Abdullah Kurdi, o pai do menino cujo corpo foi fotografado à beira-mar numa praia turca na quarta-feira e passou a exemplificar a crise dos refugiados, falou à agência noticiosa Dogan e relatou o momento da tragédia. Os filhos, Aylan e Galip Kurdi, de três e cinco anos, e a mulher, Rihan, fugiram do alcance do pai e foram engolidos pelo mar agitado que derrubou a frágil embarcação que os transportava.

Citado pelo britânico Telegrapah, Albdullah contou que pagou aos traficantes duas vezes antes de atravessar o mar Egeu com destino à ilha grega de Kos — na primeira tentativa foram apanhados por guarda-costeiros que, mais tarde, os viriam a libertar. Na segunda, os “organizadores” da viagem faltaram à palavra e não trouxeram a embarcação. De referir que, na imprensa internacional, circulam relatos que se contradizem.

Infelizmente, os falsos arranques da viagem não impediram o pior de acontecer. Naquela quarta-feira, a água viria a invadir o barco insuflável 30 minutos depois de este abandonar o chão firme — as pessoas entraram em pânico e começaram a gritar. É o próprio Abdullah quem o conta: “Nós tínhamos coletes salva-vidas. Eu estava a segurar as mãos da minha mulher. Os meus filhos fugiram-me das mãos. Tentámos segurar-nos ao barco, mas este esvaziou-se muito depressa.”

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“Toda a gente estava a gritar. Eu não conseguia ouvir as vozes dos meus filhos e da minha mulher. Tentei nadar em direção à praia, seguindo as luzes. Procurei a minha mulher e os meus filhos na praia, mas não os consegui encontrar.” Nesta altura, Abdullah desconhecia o facto de tanto os filhos como a mulher estarem mortos, pelo que voltou a Bodrum, o local de onde inicialmente a família partira rumo à União Europeia.

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Já em terra, o curdo foi ter ao ponto de encontro previamente combinado e aí esperou pelos restantes membros da família: “Pensei que tivessem fugido devido ao medo [de serem apanhados] e voltei para Bodrum. Quando eles não vieram ter ao nosso ponto de encontro, na cidade, fui ao hospital e descobri a verdade amarga”.

Agora, o pai do menino de três anos que está nas bocas do mundo planeia levar os corpos dos dois filhos e da mulher de volta para a sua cidade-natal, Kobani, na Síria. É ali que os quer enterrar. Abdullah, que estava na Turquia há três anos e já antes vivera em Damasco, não tem vontade de prosseguir caminho até solo da União Europeia, onde a família tencionava juntar-se à irmã de Abdullah, no Canadá.