As sondagens mostram a coligação a aproximar-se, o PS pede desculpa pelos cartazes e divide-se nas presidenciais – e José Sócrates sai a público acusando a Justiça de o usar para derrotar o partido nas urnas. Os sucessivos obstáculos (e maus indicadores) da pré-campanha estão a ser recebidos pela ala segurista do partido com um sentimento misto: entre o “eu bem avisei” tardio, o sentimento de desforra e a preocupação com o futuro. Nos bastidores, durante as últimas semanas, os telefonemas multiplicaram-se e as perguntas sucederam-se sobre o que pode acontecer caso o cenário em que ninguém acreditava se torne realidade – uma derrota do PS. “A pergunta que todos vão fazer é o que vai fazer o Seguro”, dizia um amigo do ex-líder ao Observador.
Ninguém sabe responder à dúvida – Seguro está de férias e tem-se mantido no mais rigoroso silêncio desde que perdeu as primárias para Costa. Mas todos estão afinados num ponto: durante o próximo mês, se as sondagens persistirem no empate técnico, os que não estiveram com António Costa vão ter de fazer uma cuidadosa (e discreta) reflexão, para estarem preparados para o pós-eleições.
Até lá, vão pondo bem alta a pressão sobre António Costa. Esta quinta-feira, Miguel Laranjeiro – um dos mais fiéis seguristas – mostrou-o de forma clara num artigo que escreveu no Diário de Notícias: lembrou o capital de vitórias do partido nos últimos anos, das europeias às autárquicas, para explicar que “só é possível esperar uma vitória esmagadora do PS no próximo 4 de outubro”, dia das eleições. Laranjeiro até diz acreditar que “estão criadas todas as condições para que isso suceda” e deixa o desafio ao líder: “António Costa é um secretário-geral com desafios importantes. Os socialistas devem estar concentrados nas legislativas. O país espera muito do PS”, conclui.
Nas conversas entre os seguristas não estará só um cenário de uma eventual derrota – que a maioria desta ala ainda considera uma hipótese remota. Depois da polémica em torno dos cartazes do PS, um membro da anterior direção socialista contava que é preciso pensar também como agir, consoante a forma de governo que Costa adotar se ganhar. E, mais ainda, sobre o posicionamento do grupo face às presidenciais que se aproximam.
Depois de Maria de Belém ter entrado na corrida esta semana, os seguristas mantiveram cautelas públicas, para não deixar que a candidata seja colada a um setor do PS. Mas não têm dúvidas que será ela a candidata que apoiam. Se Costa apoiar Sampaio da Nóvoa, a discussão nos órgãos nacionais do partido promete ser acesa – e a divisão no terreno vai ser visível aos olhos de todos. O até onde irá esta divisão, é pergunta que só terá resposta no resultado que Costa conseguirá nas legislativas.
No cenário de derrota, sem a resposta à pergunta sobre o ex-líder, uma coisa é dada como certa nos bastidores seguristas: o atual líder – ou quem se apresente no lugar dele – vai ter adversário. Nas próximas semanas, a vigilância será apertada.