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PS sai em defesa de António Costa: "Deixem-se de demagogia"

Este artigo tem mais de 5 anos

Porfírio Silva, responsável pela comunicação dos socialistas, foi o primeiro a sair em defesa de António Costa: "Tenham vergonha de usar os refugiados como carne para canhão de demagogia eleitoral".

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ANDRÉ KOSTERS/LUSA

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

“[Sobre a questão dos refugiados] quem tiver lições a dar a António Costa, que levante o braço e mostre os seus créditos. Até lá, tenham vergonha de usar os refugiados como carne para canhão de demagogia eleitoral“. Foi desta forma que Porfírio Silva, responsável pela comunicação dos socialistas, reagiu às críticas apontadas às recentes declarações do líder socialista – num debate sobre políticas sociais em Alverca, António Costa sugeriu, a título de exemplo, que a integração de refugiados no setor agrícola e nas zonas mais desertificadas do país seria uma “grande oportunidade” para os refugiados e para Portugal.

Num texto agora publicado no Facebook, Porfírio Silva começou por defender que a “melhor forma de integrar [os refugiados] é pelo trabalho”. E, daí, partiu para o ataque. “Estão escandalizados porque se fala de agricultura e floresta como áreas de trabalho possível para refugiados? Dizem que não há florestas na Síria. Mas não há refugiados só da Síria, há refugiados da Eritreia, do Afeganistão, da Colômbia, … Seria demagogia dizer que temos muitos postos de trabalho altamente qualificados para propor aos refugiados. Aí nem empregos temos para os nossos jovens, como se sabe”.

Porfírio Silva foi mais longe e desafiou os críticos a deixarem-se de “demagogia”. “Onde podem os refugiados encontrar uma possibilidade de integração pelo trabalho? Onde há trabalho, evidentemente. Onde há trabalho, agora, já. Há sectores agrícolas, como os hortícolas, que estão a ir buscar mão-de-obra ao Nepal, assim como há muitas áreas ao abandono que podem ser exploradas, como a floresta”, insistiu, para depois acrescentar: “É disparate? Disparate é fingir que não se vê o drama que se está a viver, fugir a colaborar, ou oferecer uma ajuda que não constitua uma nova oportunidade de reconstruir a vida”.

Em jeito de conclusão, o socialista lembrou também o currículo de “combate” de António Costa “pela integração dos imigrantes e pela defesa do direito de asilo, em Portugal e na UE. Como advogado de Vuvu Grace, como deputado, como ministro e até como presidente da câmara onde criou, com o Conselho Português para os Refugiados, a Casa das Crianças Refugiadas”.

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Posted by Porfírio Silva on Quinta-feira, 3 de Setembro de 2015

Um currículo lembrado também por Constança Urbano de Sousa, membro da Comissão Nacional do PS e doutorada em Direito Europeu. “Se há político que fez mais pelos refugiados e pelos imigrantes, esse político foi António Costa“, afirmou em declarações ao Observador. A docente universitária lembrou a lei da imigração assinada por António Costa, então ministro da Administração Interna, como um passo “pioneiro” mesmo a nível europeu. “Se hoje Portugal é o segundo melhor país do mundo a receber e a integrar imigrantes, de acordo com o MIPEX [Índice de Políticas de Integração de Migrantes], muito se deve a António Costa”.

Nessa linha, a socialista considera as críticas que foram apontadas ao secretário-geral do PS “injustas e incorretas”. “António Costa conhece bem as obrigações internacionais que o país tem para com os refugiados. E sabe que o país tem o dever de os integrar. “[E] isso não significa confiná-los a um campo de refugiados e dar-lhes uma ou duas malgas de sopa. É preciso dar a oportunidade a essas pessoas de refazerem a sua vida. Numa primeira fase, é necessário prestar cuidados de saúde básico e de alimentação, promover a aprendizagem da língua portuguesa e, depois, adotar medidas que promovam o acesso ao mercado de trabalho. É um imperativo civilizacional”, insistiu Constança Urbano de Sousa, recordando que o direito ao exilo é algo que está enraizado na civilização judaico-cristã.  “Quando o anjo apareceu a José e o avisou que deveria fugir com Maria e com Menino para o Egito, pois o rei Herodes queria matar o Menino”, se o asilo não lhes tivesse sido garantido, “Jesus não teria sobrevivido”.

Sobre o exemplo dado por António Costa – dar aos refugiados a hipótese de ajudarem na limpeza de florestas -, Constança Urbano de Sousa reforça: “Foi apenas um exemplo, poderia ter sido outro. É óbvio que é uma atividade dura e que não é para qualquer um”.

Ainda assim, continuou a socialista, é impossível negar que existem, hoje, “recursos naturais que estão pouco explorados – como a agricultura, por exemplo – muito por culpa da falta de mão de obra. Além disso, o país não pode ignorar que atravessa “uma grave crise demográfica” que se reflete “em zonas extremamente desertificadas e envelhecidas que precisam de sangue novo. [A agricultura] pode ser uma oportunidade para estas pessoas recomeçarem as suas vidas”. Por isso, é “absurdo dizer que estamos a importar escravos para limpar as florestas“, criticou a docente universitária.

Teresa Tito de Morais: “Refugiados podem ter efeito positivo no setor agrícola”

Desafiada a comentar a controvérsia causada pelas palavras de António Costa, também a presidente do Conselho Português para os Refugiados começou por lembrar o currículo de António Costa na defesa dos direitos dos refugiados – o secretário-geral do PS, então presidente da Câmara de Lisboa, teve um papel determinante na construção do Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas, recordou Teresa Tito de Morais.

De resto, Teresa Tito de Morais não tem dúvidas: “As palavras de António Costa foram descontextualizadas. Não tenho dúvidas da sensibilidade e preocupação de António Costa para com a questão dos refugiados”. A presidente do Conselho Português para os Refugiados defende, tal como Constança Urbano de Sousa, que as autoridades portugueses devem eleger como prioridade o “ensino da língua portuguesa, a colocação das crianças nas escolas e a atribuição de um trabalho adequado às pessoas e aos sítios para onde elas vão“.

Mesmo no setor agrícola, como sugeriu o líder socialista? Sim, se for um trabalho adequado “ao perfil da pessoa” em questão. E Teresa Tito de Morais não esconde que “aproveitação de mão de obra” que não existe em Portugal poderá “ter um efeito positivo no setor agrícola”.

O mais importante, insistiu Teresa Tito de Morais, é garantir que, através do ensino e do emprego, os refugiados se consigam integrar e “conhecer a cultura do país” que será o seu durante tempo indeterminado. É que neste momento não se avista, “a curto-prazo, uma solução para a resolução do conflito sírio. Não sabemos quando vai acabar”, lamentou.

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