A imagem esteve na capa de quase todos os jornais do mundo. Provocou choque, emoção e discussão. “É uma imagem iconográfica e muito mimética e isso resulta sempre para provocar emoções. As pessoas prestam sempre atenção a uma imagem mimética, que permite a identificação”, diz Manuel Almeida, fotógrafo da Agência Lusa. “A fotografia provoca uma identificação, todos nós temos filhos”, frisa.
“Existem muitas fotografias que ganharam quer o Pulitzer, quer o World Press Photo, que retratam o mesmo: crianças em desespero a serem socorridas por outros em desespero. O facto de todas essas fotografias terem crianças ainda conseguem suscitar emoções nas pessoas e nas redações”, analisa Manuel Almeida.
“Quando vi a foto senti raiva, angústia, impotência. O que é que se pode fazer? Pensei logo na importância do meu trabalho e inevitavelmente relacionei a imagem com a minha própria realidade. Quando se é pai e mãe é inevitável. Eu digo sempre que prefiro ser um bom pai a bom fotojornalista. Esta fotografia põe essas duas realidades em choque.” As palavras são de Rodrigo Cabrita, fotojornalista no jornal i.
“Esta é a fotografia do ano. Não tenho dúvidas de que vai ganhar o World Press Photo”, afirmou Rui Ochôa, fotojornalista do Expresso. Prémios e distinções à parte, o mais importante é a “mensagem poderosa” que ela transmite, porque “retrata os atos dos homens, mantendo-se fiel à mensagem. A fotografia não tem ruído, só se vê a criança e o soldado turco. Não há multidão, não há choro. Mas há um silêncio brutal na fotografia que nos permite refletir”, afirma Ochôa.
Na sua opinião, “a fotografia tem o poder de sensibilizar, chamar à atenção de pessoas que estavam de costas viradas para este problema”. E representa própria essência do fotojornalismo: “nos tempos em que estamos a viver, esta fotografia representa o triunfo da verdade. Fala-se muito em photoshop, mas isto é que é a verdade pura e dura. É a realidade, no fundo. Imagens como esta mostram que a fotografia ainda pode ser usada para nos consciencializar, e nesse sentido é fotografia militante, no bom sentido,” concluiu Rui Ochôa.
A crise dos refugiados na Europa e as questões levantadas pelas migrações foram a notícia do dia mas não são notícias de hoje. E as imagens que as retratam também não. Tanto Rodrigo Cabrita como Manuel Almeida referiram outras imagem marcantes. Cabrita relembrou a foto que fez capa do jornal onde trabalha no passado 21 de abril, um homem a ser resgatado no Mediterrâneo em 2001. Manuel Almeida relembrou a fotografia premiada com o World Press Photo 2014 onde se vislumbram na penumbra, as silhuetas e migrantes africanos na costa do Djibouti a tentar apanhar a rede de telemóvel da vizinha Somália.