Maria Barroso morreu esta madrugada, pelas 5h20, aos 90 anos. A mulher do ex-Presidente da República faleceu na sequência de uma hemorragia cerebral provocada por uma queda em casa, no dia 18 de junho. Foi assistida no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde esteve internada em coma profundo.

O Observador preparou um perfil de vida e uma fotogaleria.

“O Partido Socialista está de luto e foi dada a indicação para que as bandeiras do partido hasteadas nas suas sedes sejam colocadas a meia-haste, numa homenagem sentida à nossa querida camarada Maria Barroso”, pode ler-se num comunicado emitido pelo partido que a ex-primeira dama ajudou a fundar.

O seu corpo estará em câmara ardente no Colégio Moderno, em Lisboa, a partir das 18h00 de terça-feira. O funeral será no Cemitério dos Prazeres, logo após a realização da missa de corpo presente na igreja do Campo Grande às 10h00.

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De acordo com a Lusa, o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Luís Barbosa, anunciou hoje que vai propor que, ao Hospital da Cruz Vermelha, se associe o nome Maria Barroso, em homenagem à mulher que marcou a instituição.

Conheça algumas das reações à morte de Maria Barroso:

Comunicado do Partido Socialista

“O Partido Socialista e o seu secretário-geral, António Costa, manifestam a sua mais profunda emoção e consternação pelo falecimento da nossa camarada, fundadora e militante nº 6, Maria de Jesus Simões Barroso Soares. A sua morte constitui uma perda irreparável para o PS e para o país, que nela sempre viu — e admirou — uma mulher de combate, com uma atividade incansável em prol dos seus ideais e das suas convicções.”

Jorge Sampaio, ex-Presidente da República

“Em tudo foi brilhante. Era de um intelecto brilhante, uma pessoa de rara cultura, com enorme apetência para saber tudo quanto se passa nos vários domínios da sociedade portuguesa. Eu estive com ela dois dias antes do acidente que a vitimou e lá estava a falar do passado, a falar do presente… Recordámos o dia extraordinário em que fomos os dois sozinhos fazer campanha eleitoral a Barrancos. Foi um dia extraordinário por ter privado com ela a sós. Depois tive o enorme prazer de manifestar algo perfeitamente justo ao condecorá-la com a Ordem da Liberdade.”

Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República

“Mulher de cultura e de causas, Maria de Jesus Barroso distinguiu-se, ao longo de décadas, como uma lutadora pela liberdade e pela democracia, antes e depois do 25 de Abril. Dedicou a sua vida à cultura portuguesa, ao ensino, à pedagogia e às causas sociais a que esteve ligada, fazendo-o com exemplar sentido cívico, animada pela densidade da sua fé e pela convicção inabalável nos valores da dignidade da pessoa humana, da justiça social e do serviço ao bem comum.”

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro

“Foi com enorme tristeza que tomei conhecimento do falecimento da doutora Maria de Jesus Barroso. Teve uma vida ímpar, toda ela dedicada ao serviço dos outros e à causa pública, tendo pugnado de forma intransigente por princípios, valores e ideais, tais como a defesa da democracia, o respeito dos direitos humanos e a elevação da dignidade da pessoa (…). A doutora Maria de Jesus Barroso deixou, ainda, uma marca notável nas muitas instituições que fundou, ajudou a criar ou presidiu, nomeadamente a Fundação Pro Dignitate, a Cruz Vermelha Portuguesa, a Associação para o Estudo e a Prevenção da Violência e a Fundação Aristides de Sousa Mendes.”

Paulo Portas, vice-primeiro-ministro

“Tinha um empenhamento que todos conhecem em projetos educativos, projetos sociais e também na área dos Direitos Humanos. Como primeira dama representou sempre impecavelmente Portugal quer cá dentro, quer no estrangeiro. Creio que a certo passo da sua vida teve também um compromisso espiritual com testemunho e partilha, e portanto quero transmitir à sua família e aos seus amigos as nossas condolências.”

Assunção Esteves, Presidente da Assembleia da República

“Maria Barroso lutou em todas as frentes pela dignidade humana e a justiça no mundo. A sua vida conjugou, de um modo ímpar, as qualidades de mulher e de cidadã. Entre o Colégio Moderno e a educação, e a luta no espaço público feita de risco e de dor, Maria Barroso deu um forte impulso ao nosso caminho coletivo de emancipação. Ela esteve sempre presente nos momentos decisivos da nossa democracia, e também nos projetos e encontros do seu quotidiano. E porque nunca nos deixou, nunca nos deixará.”

Maria de Belém Roseira, presidente do Partido Socialista

“É um corte em relação à presença física de uma pessoa extraordinária, que teve uma vida de intervenção quando era difícil, que manteve sempre uma dignidade e uma capacidade de enaltecer (…). Era uma pessoa que estava sempre disponível quando precisavam dela e quando achavam que a sua presença era importante, não só pelo seu simbolismo, como também pelo conteúdo, pela densidade e firmeza das suas intervenções.”

Manuel Alegre, ex-candidato presidencial do Partido Socialista

“Foi uma voz libertadora no teatro, na poesia, divulgando os poetas e participando ela própria na ação política, nomeadamente no último congresso democrático em Aveiro. Ela acompanhou sempre Mário Soares, mas teve sempre o seu espaço próprio. Foi ela própria uma grande figura pela liberdade e da cultura portuguesa.”

António Guterres, antigo primeiro-ministro

“Ela foi uma figura inigualável na vida pública portuguesa, pela sua intervenção política e cívica sempre a favor das causas mais nobres, pelo seu inabalável apego aos valores democráticos, pela generosidade com que renunciou a uma carreira brilhante, como atriz excecional que era, para servir o país. Mas acima de tudo sempre recordarei Maria de Jesus como uma muito querida amiga que sempre mostrou uma extraordinária solidariedade e apoio em alguns momentos difíceis da minha vida pessoal, o que nunca poderei esquecer.”

António Sampaio da Nóvoa, candidato a Presidente da República

“A Dr.ª Maria de Jesus Barroso é uma figura maior do Portugal da liberdade, da cultura e da consciência social. A sua coragem, sempre presente, é um exemplo para todos nós (…). Não há nada que possa substituir a presença, mas a memória da Dr.ª Maria de Jesus Barroso prolonga-se muito para além do seu tempo e deixa-nos uma história que temos a obrigação de continuar.”

Francisco Pinto Balsemão, antigo primeiro-ministro

“Perdemos hoje uma mulher extraordinária e uma cidadã exemplar. Maria de Jesus Barroso lutou sempre pela defesa intransigente dos valores e dos princípios democráticos”, afirmou Francisco Pinto Balsemão numa nota de imprensa. “Tive o enorme prazer de a conhecer ainda na década de 60, quando o Diário Popular lhe atribuiu um prémio de personalidade do ano, pela qualidade do seu trabalho como atriz. Com o meu querido amigo Mário Soares formaram um dos casais mais empenhados na vida pública portuguesa”, recordou

Comunicado do Ministério da Educação

“O Ministro da Educação e Ciência, Professor Nuno Crato, relembra Maria Barroso como uma referência na educação em Portugal. Tendo sido professora e diretora do Colégio Moderno, marcou essa instituição e a prática educativa no nosso país com grandes valores humanistas, com a sua extraordinária capacidade para associar sempre a exigência à simpatia, ao afeto humano e à tolerância. O Ministro relembra ainda a sua presença assídua e sempre encorajadora em ações de solidariedade, nomeadamente em ações contra a violência e em favor da educação e dos jovens.”

Leonor Xavier, biógrafa de Maria Barroso

Foi muito bonita a forma como [Mário Soares e Maria Barroso] se conheceram na faculdade. Ela estava a chorar porque tinha tido uma falta mal marcada numa cadeira fundamental e por causa disso não podia ir a exame. Conheceram-se nesse momento. E de facto nunca mais se deixaram.”

António Arnaut, fundador do Partido Socialista e ex-ministro

“Sem ela [Maria Barroso], o Mário [Soares] não tinha sido o que foi. Ela era a retaguarda do Mário. Era os flancos, estava ao lado, estava atrás e, às vezes, até ia à frente.”

Vítor Ramalho, dirigente do Partido Socialista

“Teve sempre a bandeira de levar aos outros a não aceitação do regime anterior, contribuindo com a sua palavra nos receitais de poesia que fazia, sobretudo o Novo Cancioneiro, levando os poemas do Manuel da Fonseca, do Carlos Oliveira, Joaquim Namorado, Álvaro Feijó, aos lugares mais recônditos onde pessoas pobres, de bairros difíceis, tinham esta luz sempre presente.”

Augusto Santos Silva, ex-ministro pelo Partido Socialista

“A vertente [de Maria Barroso] que menos conta é a sua condição de ex-primeira dama. Evidente que é impossível olhar para Maria Barroso sem ver Mário Soares, mas a Maria Barroso fala por si. Era uma das melhores atrizes da sua geração — foi proibida pelo regime ditatorial de exercer a sua profissão — tentaram-na calar e ela nunca se calou. O amor à liberdade e o exercício do direito primeiro que é a liberdade é aquilo que mais caracteriza a meus olhos o exemplo de Maria Barroso.”

Comunicado do Partido Social Democrata

“Foi uma mulher precursora: visualizou no horizonte o triunfo da democracia, quis ajudar a construir o Portugal democrático e fê-lo com generosidade. Sofreu, ela própria, os constrangimentos da ditadura e da ausência da liberdade. Foi uma mulher da tolerância. Foi uma mulher livre, de uma sensibilidade estética e artística apuradíssimas e de um sentido de humanidade referencial. Entregou-se às causas mais nobres da nossa vida colectiva.”

Comunicado do Partido Comunista Português

“Evocamos sobretudo, para lá do percurso e dimensão cultural, a sua intervenção na luta antifascista e pela liberdade na qual o seu papel na solidariedade com os presos políticos é expressão.”

Comunicado do Bloco de Esquerda

“[Maria Barroso foi uma] mulher com um percurso singular de luta antifascista e que ao longo da sua vida manteve uma determinação, uma atividade e um apego às razões da liberdade e da dignidade humana.”

Vítor Melícias, padre

“Uma mulher verdadeiramente extraordinária, talento que até emociona recordar, e de uma fé fantástica. Convertida já adulta, em situações que são conhecidas, ela alimentou, cultivou, fundamentou a sua própria fé. Lia livros de teologia, informava-se e praticava.”

Feytor Pinto, padre

“Tanto se dava com o papa como com a pessoa mais humilde da nossa paróquia (…). Ela própria dizia que a sua vida tentava ser sempre uma atitude de amor para com todos.”

Carmen Dolores, atriz

“Foi uma mulher cheia de coragem, uma mulher cheia de talento e uma cidadã extraordinária toda a sua vida e em todas as suas ações, tanto na vida privada, como na vida pública. Acho que todos a devemos admirar (…). Não nos encontrámos como atrizes, mas encontrámo-nos como mulheres. Andámos no mesmo liceu e ela foi uma sempre uma mulher extraordinária com quem se podia contar para tudo”

José Barata, assessor de comunicação do Hospital da Cruz Vermelha

“[Maria Barroso] morreu no hospital que fundou. Não esqueceremos nunca o empenho e a forma entusiástica como há 18 anos, enquanto presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, contribuiu para uma nova fase da vida deste hospital, ajudando de forma decisiva a transformá-lo na unidade de referência que é hoje.”

Carlos Moedas, comissário da Investigação, Inovação e Ciência na Comissão Europeia

“A Europa e Portugal perdem hoje uma grande humanista, que deixa um inestimável legado à nossa democracia, cultura e educação”

Comunicado do Partido Ecologista Os Verdes

“Maria de Jesus Barroso, figura com um importante contributo para a promoção da democracia no nosso país, pela sua luta antifascista e em defesa da liberdade. Maria Barroso é, ainda, um vulto de maior valor para a cultura portuguesa que fica, hoje, mais pobre.”

Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira

“Portugal perdeu uma das vozes da tolerância, do humanismo e da luta pela liberdade. Uma voz que ficará para sempre registada nos poemas declamados magistralmente e que nos deixa por herança.”

Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia

“Portugal perdeu uma Senhora. Alguém cujo percurso de vida faz hoje parte da nossa identidade na luta pelos valores da liberdade, da solidariedade e da democracia, conquistados na Revolução de 25 de Abril de 1974”

Carlos César, presidente do Partido Socialista 

“Maria Barroso foi uma mulher de talentos múltiplos. Não apenas uma atriz, mas uma mulher da cultura. Não apenas diretora de uma instituição educativa, mas uma pedagoga. Não apenas uma ativista pela democracia e pela paz, mas em particular uma militante socialista e humanista, uma mulher sem fronteiras que honrou Portugal e honra o PS. Tenho uma memória pessoal e familiar de grande reconhecimento pelo apoio que sempre prestou a mim e à minha mulher nas minhas atividades ao longo destes anos.”

Teresa Caeiro, vice-presidente do CDS-PP

“Teve uma vida para os outros, em função dos outros. Empenhou-se incansavelmente na sua longa vida nas causas que a sua consciência cívica, o seu humanismo, a sua dignidade e a sua proximidade lhe ditavam. Penso que Portugal sabe o quanto ela se empenhou pelos direitos humanos, pelas liberdades, pelas causas sociais, pela melhoria da qualidade de vida dos mais desfavorecidos. Ela deixa um legado inestimável e uma saudade imensa. Foi uma sorte Portugal ter tido uma mulher como a dra. Maria Barroso Soares. Foi muito prestigiante para Portugal ter tido como primeira-dama a dra. Maria Barroso.

Ramalho Eanes, ex-Presidente da República

“Era uma mulher de muitos talentos, muito culta, sempre empenhada na educação, na cultura e na política. Teve um trabalho que é um exemplo, é uma figura que todos nós temos de olhar como fonte de inspiração para uma ação cívica e política ajustada à democracia e à defesa das liberdades.”

Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura

Maria Barroso “representa um sinal grande na democracia portuguesa, não só como companheira de Mário Soares, mas como uma mulher de cultura, como uma mulher que, a nível cívico, durante décadas, teve um grande papel em Portugal”. “Vai ficar para nós todos como um exemplo, no feminino, de uma grande portuguesa. É um dia triste para todos”, acrescentou Jorge Barreto Xavier.

Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores

“Deve ser merecedora do reconhecimento e da homenagem de todos e é isso que em meu nome pessoal e em nome do Governo dos Açores faço nesta hora, enaltecendo as suas qualidades cívicas e as suas qualidades pessoais, de que deu prova nas várias funções que desempenhou, nomeadamente, também, no seu papel como primeira-dama do nosso país, em que dignificou, como aliás em todos os cargos por onde passou, as instituições, dignificando a nossa vida nacional, dignificando também Portugal”

Leonor Xavier, autora da biografia de Maria Barroso, “Um Olhar sobre a Vida”

“Ela foi figura principal nos acontecimentos que marcaram o século XX. Quando faltava algum elemento [para o livro] ia ter com ela a Belém ou almoçávamos em casa dela. Tinha uma memória muito minuciosa e muito firme. Estas pessoas nunca chegam a morrer para quem as conheceu.”

Maria de Belém Roseira, ex-presidente do Partido Socialista

“É um corte em relação à presença física de uma pessoa extraordinária, que teve uma vida de intervenção quando era difícil, que manteve sempre uma dignidade e uma capacidade de enaltecer. Era uma pessoa que estava sempre disponível quando precisavam dela e quando achavam que a sua presença era importante, não só pelo seu simbolismo, como também pelo conteúdo, pela densidade e firmeza das suas intervenções. [Era pessoa com uma] sensibilidade extraordinária que, felizmente manteve as suas capacidades até ao fim e cujo desaparecimento físico vai deixar uma enorme saudade.”

Henrique Neto, candidato à Presidência da República

“Ao longo dos anos habituei-me a admirar o seu espírito livre de lutadora incansável pela democracia, pelos valores da cidadania, pela cultura, pela solidariedade entre os portugueses e para com os mais pobres e os mais desfavorecidos. Estou certo que neste momento de dor para a família de Maria Barroso, todos os portugueses recordarão a glória que foi a sua vida e se curvarão perante a sua memória que perdurará para além do tempo.”

Comunicado da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA)

“Sem dúvida, uma das figuras mais destacadas, durante décadas, da vida cultural, cívica e política portuguesa, com um percurso que fez dela uma das mulheres mais influentes da segunda metade do século XX e no início do presente século. Também no plano educativo manifestou sempre a preocupação em introduzir a área cultural como um fator de qualificação individual e coletivo para o presente e o futuro.”

Isabel Alçada, ex-ministra da Educação

“Privei muito de perto com ela. Tinha muito espírito crítico, uma análise aguçada e uma franqueza enorme para dizer àqueles com quem privava aquilo que achava bem e o que não achava bem. É uma referência para todos os portugueses e é uma referência em particular para as mulheres, por que ela soube dar o exemplo sobre como é possível e desejável que as mulheres se empenhem e se envolvam na construção do seu país sem prescindir da sua vida privada.”

Comunicado do Livre / Tempo de Avançar

“O LIVRE/ Tempo de Avançar lamenta profundamente a morte de uma mulher de causas, ativista política desde os tempos da ditadura, quando era preciso uma grande dose de coragem para o ser, e dos direitos dos cidadãos sem voz. (…) Viveu a vida com discrição e longe dos holofotes mediáticos e foi também com poesia que lutou contra a ditadura, recitando poemas do Novo Cancioneiro, poemas de revolta contra o Estado Novo”.