O Ahora Madrid, de Manuela Carmena, e o PSOE, que na capital espanhola é liderado por Antonio Carmona, chegaram a acordo depois de 19 dias de negociações. A notícia foi confirmada ao diário espanhol El País, na quinta-feira, por fontes de ambos os partidos. O acordo deverá consistir apenas no apoio parlamentar dos socialistas ao Ahora Madrid. Esta conclusão deverá oficializada na sexta-feira numa conferência de imprensa.
Não era segredo que este acordo estava na calha. Já na segunda-feira, Carmena, cuja candidatura foi apoiada pelo Podemos de Pablo Iglesias, garantiu numa conferência de imprensa que já tinha chegado a acordo com os socialistas “em 99%” das medidas a aplicar. “Vejo-me como autarca. Ainda é preciso que se confirme, mas é tão expectável que devemos ser otimistas”, disse.
Ainda não há, porém, certezas quanto às medidas que vão surgir deste pacto entre Carmena e Carmona. Ainda assim, é natural que o pêndulo caia mais para o lado do Ahora Madrid, que conquistou mais do dobro dos votos do PSOE.
O programa eleitoral do Ahora Madrid foi discutido, elaborado e votado na Internet. O processo foi buscar inspiração ao movimento 15-M, responsável pela ocupação da Porta do Sol, uma das principais praças da cidade. O 15-M, que também está na génese do Ahora Madrid, teve como principal reivindicação uma democracia participativa. E, por isso, este partido encabeçado por Carmena, tomou como prioritárias as cinco medidas mais votadas no seu site e comprometeu-se a aplicá-las nos primeiros cem dias do seu mandato:
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Pôr fim aos despejos de pessoas que só tenham uma morada;
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Acabar com a privatização de serviços públicos, venda de património público e concessão de serviços municipais a grandes empresas;
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Garantir água e luz aos lares que não conseguirem pagar as suas contas;
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Garantir o acesso a ações de promoção e prevenção da saúde de todos os madrilenos;
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Desenvolver um plano urgente para a inserção laboral de jovens e desempregados de longa duração.
Quanto ao PSOE, o El País escreve que os socialistas tentaram evitar exigir ao Ahora Madrid medidas que estes pudessem negar-lhes, como uma baixa de impostos municipais. Segundo o mesmo jornal, Carmona propôs, entre várias coisas, a aprovação de um plano contra a pobreza infantil antes do outono, a abertura das cantinas das escolas durante o verão e a universalização da educação para crianças até aos três anos.
PP, o vencedor que ficou à margem do poder
Quem ficou a ver estas negociações de fora foi o PP, encabeçado por Esperanza Aguirre, embora tenha ficado em primeiro lugar nas eleições de 24 de maio com 34,5% dos votos. A vitória foi matematicamente clara, mas em termos políticos nem por isso. Primeiro, porque os resultados de 2015 ficaram muito aquém dos 49,7% conseguidos em Madrid pelo PP em 2011. Depois, porque esses mesmos 34,5% não foram suficientes para continuar a série de vitórias por maioria absoluta que o partido de Mariano Rajoy tinha conquistado desde 1991. A assembleia municipal da capital espanhola tem 57 assentos e o PP conquistou 21.
Logo atrás, veio o Ahora Madrid, para o qual Manuela Carmena foi eleita como candidata depois de um processo de eleições primárias. Com 31,8% dos votos, o partido que o Podemos escolheu apoiar em Madrid conquistou 20 lugares para os seus deputados. Em terceiro lugar, ficou o PSOE, com 15,3% e 9 deputados. Juntos, farão 29: o mínimo necessário para uma maioria na assembleia municipal madrilena.
Se as notícias do acordo entre o PSOE e o Ahora Madrid se confirmarem, Carmena será a primeira mulher eleita para liderar o município madrileno. Não será, porém, a primeira a ascender ao cargo. Esse título pertence a Ana Botella, que sucedeu a Alberto-Ruiz Gallardón, que renunciou à liderança da autarquia madrilena após ter sido convidado para ser ministro da Justiça do governo de Mariano Rajoy assim que este venceu as eleições legislativas de 2011.
Manuela Carmena entrou para a vida política no Partido Comunista Espanhol em 1965, quando o país ainda vivia sobre a ditadura de Francisco Franco. Estudou Direito e nos seus primeiros anos de advocacia dedicou-se à defesa de presos políticos e operários perseguidos pelo franquismo. Dezasseis anos mais tarde, já em democracia, abandonou o partido e tornou-se juíza. Foi até ao Tribunal Supremo Espanhol. Em março de 2015, já depois de ter deixado a magistratura, venceu com 63,4% as eleições primárias do Ahora Madrid para liderar este partido recém-formado nas eleições municipais de Madrid.