António Costa acredita que os portugueses não vão misturar eleições com o caso que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates e que, pelo contrário, vão condenar os adversários que tentem misturar os dois assuntos.
Em declarações em Braga, à SIC, António Costa disse que “as pessoas separam bem o processo de decisão que têm em mãos e que será decidido daqui a um mês e o caso judiciário que tem uma relevância mediática grande. (…) Ninguém faz confusões entre uma matéria e outra. São dois processos em paralelo”. Mais tarde, à RTP, acrescentou que não espera ver os restantes candidatos usarem o caso para prejudicar o PS, mas admite que pode haver exceções.
“Infelizmente não posso falar porque há sempre aqueles que lhe puxam o pezinho para o chinelo. [Mas também] acho que os portugueses são suficientemente maduros para sancionar aqueles que fazem aproveitamentos políticos daquilo que é absolutamente inadmissível”, disse o líder do PS.
Desta vez, António Costa tentou não só separar as águas entre a justiça e a política como também passar a ideia que quem trouxer o assunto para a campanha das eleições legislativas será prejudicado por isso. E deu como exemplo o caso de Paulo Rangel que, na semana passada tinha deixado no ar a ideia que se o PS fosse governo, José Sócrates não seria investigado. O líder socialista lembrou que esse discurso foi “um comportamento unanimemente condenado”, mas admite que poderão aparecer mais.
“Haverá comportamentos marginais como o dr. Paulo Rangel. Mas os portugueses sabem separar as águas. E a melhor garantia que têm para o Estado de direito é uma escrupulosa separação de poderes. Ninguém está a cima da lei e ninguém está abaixo da lei”. Uma expressão, aliás, que Costa já tinha utilizado esta semana numa conversa com internautas no Facebook.
E por ‘ninguém’, Costa especificou que se tratam de todos aqueles que têm funções políticas. “Quem tem funções políticas não goza de nenhuma imunidade especial e se cometer algum ilícito, a justica agirá e isso é importante para os cidadãos. Não é por ser presidente da Câmara, primeiro-ministro ou Presidente da República, o que for, que está acima da lei. Não temos de viver num Estado de suspeição uns dos outros”. Uma tese que é contrária àquela de José Sócrates, que diz que é um “preso político” como este é um processo político para prejudicar o PS.
A reação foi centralizada em António Costa. O Observador tentou contactar vários dirigentes e socialistas próximos de António Costa, poucos atenderam ou responderam a mensagens e ninguém quis comentar a saída do ex-primeiro-ministro nem as implicações que pode ter na campanha para as eleições legislativas.
A notícia surgiu num dia que para o candidato socialista tinha começado logo de manhã no “comboio da confiança”. Foi assim que chamou à viagem que fez de Lisboa ao Porto, com várias paragens pelo caminho. “Confiança” tem sido o lema que a candidatura do PS tem tentado vincar para esta reta final da campanha.
As relações entre os dois socialistas não têm sido das mais próximas nos últimos tempos. Depois de Costa ter enviado uma SMS a pedir aos socialistas que separassem as águas entre a justiça e a política, a relação ficou ainda mais distante, com vários órgãos de comunicação social a noticiar que a iniciativa do líder do PS não tinha caído bem a José Sócrates. António Costa foi visitar uma vez José Sócrates à prisão, mas não tencionava visitá-lo novamente, pelo menos foi o que afirmou no mês de agosto numa entrevista ao jornal i.