinada a “dar um novo rumo à empresa”.

“Estão a ser procurados novos negócios e uma nova carteira de clientes, para garantir o futuro, mas também a ser resolvidas situações pendentes que se arrastaram durante demasiado tempo”, disse a fonte.

A agência Lusa tentou esta segunda-feira obter mais esclarecimentos junto da administração da construtora, mas sem sucesso até ao momento.