Shane Ortega é um caso estranho para o exército americano. Os documentos de identificação dizem uma coisa, o registo militar diz outra, a Lei diz outra. Shane tem 28 anos e leva no currículo duas missões no Iraque e uma no Afeganistão. As duas primeiras como mulher, a terceira como homem.

Quando, há dez anos, entrou para as Forças Armadas, Shane ainda era mulher. Desde 2011 que é um homem. É o primeiro militar das Forças Armadas dos EUA a assumir-se publicamente como transgénero. Neste momento é chefe de tripulação de helicóptero na 25ª divisão de infantaria do Exército no Hawai.

Como ele, há mais cerca de 15 mil homens e mulheres militares transgénero, de acordo com um estudo realizado pelo Instituto Williams da Universidade da Califórnia. Mas os números não são precisos, porque é impossível contabilizar aqueles que o escondem ou aqueles que se demitiram (ou foram demitidos) por causa da sua condição.

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Shane Ortega já alterou o género no registo civil. O passaporte e a carta de condução já têm “male” [“masculino”] no espaço correspondente ao sexo. Mas no sistema informático dos serviços militares, Shane ainda está inscrito no “sexo feminino”. Ali, ele ainda é uma mulher. “Continuo a usar o uniforme de mulher todas as quintas-feiras. Continuo a ser um soldado e a ter de seguir as regras. As pessoas continuam a trocar-me o género, chamam-me ‘ela’ ou ‘minha senhora’. Pessoas com quem eu trabalho“, conta à Fusion.

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O regulamento médico para as Forças Armadas define os padrões de quem pode ou não exercer funções. A perturbação de identidade de género e a transexualidade estão identificadas como “desordens mentais”. E quem tiver uma desordem mental está “inapto para servir o país”.

Neste momento, o departamento de Estado está a rever a lei e a ponderar levantar esta proibição. Obama já proibiu a discriminação das pessoas transgénero para os cargos de governo e prepara-se para fazer o mesmo nas Forças Armadas.

No verão passado, Shane fez testes que mostraram que tinha demasiadas hormonas masculinas para uma mulher — resultado do tratamento hormonal que está a fazer no âmbito da transição. Ficou proibido de exercer funções durante os voos e ainda está em risco de ser afastado do exército. “Eu existo e isso continua a ser um problema“, explica o militar. Está sob as atenções do público e dos responsáveis das Forças Armadas, e é por isso que o militar não pode dar qualquer razão para ser dispensado. Confessa ao El Mundo:

Honestamente, agora tenho que ser perfeito. Não posso receber sequer uma multa por excesso de velocidade. Não posso chegar tarde. Não posso deixar de me barbear um dia que seja. Tenho que ser absolutamente perfeito”.

Shane começou a defender a mudança nas políticas do serviço militar há seis anos, quando ajudou a fundar um grupo de apoio a militares transgénero e juntou-se à Military Freedom Coalition. Tem o apoio da namorada, também transgénero, e com a transição de homem para mulher também concluída.

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